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Larissa Almeida
Publicado em 26 de junho de 2025 às 05:30
O anúncio de dois vestidos para praia chamou a atenção da professora Lúcia Morais, 55 anos, enquanto verificava o feed do Instagram. Além da beleza, o preço acessível fez com que ela se interessasse e, em um impulso, decidisse comprar as peças de roupa. Após ser direcionada para a página e fazer a aquisição dos produtos, não estranhou nada. Só 20 dias depois, quando não recebeu nenhuma atualização sobre o pedido, a ficha de que havia sido vítima de um golpe caiu. >
“Só percebi que era golpe depois que o site sumiu. Eu tentei encontrar [a loja] de outras maneiras, buscando pelo nome, por um nome diferente e até o vestido em outro site, mas não achei. Foi então que a ficha caiu. Fiz a denúncia, mas ficou por isso mesmo, não consegui reembolso, nem nada”, conta. >
O prejuízo da professora foi de R$ 130, além do frete. Para além do financeiro, ela frisa que a fraude causou um impacto emocional. “Me senti lesada, impotente, sem ter a quem recorrer e o que fazer. Simplesmente paguei por algo que eu não tive, então, me senti lesada mesmo”, enfatiza Lúcia. >
Até o momento, não há nenhum tipo de proteção para golpes similares, porque a ação dos fraudadores tem sido sofisticada nas redes sociais. “O modo como essas falsas lojas atuam nas redes sociais, geralmente, dificultam muito a localização do responsável por esses golpes, pois a maioria não tem uma duração prolongada, surgindo e desaparecendo muito rápido, utilizando inteligência artificial e contas com dados fraudulentos”, explica Ivan Pires, advogado especialista em Direito do Consumidor. >
Os anúncios nas redes sociais oferecem produtos a preços abaixo do mercado, como eletrônicos ou roupas, com uso de impulso patrocinado e, por vezes, usando quase o mesmo endereço de sites de marcas conhecidas, mudando apenas letras ou números, para se tornarem imperceptíveis – m3rcad0livre.com.br e arrezzo.com, por exemplo. >
A autônoma Juliana Pereira, 30 anos, foi vítima de um golpe da falsa loja no Instagram que lhe rendeu um prejuízo de R$ 90. Tratava-se de um anúncio de console de jogos portátil, que ela comprou logo que viu para garantir o preço baixo. Apenas dias depois notou que havia algo errado com o pedido. >
“Não teve nenhuma confirmação depois da compra, não chegou nada no e-mail e eu achei estranho. Esperei três dias e então percebi que foi um golpe, porque resolvi entrar no site. Quando eu acessava, a página dizia que estava indisponível. Eu não conseguia acessar o site de jeito nenhum, era como se ele tivesse sido desativado”, relata. >
Com o site fora do ar, ela buscou de imediato o banco e solicitou um reembolso, explicando que havia sido vítima de uma fraude. Precisou cancelar o cartão para ter o dinheiro de volta. Já com a loja, não conseguiu mais nenhum contato. “Eu denunciei a página pelo banco. Não tive um prejuízo maior, mas deu aquele sentimento horrível de desespero, mesmo não sendo um valor tão alto. Fiquei agoniada e desesperada, porque foi uma sensação de impotência”, ressalta a autônoma. >
Além dos golpes sofridos por Lúcia e Juliana, outros golpes têm sido relatados por usuários do Instagram. Um dos mais famosos é o das lojas de lanches – hambúrguer, pizza, sushi, açaí – que afirmam ser uma rede de franquias nacional. Com supostas lojas em todo o Brasil que sempre estão a poucos quilômetros do cliente, esses estabelecimentos só aceitam pagamento via Pix e, depois que o pedido é feito, somem – e a comida não chega nunca. >
No dia 22 de junho, uma soteropolitana registrou ocorrência contra uma dessas supostas lojas no Reclame Aqui. “Infelizmente, caí em um golpe. Não acredito até agora, porque tem a página de uma digital influencer fazendo a propaganda. Eu fiz o pedido pelo Instagram, fiz o cadastro, me empolguei com a promoção de R$ 59,90 por duas pizzas e refrigerante. Acabei gastando o que nem podia e, quando percebi o golpe, vi que a página não tinha endereço ou telefone. Fiquei chateada”, disse. >
Outra baiana, natural de Camaçari, relatou um golpe sofrido por uma suposta livraria, que estava presenteando com um brinde quem respondesse o formulário elaborado. Após preencher os dados, ela foi informada sobre a necessidade de pagamento do frete no valor de R$ 44,01, que deveria ser feito via Pix. Depois que realizou o pagamento, estranhou o fato de não ter recebido uma confirmação por e-mail. >
“Entrei em contato com meu banco, que não "pôde" fazer nada. [Vinte dias depois], recebi [uma mensagem no] Whatsapp dizendo que minha encomenda ainda se encontra nos correios, e caso eu pague uma taxa extra, posso recebê-lo. O site possui o mesmo design do Correios, ainda com foto do suposto item e meu nome completo nele, sendo inclusive rastreado através do meu CPF”, detalha. >
O advogado Ivan Pires orienta que, ao se ver como vítima de golpes como esse, é importante registrar um boletim de ocorrência, guardar os comprovantes de eventuais pagamentos realizados, guardar conversas, negociações, fotos e informações dos perfis. >
“Além disso, caso tenha realizado algum pagamento por meio de PIX, [é importante utilizar a ferramenta disponibilizada pelo Banco Central: MED – Mecanismo Especial de Devolução”, finaliza. >