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Hilza Cordeiro
Publicado em 11 de setembro de 2020 às 18:10
- Atualizado há 2 anos
Sem prefeito há três semanas, a cidade de Olindina, no Norte da Bahia, vive um impasse porque ninguém da linha de sucessão quer assumir a prefeitura desde que o prefeito foi internado por covid-19. A história provinciana ganhou mais um capítulo, nesta sexta-feira (11), quando o vereador Albérico Ferreira dos Reis, que é presidente da Câmara de Vereadores, terminou sendo agredido depois de ir até a casa do vice-prefeito, Carlos Ubaldino Filho, o Carlinhos, para entregar um ofício pedindo que ele assuma a gestão. >
Ao chegar na residência, o vereador relata que foi recebido pelo pai do vice-prefeito, o ex- deputado estadual Carlos Ubaldino, que teria ficado revoltado e chutado Albérico, dizendo que o seu filho não assinaria o documento porque estava isolado. O vice-prefeito havia entregado ao legislativo um atestado médico de “sintomas gripais” e solicitou afastamento, o que o impossibilitaria de assumir o cargo. A Câmara Municipal de Vereadores, no entanto, decidiu na quinta-feira (10), que o pedido de afastamento de Carlinhos era inválido.>
Ainda segundo Albérico, o pai do vice-prefeito teria dado um murro na porta do seu carro. O vereador abriu um boletim de ocorrência na delegacia do município contra o ex-deputado.“Ele me agrediu, me falou um monte de coisas. O meu carro tá machucada a porta porque ele deu um murro e as providências estão sendo tomadas porque ele vai ter que responder pelo que ele fez", diz o vereador em um vídeo gravado em frente à delegacia. O CORREIO tentou contato com a unidade policial para entender detalhes da ocorrência, mas ninguém atendeu às chamadas. >
Em nota enviada à reportagem, a comissão executiva municipal do Partido Progressista (PP), mesma legenda do prefeito da cidade, Vanderlei Caldas, repudiou "as agressões descabidas do pastor evangélico e ex-deputado Carlos Ubaldino de Santana” ao vereador Albérico. A comissão lembrou que o ex-deputado foi denunciado, em 2016, pelo Ministério Público Federal (MPF) por desvio de verbas e fraude em licitação, numa ação da Operação Águia de Haia da Polícia Federal, e também em 2019, por improbidade administrativa.>
A reportagem tentou contato tanto com o vice-prefeito quanto com o ex-deputado para solicitar suas versões sobre o fato, mas todos os telefones de ambos deram na caixa postal.>
Relembre a história Prefeito de Olindina, Vanderlei Caldas pediu licença do cargo após ser infectado por covid-19 (Foto: Divulgação/Prefeitura de Olindina) No dia 21 de agosto, o prefeito da cidade, Vanderlei Caldas (PP), foi transferido para Salvador, onde ficou entubado por oito dias na UTI do Hospital São Rafael, e não há previsão de alta, apesar de não mais precisar de respiradores, segundo o deputado estadual baiano Aderbal Caldas, que é irmão do gestor. Enquanto isso, Olindina está nas mãos do povo, sem gestor municipal, porque todos na linha sucessória não querem assumir o cargo, pois ficariam inelegíveis para as próximas eleições, já que são pré-candidatos a vereador. >
Formalmente, o prefeito só foi licenciado do cargo na última sexta (4), após a Câmara de Vereadores aprovar a solicitação, por unanimidade, mediante um relatório médico. Na prática, a cidade já estava sem prefeito bem antes disso, já que Caldas está no São Rafael há quase três semanas. Contudo, ele cumpriu o prazo legal de 15 dias para oficializar seu afastamento. >
O grande problema é quem assumirá essa função até que o estado de saúde dele melhore. Como rege a Lei Orgânica do Município, que discorre sobre essas particularidades de sucessão, o próximo deveria ser o vice-prefeito, Carlos Ubaldino Filho - mais conhecido como Carlinhos. Porém, Carlinhos tem outras pretensões e quer ser candidato a vereador novamente. Pela lei eleitoral, aqueles que ocuparam cargos na administração ou representação pública seis meses antes do pleito não podem ser candidatos.>
