Tudo o que se sabe sobre a greve de grupo da PM na Bahia

CORREIO fez um resumo sobre o que se sabe até agora sobre a situação

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  • Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2019 às 11:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

Desde que um grupo de policiais militares da Bahia anuciou uma greve por tempo indeterminado circulam informações desencontradas nas redes sociais sobre ataques em Salvador e falta de policiais nas ruas. O CORREIO fez um resumo sobre o que se sabe até o momento.

Esta matéria foi atualizada na manhã desta sexta-feira (11). 

Dom Murilo pede diálogo entre as partes No Vaticano para a cerimônia da canonização de Irmã Dulce, Dom Murilo Krieger falou sobre a greve dos policiais ao jornalista do CORREIO Jorge Gauthier. O arcebispo primaz do Brasil pregou diálogo entre os grevistas e representantes do governo. "Foram duas as greves que eu pude fazer a minha parte, aquilo que estiver ao meu alcance, farei. Às vezes, em situação assim, não se trata de fazer grandes discursos. Se trata de ouvir um lado, ouvir o outro, ver o que cada um pode ceder", disse.

"A gente tem que ser uma presença que une e ensine as pessoas a escutar o outro, a ouvir a opinião do outro, que é rejeitada em princípio. Porque às vezes o outro não tem toda a verdade, mas tem boa parte dela, e convém escutar", completou. Como estão as negociações entre governo e grevistas?Uma reunião entre o governo do estado e representantes dos policiais que anunciaram greve terminou sem acordo nesta quinta-feira (10). Participaram do encontro, que aconteceu na Assembleia Legislativa da Bahia, a secretária de relações institucionais do estado, Cibele Carvalho, representando o governo, e o deputado estadual Soldado Prisco, como representante dos policiais.A reunião foi convocada pelo presidente em exercício da Assembleia Legislativa, Nelson Leal, que indicou o deputado estadual Alex Lima para liderar a intermediação.

Segundo o coordenador da Associação de Policiais e Bombeiros e de seus Familiares do Estado da Bahia (Aspra) em Ilhéus, Augusto Júnior, um dos líderes do movimento, o governo não foi para o encontro com qualquer proposta para a classe.

"Queriam que depois da entrega da pauta, a gente parasse com o movimento para que depois o governo desse um retorno. A gente não pode parar", disse o sindicalista. Ainda segundo a liderança, a proposta foi levada aos policiais em greve e rejeitada. "Estamos reunidos nas sedes da Aspra em vários pontos do estado, além da Adelba em Salvador", completou ele. Há policiais reunidos nas cidades de Ilhéus, Juazeiro e Feira de Santana, dentre outras.

Procurado após a reunião, o Governo do Estado não respondeu aos questionamentos do CORREIO.

Existe ligação entre os ataques e os grevistas? Segundo o governo, um ataque a ônibus no bairro de Itacaranha, na noite dessa quinta-feira (11), foi comandado por quatro policiais militares ligados ao movimento que busca implantar uma greve comandado pela Associação dos Policiais e Bombeiros e de seus Familiares do Estado da Bahia (Aspra). Teve troca de tiros e um policial ficou ferido. (Foto: Leitor CORREIO) Durante a abordagem, segundo relatam testemunhas, os homens dispararam tiros e assustaram quem passava pelo local. "Eu estava chegando em casa quando vi três caras encapuzados, em três motos, dando voz de assalto. Pararam o ônibus no meio da pita e o povo começou a correr. O azar deles é que vinha uma viatura no sentido Paripe e foi atrás deles", disse um homem que preferiu não se identificar.

Horas antes, um grupo de homens armados interceptou o veículo quando ele passava pela Rua Luiz Régis Pacheco, uma das principais vias do bairro, e fez disparos contra o carro com os passageiros dentro. 

Um morador registrou o momento em vídeo. Os homens atiraram no para-brisa, nas janelas e nos pneus do coletivo e fugiram depois do ataque. O motorista do ônibus conseguiu seguir com o veículo por mais alguns metros, parou em uma esquina e os passageiros desceram, abalados. A ação dos criminosos foi similar à que vem sendo praticada nos últimos dias, com outros coletivos, em outros pontos da cidade. 

“Secretário defendemos que atos ilegais devem ser punidos. Se tem provas, autores devem ser responsabilizadas e não o movimento por melhorias para a categoria”, afirmou o deputado estadual soldado Prisco, coordenador geral da Aspra.

Alguém ficou ferido nos ataques? Na noite desta quinta-feira (10), em Itacaranha, na Avenida Afrânio Peixoto (Suburbana), no Subúrbio Ferroviário, o soldado Anselmo Souza dos Prazeres, lotado na 18ª CIPM (Periperi), foi baleado em uma troca de tiros. Segundo informações da Secretaria da Segurança Pública (SSP), ele estava envolvido nos ataques e tentava fugir. (Foto: Divulgação/SSP) No posto policial da Polícia Civil, há registro de que o policial estava passando pelo local quando foi reconhecido e levou um tiro nas nádegas. Ele não corre risco de morte. Ainda segundo a unidade, ele foi socorrido pela própria polícia. Os outros três homens envolvidos na ação conseguiram fugir.

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Está tendo greve? O comandante da Polícia Militar, coronel Anselmo Brandão, garante que todos os policiais continuam trabalhando. Em entrevista à TV Bahia nesta quinta-feira (10), ele afirmou que apenas cinco PMs faltaram ao trabalho. "A nossa tropa está trabalhando e, aqui na capital, a nossa tropa reconheceu que precisa prestar serviço à sociedade. Tivemos apenas cinco faltas na capital", disse o coronel.

Ele comentou também sobre os ataques que continuam na cidade. "É um terror que nós estamos combatendo. Nós fizemos algumas intervenções. O mais importante é a sociedade saber que a nossa tropa não parou", completou.

Os ataques continuam em Salvador? No bairro do Rio Sena, um ônibus ficou atravessado na pista no início da manhã desta quinta-feira (10). Os suspeitos fugiram com as chaves do veículo. Na noite dessa quarta-feira (9), um outro ônibus ficou atravessado na Avenida Paralela. 

Na mesma noite, uma loja de artigos de uma bomboniere foram arrombadas e saqueadas no bairro de Tancredo Neves. (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Uma viatura com PMs também foi atacada na noite de ontem no bairro de Tancredo Neves. Policiais da 48ª Companhia Independente de Polícia Militar (CIPM) foram chamados para uma ocorrência e, ao chegar, foram atacados por um grupo. Os depoimentos, segundo a SSP, apontam para a participação de integrantes do movimento que convocou greve.

No final da tarde, houve boatos de arrastão na Estação da Lapa e no Shopping Piedade, mas na verdade houve uma confusão entre dois homens que acabou gerando o pânico coletivo. Segundo a assessoria do terminal, tudo começou quando dois homens se desentenderam na comunidade que fica ao lado da estação. Um deles atirou contra o outro. O barulho de tiros acabou espalhando o medo nas proximidades. Quem estava dentro da estação e nas imediações do shopping viu as pessoas correndo e também correu, o que gerou um pânico coletivo. Algumas lojas baixaram as portas durante a confusão. (Foto: Reprodução) Alguém já foi preso?Um policial militar, que estava fora de serviço, foi detido com duas armas e colete balístico, em uma motocicleta, próximo do Shopping Paralela. A Secretaria da Segurança Pública da Bahia (SSP-BA) informou que o PM foi conduzido até a Corregedoria da corporação, no bairro da Pituba, onde prestou esclarecimentos.

Ainda de acordo com informações da SSP, as equipes do Bope voltavam de uma reunião de alinhamento quando avistaram um homem parado e agachado na Avenida Tamburugy, ao lado de uma moto, por volta da meia noite.

"As equipes se aproximaram e fizeram a abordagem. Não houve resistência e o PM foi conduzido sem maiores problemas. Naquela mesma região, um pouco mais cedo, um ônibus tinha sido parado por uma dupla, em uma motocicleta. O veículo acabou atravessado na pista. Diante disso, estamos atentos com situações suspeitas", contou o comandante do Bope, major Clédson Conceição. 

Secretário falaO secretário de Segurança Pública, Maurício Barbosa, falou da paralisação nesta quinta. Em entrevista ao vivo à TV Bahia, ele criticou Marco Prisco, coordenador-geral da Aspra, afirmando que o deputado estadual está espalhando áudios "aterrorizando a população". Barbosa também associou os ataques que aconteceram desde o dia do anúncio de paralisação pela Aspra ao movimento grevista.

"Inexplicamente, ônibus são colocados enviesados nas pistas logo após a assembleia... Temos imagens de policiais que são colocados, sobre essa situação, da viatura na Gal Costa, que foram tirados... E colocaram no papel (em depoimento) a presença de pessoas que estão vinculadas ao movimento paredista", diz. "São ações que foram repetidas nas greves de 2012 e 2014. É muito importante que se venha a público para dizer que depois da dita decretação da paralisação essas coisas inexplicavelmente voltaram a acontecer".

