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Carol Neves
Publicado em 10 de junho de 2025 às 09:53
Djair Oliveira Gomes, 27 anos, transformou a dor do preconceito em combustível para seu negócio de comida por delivery em Aracaju (SE). Dono de um pequeno empreendimento gastronômico, ele viralizou nas redes sociais ao revelar os absurdos que ouve por ser soropositivo. "Eles acham que o vírus pode ser transmitido através da comida e teve até gente sugerindo que eu poderia transmitir o vírus por maldade", conta o cozinheiro, que vive com o vírus há oito anos. >
A história de discriminação começou quando Djair tinha 19 anos. Dois dias após receber o diagnóstico, sofreu um corte no trabalho e ouviu da patroa do restaurante: "Cuidado, o Djair cortou o dedo". A ordem foi lavar as mãos no vaso sanitário. No dia seguinte, estava desempregado. "Na mesma semana em que fui diagnosticado e que minha colega expôs minha sorologia, a demissão aconteceu", relata ele. Depois, veio uma sequência de empregos rápidos e demissões. "Cheguei a trabalhar em outros restaurantes, mas foram experiências rápidas. Eles nunca falam 'vou te demitir por causa disso [o HIV]', mas eu sentia algo estranho. Eu recebia elogios dos pratos que eu fazia, mas do nada era demitido", explica. >
A Lei 12.984/14 protege pessoas como Djair: divulgar a sorologia alheia sem consentimento ou discriminar por esse motivo pode render de um a quatro anos de prisão. Mas na prática, o preconceito o empurrou para o empreendedorismo. Hoje, ele sustenta os estudos de enfermagem vendendo pratos típicos sergipanos pelo iFood, enquanto usa as redes para educar sobre HIV. >
Os comentários cruéis persistem, mas vieram também apoios. "Muita gente passou a pedir comida e a perguntar sobre o vírus", diz Djair, que aproveita cada pedido para desfazer mitos. Enquanto prepara seus pratos, o cozinheiro tem um recado: "As pessoas precisam se informar mais, a buscar informação antes de julgar, de sair falando o que pensa. Uma pessoa com HIV pode ocupar o espaço que quiser".>
Médicos reforçam que o HIV não sobrevive fora do corpo e não tem resistir ao cozimento. Nem mesmo sangue em um alimento seria capaz de transmitir o vírus. Além disso, pacientes com a carga viral indetectável, caso de Djair, não contagiam nem em relações sexuais,>
O médico Ricardo Kores, famoso por vídeos com linguagem descontraída nas redes sociais, também viralizou com uma publicação falando do tema. "O HIV não é transmitido por saliva, suor, toque ou alimento. Nem se a pessoa estiver cozinhando, nem se ela for sua parceira no restaurante", diz.>