Carlinhos, precavido, inclusive já entregou um atestado médico ao legislativo alegando que está com “sintomas gripais”, portanto, estaria impossibilitado de exercer o cargo e pediu um afastamento de 15 dias, como informou o vereador Júnior de Morgan. O segundo a assumir a cadeira de prefeito seria o presidente da Câmara de Vereadores, Albérico Ferreira dos Reis. Já terceira possibilidade seria o vice-presidente da Câmara, o vereador José Dantas, ou Bezinho, como é conhecido. Porém os dois também não querem ocupar o cargo, pois desejam concorrer como vereadores por mais um mandato - ou até mais.>
Como a lei municipal não discorre sobre os outros sucessores, os edis tentaram propor uma solução numa reunião informal, que fizeram na noite de quarta (9). Porém, não houve consenso. “Como a Lei Orgânica do Município é omissa, basta a Câmara de Vereadores dar a posse temporária à pessoa que tiver essa competência”, explica o advogado eleitoral Jaime Barreiros, que é analista judiciário do Tribunal Regional Eleitoral da Bahia (TRE-BA). O advogado informou ainda que os três estão no direito de recusar a assumir o cargo.>
Proposta de emenda à Lei Orgânica do Município A aposta dos legisladores é aprovar uma emenda à Lei Orgânica para estabelecer quem seriam os outros sucessores. O mais provável, segundo o vereador Ninho de Joilson, é que os próximos sejam a primeira secretária, a vereadora Josefa, e o segundo secretário, ele próprio.>
“Eu também sou pré-candidato, mas se não encontramos uma harmonia, eu me sacrifico, porque a população não pode pagar o preço”, promete o vereador Ninho, que está no seu segundo mandato. A previsão, segundo ele, é que até sexta-feira (11) o novo sucessor seja convocado. Para aprovar a emenda, dois terços dos 11 camaristas têm que concordar. >
Nesse meio tempo, não há representante executivo oficial da cidade. “É preocupante porque existem convênios e contratos a serem assinados, estamos no meio de uma pandemia e, até o momento, o vice não pisou na prefeitura após o afastamento do prefeito”, desabafa o vereador Júnior.>
A boa notícia é que, pelo menos, não houve consequência de assistência à população frente a pandemia da covid-19. “Até agora, não teve impacto em termos de assistência à população, porque as licitações já tinha sido feitas e empenhadas. Então não houve falta de material”, previne a secretária de saúde de Olindina, Sheila Matos.>
No entanto, o sentimento da população é de preocupação. “A gente fica inseguro, porque tem que ter uma pessoa na frente para comandar a cidade. Estou na expectativa de que não dure muito tempo, se não as coisas podem piorar”, relata Andreza Nascimento, 20 anos, moradora do município. >
De acordo com o último boletim da secretaria de saúde de Olindina, são 230 casos do novo coronavírus e dois óbitos pela doença. Ao menos 10 casos foram encaminhados para tratamento intensivo em Salvador, já que não há leitos de UTI na cidade.>
Como o assunto tem cunho político, a União dos Municípios da Bahia (UPB-BA) disse não ter legitimidade para comentar o assunto. A entidade informou não ter conhecimento sobre situação semelhante em todo o estado da Bahia. O presidente da Câmara, vereador Albérico, não respondeu à reportagem até o fechamento desta matéria.>
Veja outros prefeitos que também testaram positivo para covid-19 durante essa pandemia:>
Prefeito de Uruçuca - Evandro Pereira de Magalhães - 18 de julho Prefeito de Lençóis - Marcos Airtos - 7 de julho Prefeito de Candeias - Doutor Pitágoras - 15 de maio Prefeito de Água Fria - Manoel Potinha - 9 de julho Prefeito de Juazeiro - Paulo Bonfim - 26 de junho Prefeito de Itaquara - Marco Aurélio Costa - 10 de agosto Prefeito de Licínio de Almeida - Frederico Vasconcellos Ferreira (Doutor Fre) - 6 de agosto Prefeito de Itapitanga - Ró de Beto - 27 de julho Prefeito de São Gonçalo dos Campos- Carlos Germano - 30 de junho Prefeito de Amargosa- Júlio Pinheiro - 7 de agosto Prefeito de Alagoinhas- Joaquim Neto - 8 de julho Prefeito de Wenceslau - Magalhães ("Kaká") - 30 de maio >
*Sob orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro>