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Rede Nordeste, JC
Publicado em 28 de julho de 2022 às 23:37
Após 39 anos, uma empregada doméstica foi resgatada em situação análoga à escravidão no município de Caruaru, no Agreste de Pernambuco.>
A mulher, atualmente com 49 anos, foi dada pela mãe quando tinha apenas 10 anos de idade. Desde então, cuidava dos dois filhos deficientes de uma dona de casa , além de ser responsável por todo o serviço doméstico. >
Segundo o Ministério Público do Trabalho em Pernambuco (MPT-PE), a mulher nunca recebeu qualquer remuneração pelo trabalho. Também nunca teve direito a férias. Ela também nunca frequentou a escola, não saia de residência sem alguém da família, nem tinha contato com parentes desde que foi entregue.>
O MPT-PE firmou Termo de Ajuste de Conduta (TAC) com a família empregadora, que pagou um valor de R$ 123.720, referente à verba rescisória da empregada doméstica e aos danos morais individuais. A trabalhadora recebeu, ainda, três parcelas do Seguro-Desemprego do Trabalhador Resgatado.>
O resgate ocorreu no último dia 18 de julho, mas só foi divulgado nesta quinta-feira (28) pelo MPT-PE.>
A ação fez parte da Operação Resgate II, que teve início no último dia 4 de julho em todo o Brasil. Até agora, 337 trabalhadores foram resgatados nas cinco regiões. Além disso, foram arrecadados R$ 3,8 milhões em verbas salariais e rescisórias. >
Em junho e julho deste ano foram registradas cinco denúncias desta natureza em Pernambuco. De janeiro de 2021 a maio de 2022, só havia registro de uma denúncia relativa ao tema.>
Trabalho escravo Casos de trabalho escravo doméstico ganharam visibilidade nos últimos dois meses em função da projeção do podcast “A Mulher da Casa Abandonada”, que conta a história de Margarida Bonetti e do marido Renê Bonneti, acusados de por manter uma empregada doméstica, por 20 anos, em situação análoga à de escravidão, nos Estados Unidos.>
“As pessoas estão cada vez mais atentas ao trabalho escravo doméstico. As empregadas domésticas mantidas em situações análogas à escravidão refletem o perfil da típica mucama da época da escravidão oficial. São pessoas que não têm o traço da violência física, estão inseridas no núcleo familiar, mas nunca receberam salário”, explicou a procuradora do Trabalho e coordenadora regional de combate a erradicação do trabalho escravo e enfrentamento ao tráfico de pessoas (Conaete), Débora Tito.>
Como identificar o trabalho escravo Existem várias formas de identificar o trabalho escravo doméstico. Jornada de trabalho exaustivas, a qualquer hora do dia ou da noite, sem direito a folgas ou pagamento de hora extra; oferta de moradia em cômodo com péssimas condições de higiene e conforto; restringir alimentação ou acesso a serviços públicos e de assistência à saúde; proibir saída do ambiente de trabalho em função de dívidas, com retenção de documentos; e não receber salário ou ter acesso a direitos por ser considerada “da família” são alguns indícios.>