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Da Redação
Publicado em 14 de junho de 2019 às 04:43
- Atualizado há 2 anos
O esboço das mudanças nas regras para as aposentadorias, pensões e o acesso a benefícios sociais que foi apresentado pelo governo recebeu mais alguns retoques ontem. Após discussões acaloradas entre deputados integrantes da comissão especial que discute a reforma da Previdência, o relator, deputado Samuel Moreira (PSDB-SP), fez a leitura das 159 páginas do relatório que vai mexer com o futuro de praticamente todos os brasileiros que estão no mercado de trabalho. >
A nova versão da reforma da Previdência prevê um impacto fiscal total de R$ 1,13 trilhão em dez anos, considerando medidas de aumento de receitas propostas pelo relator. A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) endurece as regras para aposentadorias e pensões, além de prever a elevação de receitas para a Previdência, como a majoração de tributos sobre bancos. A versão original da reforma, enviada pelo presidente Jair Bolsonaro em fevereiro, previa uma economia de R$ 1,2 trilhão em uma década.>
Cálculo do benefício Uma mudança importante para o trabalhador, em relação à proposta enviada inicialmente pelo governo: aqueles que ganham acima do salário mínimo passarão a receber 60% da média de suas remunerações ao se aposentarem com até 20 anos de contribuição. Acima desse tempo, haverá incremento de dois pontos percentuais a cada ano. Serão necessários 40 anos de contribuição para chegar a 100%. A proposta, no entanto, mantém a garantia de que todas as aposentadorias serão de pelo menos um salário mínimo.>
O relator Samuel Moreira chegou a cogitar manter a forma de cálculo atual, que exclui da base as 20% menores remunerações recebidas pelo trabalhador ao longo da carreira, mas essa proposta foi deixada de lado pelo alto custo fiscal. Com isso, os benefícios passarão a ter como referência 100% das remunerações do segurado.>
Haverá a opção, porém, de o trabalhador excluir o período de contribuição que resulte em um valor desfavorável. Mas se adotar essa opção, não poderá contabilizar o percentual desse período para chegar aos 100%.>
Abono salarial Alvo de uma das principais quedas de braço entre governistas e oposição na Comissão Especial da Previdência, a mudança de regras para o abono salarial ficou “no meio do caminho” no relatório apresentado. O texto prevê o pagamento do benefício para os trabalhadores que ganham até R$ 1.364,43 mensais, ou 1,4 salário mínimo.>
A proposta original do governo previa que o abono salarial passasse a ser pago apenas para os trabalhadores que recebem o salário mínimo, atualmente em R$ 998. Essa mudança renderia uma economia de R$ 169,4 bilhões nos próximos dez anos. O parecer do relator reduz esse impacto fiscal em R$ 70 bilhões a R$ 80 bilhões.>
A proposta de Moreira não foi suficiente para convencer a oposição. Diversos líderes que discursaram antes da leitura do texto adiantaram que continuarão lutando pela manutenção das regras atuais do abono, que hoje é pago para todos os trabalhadores que recebem até dois salários mínimos por mês.>
Pensões, presos e BPC A regra do cálculo das pensões proposta pelo governo, de 60% do valor da aposentadoria, mais 10% por dependente, foi mantida pelo relator, deputado Samuel Moreira (PSDB-SP). Atualmente, a pensão por morte é paga no valor integral.>
Assim, se o beneficiário tiver apenas um dependente, receberá os 60%; se tiver dois dependentes, receberá 70% - até o limite de 100% para cinco ou mais dependentes. >
O texto avança, porém, ao garantir o pagamento de 100% do benefício quando houver dependente inválido, com deficiência grave, intelectual ou mental. O relatório ainda garante pensão de ao menos um salário mínimo quando essa for a única fonte de renda dos beneficiários.>
O relatório também estabelece que o auxílio-reclusãopara presos poderá ser inferior a um salário mínimo, seguindo o mesmo cálculo das regras para as pensões. >
Como dito no dia anterior, o relatório manteve a regra atual para o Benefício de Prestação Continuada (BPC), pago a idosos e pessoas com deficiência de baixa renda (renda per capita de um quarto do salário mínimo, o equivalente a R$ 249,50) a partir dos 65 anos.>
Fim da compulsória O relatório do deputado Samuel Moreira acaba com a polêmica aposentadoria compulsória usada como punição máxima a juízes e membros do Ministério Público. Hoje, a Lei da Magistratura permite que magistrados e promotores sejam aposentados com salário integral, mesmo em casos de condenação por corrupção. A proposta enviada pelo governo Bolsonaro não tratava especificamente deste assunto. Um juiz se torna vitalício após dois anos no cargo e apenas perde o posto por sentença julgada em última instância.>
Relatório suaviza as regras para a transição Os servidores públicos que ingressaram na carreira até 2003 terão direito a uma nova regra para aposentadoria, disse ontem o relator da reforma da Previdência na comissão especial da Câmara dos Deputados, Samuel Moreira (PSDB-SP). A pedido do governo, a regra será estendida aos trabalhadores da iniciativa privada, que se aposentam pelo INSS. >
Conforme o parecer, os servidores públicos que tomaram posse até 2003 poderão continuar a se aposentar com integralidade (recebendo o último salário da carreira) e paridade (com os mesmos reajustes salariais dos ativos) antes de atingir a idade mínima de 65 anos para homens e 62 para mulheres. Segundo a equipe econômica, a nova regra reduzirá a economia em torno de R$ 100 bilhões em 10 anos.>
Para os trabalhadores da iniciativa privada, o relator manteve as três regras de transição do texto enviado pelo governo. A primeira obedece ao critério da idade mínima, começando com 56 anos (mulheres) e 61 anos (homens), subindo gradativamente até atingir 65 anos (homens) e 62 anos (mulheres) em 2031. A segunda é o sistema de pontuação que soma tempo de contribuição (35 anos no caso dos homens e 30 anos, das mulheres) e idade, começando com 86/96 em 2019 até alcançar 100/105 em 2033.>
A terceira regra estabelece que o trabalhador que estiver a dois anos de cumprir o tempo mínimo de contribuição (30 anos para mulheres e 35 para homens) poderá aposentar-se sem idade mínima, mas com cálculo pelo fator previdenciário, que reduz o benefício.>
Negociação pode incluir estados e municípios O relator da reforma da Previdência, deputado Samuel Moreira (PSDB-SP), disse ontem que o parecer apresentado por ele poderá passar por mudanças antes mesmo da votação na comissão especial da Câmara dos Deputados. Segundo ele, a inclusão dos servidores estaduais e municipais na reforma continua em negociação. >
“Continuamos trabalhando para verificar como Estados e municípios serão introduzidos na reforma”, afirmou Moreira, após o encerramento da sessão. "Podemos fazer um voto complementar após a discussão do texto, acolhendo mais sugestões dos deputados. Os servidores estaduais e municipais podem ser incluídos a qualquer momento, na comissão ou no plenário", completou.>
Segundo Moreira, os servidores dos entes federativos ficaram fora do relatório apresentado nesta quinta porque ainda não houve entendimento sobre esse ponto entre os líderes dos partidos na Câmara.>
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), afirmou ontem que faltou “atitude” e “voz de comando” por parte de governadores do Nordeste para mobilizar deputados da região e fazer com que estados e municípios fossem incluídos no relatório da reforma da Previdência. Doria foi um dos principais articuladores do movimento que pedia a manutenção dos governos locais no texto>
O governador paulista afirmou que compreendeu o movimento de não inclusão como uma estratégia “bem desenhada” da base do governo para evitar confrontos na comissão especial. >
Resultado ficou próximo do que o governo esperava O secretário especial de Previdência e Trabalho, Rogério Marinho, disse ontem que os técnicos do governo ainda vão se debruçar sobre o texto apresentado pelo relator da reforma da Previdência, deputado Samuel Moreira (PSDB-SP). Com flexibilizações, a proposta deve garantir uma economia de R$ 913,4 bilhões em dez anos, além de um incremento de receitas de R$ 217 bilhões no mesmo período com o fim de transferências do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) para o BNDES e o direcionamento de recursos para o INSS.>
“O ministro sempre falou numa meta de R$ 1 trilhão em dez anos, e o texto ficou muito próximo”, disse Marinho, que esteve na comissão especial durante a sessão em que Moreira lia o relatório.>
O secretário disse ainda não ver dificuldades para votar a proposta porque há “convergência de interesses”, principalmente após as concessões na direção do que foi solicitado pelos partidos, inclusive de centro. “Aprovar a reforma no plenário antes do recesso é o que importa”, afirmou, sem dar previsão de calendário de votação. Para ele, é positivo que a oposição e o governo tenham fechado acordo para que todos os deputados interessados em discutir a matéria possam falar na comissão. Segundo o secretário, isso assegura o “debate democrático”.>
Marinho disse que o governo segue empenhado na inclusão de Estados e municípios na proposta, mas reconheceu que há um problema político. >
Mudanças >
Tempo de contribuição>
Como é hoje A carência, como é chamado o tempo mínimo de contribuição para poder pedir a aposentadoria, é de 15 anos para homens e mulheres.>
Proposta do governo A PEC previa o aumento de cinco anos para homens e mulheres: de 15 para 20 anos. >
Proposta do relator O o tempo de contribuição para as mulheres voltaria a ser de 15 anos. A carência dos homens continuaria em 20. >
Abono salarial>
Como é hoje Para ter direito, o trabalhador necessita ter tido salário médio mensal no ano anterior de até dois salários mínimos (R$ 1.996).>
Proposta do governo A proposta do governo diminui para um salário mínimo (R$ 998)>
Proposta do relator A proposta do relator estabelece um teto no valor fixo de 1.364,33>
BPC>
Como é hoje Idosos e deficientes de baixa renda têm direito a receber um salário mínimo (R$ 998)>
Proposta do governo Idosos pobres receberiam R$ 400 a partir dos 60 anos e, ao completarem 70 anos, teriam direito ao salário mínimo. As regras para os deficientes não foram alteradas>
Proposta do relator Volta a regra vigente hoje, de um salário mínimo a idosos pobres a partir dos 65 anos de idade>
Aposentadoria rural>
Como é hoje A idade é de 60 para homens e 55 para mulheres, com 15 anos de trabalho.>
Proposta do governo Trabalhadores do campo poderiam se aposentar ao atingir 60 anos (homens e mulheres), 20 anos de tempo de contribuição.>
Proposta do relator Idade mínima deve permanecer em 55 anos para mulheres e 60 para homens. O tempo mínimo de contribuição sobe de 15 anos para 20 anos apenas para homens; no caso das mulheres, são mantidos 15 anos.>
Capitalização>
Como é hoje O trabalhador recolhe para uma espécie de fundo, que é quem financia os benefícios. Proposta do governo Previa uma espécie de poupança, em que o trabalhador recebeia o que acumulou durante a vida.>
Proposta do relator Mantém as regras atuais. >