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Quem decretou greve? Um grupo de policiais militares da Bahia decretou greve por tempo indeterminado em assembleia nesta terça-feira (8). O movimento é liderado pela Associação dos Policiais e Bombeiros e de seus Familiares do Estado da Bahia (Aspra).

“A gente deu um prazo de cinco anos, período em que a gente está tentando conversar com o governador. Todas as entidades que são responsáveis por essa questão foram notificadas, receberam ofício com indicativo da possibilidade de paralisação, mas, infelizmente, não atendeu a esse pedido. Inclusive, foi dito que hoje era o dia D, o último dia em que ficaríamos esperando que o governo nos chamasse para negociar”, afirmou ontem o coordenador regional da Aspra, Augusto Araújo Júnior.

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O que diz a SSP? A Secretaria da Segurança Pública (SSP) diz que se trata de um "pequeno grupo" dentro da corporação, e informa que a situação é monitorada. A Polícia Militar divulgou nota afirmando que os PMs que não comparecerem para trabalhar responderão "conforme Legislação Militar".

E a Aspra, um dia depois, disse o quê? O coordenador regional Augusto Araújo Júnior falou hoje com o CORREIO e contestou a versão do comandante geral da PM. De acordo com ele, o posicionamento da entidade permanece o mesmo desde que o grupo decretou greve. “O comandante é governo. Cabe a ele dizer que não tem movimento. Se as pessoas estão achando que esses furtos que estão acontecendo e esses índices de homicídio alto à noite são normais, então é verdade o que ele diz”, declarou. Nesta terça-feira (8) e quarta-feira (9), Salvador e Região Metropolitana tiveram 10 homicídios somando os dois dias – seis na terça, quatro na quarta. Destes, nove aconteceram após o grupo de PMs decretar a greve. A média de homicídios por dia na capital e RMS é de 3,9, de acordo com o especial Mil Vidas, levantamento feito com base nos boletins diários da SSP.

Houve ataques em Salvador? Algumas ocorrências foram registradas em Salvador entre a noite dessa terça-feira (8) e a madrugada desta quarta-feira (9). 

Uma agência do banco Bradesco, localizada na Avenida Barros Reis, amanheceu com as portas de vidro quebradas. A unidade teve a porta principal e duas laterais de vidros apedrejadas pelos bandidos.  (Foto: Eduardo Dias/CORREIO) Em Cosme de Farias, 31 pessoas tentaram levar produtos de um mercado e uma loja. Eles foram presos em flagrante por equipes da 58ª Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM/Cosme de Farias) e das Rondas Especiais (Rondesp) Atlântico.

O CORREIO também recebeu denúncias de arrombamento e vandalismo nos bairros da Liberdade, Caminho de Areia e São Caetano.

Uma das situações mais graves foi registrada na Estrada das Barreiras, onde pelo menos 10 estabelecimentos foram arrombados e algumas lojas acabaram atingidas por tiros. Clique aqui para ler a reportagem sobre os ataques na região Os autores já foram identificados? Ao menos dois homens suspeitos de participar do ataque a uma agência bancária em Caminho de Areia, na Cidade Baixa, foram identificados. Os nomes dos envolvidos não foram divulgados, mas eles foram reconhecidos por meio de imagens do sistema de videomonitoramento da SSP. Clique aqui para ler a reportagem e ver o vídeo Além da análise das imagens, os projéteis usados nos atos de vandalismo vão ser analisados pelo Departamento de Polícia Técnica (DPT). De acordo com a SSP, não houve furto ou roubo em nenhuma das ocorrências registradas em bancos. Trabalho da perícia (Foto: Divulgação/SSP) Segundo a SSP, as investigações apontam que os ataques foram realizados para gerar a sensação de insegurança na cidade. Equipes dos departamentos de Polícia Metropolitana (Depom) e de Inteligência Policial (DIP) buscam testemunhas das ações de vandalismo.

"Não temos ocorrências desta natureza e, esta coincidência com os acontecimentos, logo depois do anúncio de greve, é determinante para o início das apurações", explicou o delegado-geral da Polícia Civil, Bernardino Brito.

Os ônibus estão circulando normalmente?Os ônibus de Salvador continuam rodando normalmente após anúncio de greve. Segundo Fábio Primo, dirigente do Sindicato dos Rodoviários, a categoria está atenta para saber o nível de adesão à paralisação e, por enquanto, tudo segue normal.

"Vamos aguardar para saber a decisão mesmo da tropa nas ruas. Não sabemos qual vai ser a posição da maioria", afirmou Primo ao CORREIO. 

As escolas estão funcionando? Em São Caetano, as aulas até foram suspensas na quarta-feira (10). A Escola Municipal Batista de São Caetano, além do Colégio Estadual Professor José Barreto de Araújo Bastos amanheceram de portas fechadas. Assim como o Carlos Alberto Cerqueira, colado com o Colégio Estadual Pedro Ribeiro - que té chegou a abrir, mas, às 10h, já havia liberado os estudantes.

De acordo com a Secretaria de Educação do Estado da Bahia (SEC), as aulas estão mantidas em todas as unidades. Entretanto, o órgão confirma que em algumas escolas, como o Colégio Estadual Carneiro Ribeiro Filho, na Soledade, foi registrado baixa frequência dos estudantes. (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Quem está na Adelba? Segundo o comandante da Polícia Militar da Bahia, o coronel Anselmo Brandão, há cerca de 40 PMs que estão na sede da Adelba, clube onde o movimento grevista tem se reunido. Esses policiais estariam fora do horário de serviço. A corporação monitora se há faltosos ou não quando os policiais se apresentam aos comandantes de cada batalhão ou companhia. 

“Esses policiais (que estão no clube) estão se solidarizando com o movimento, que não é crime. Não estão aquartelados, sem sair para trabalhar”, completou. 

Ainda de acordo com o comandante, a maioria dos ataques a lojas e agências bancárias que foi registrada desde a noite de terça, em alguns bairros de Salvador, foi provocada pelo “oportunismo”. “Foi devido às fake news e à forma como o deputado (Marco Prisco, um dos líderes do movimento), de maneira irresponsável, transmitiu à sociedade. Assim, a bandidagem, ouvindo isso, começou a fazer alguns saques”, disse. 

Assim como a PM, o Corpo de Bombeiros também disse que não registrou faltas nesta quarta-feira. 

Através da assessoria, a Procuradoria Geral do Estado (PGE) informou que, até o momento, não pretende acionar a Justiça para que a greve seja declarada ilegal – isso porque, para a Secretaria da Segurança Pública do Estado (SSP-BA), não há paralisação. 

Procurado pelo CORREIO, o Ministério da Justiça, que, em outras greves policiais no estado, liberou a ajuda de militares da Força Nacional para ajudar na segurança, disse que não recebeu nenhuma solicitação sobre o assunto.  

O que diz o Governo do Estado sobre a greve? O governador Rui Costa criticou nesta quarta-feira (9) o deputado estadual e  coordenador-geral da Associação dos Policiais e Bombeiros Militares do Estado da Bahia (Aspra-Ba), Marco Prisco, que liderou o grupo de policiais militares que anunciou greve da categoria, por tempo indeterminado, na terça-feira (8).

"Ele só pode ser aliado eventualmente de traficantes e criminosos. Me desculpe. Eu nasci na favela, na pobreza, mas aprendi com minha família a ter ética, a ter honradez e a ter lado. E o meu lado não é o crime, do banditismo, da chantagem e nem da coação  da população. O estado não ficará de joelho para um marginal".

O governador disse que a cidade está normal, que não viu nenhuma loja fechada e que todos os ônibus estão nas ruas. "Se alguém está divulgando que vai tocar fogo em ônibus com criança, você pai não vai ficar assustado? Então a sociedade tem que ficar do lado de quem? Do criminoso que está ameaçando tocar fogo em ônibus ou do lado da população? O fato é que nenhum policial dos 32 mil aderiu a isso. Devíamos ter uma condenação expressiva da sociedade a esse tipo de manipulação política partidária medíocre, de constranger, ameaçar e colocar as pessoas reféns", ressaltou o governador.

Apoio do sindicato dos policiais civis O Sindicato dos Policiais Civis da Bahia (Sindpoc) divulgou nota nesta quarta-feira apoiando o movimento de greve. O presidente do Sindpoc, Eustácio Lopes, afirmou que se solidariza com a Aspra e que essa foi a "alternativa que restou aos militares para reivindicar suas demandas". 

Diz ainda que não só os PMs, mas também os policiais civis, estão desde o ano passado apresentando demandas das categorias. "O Governo precisa abrir um canal de diálogo e estabelecer uma linha de negociação, pois quem sofre com o movimento grevista é a sociedade.  Além disso, consideramos que a Aspra tem a legitimidade para falar em nome dos policiais militares da Bahia”, diz o presidente do Sindpoc.