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Estadão
Publicado em 2 de março de 2024 às 15:16
O ex-comandante do Exército general Marco Antônio Freire Gomes prestou um depoimento de quase oito horas na sede da Polícia Federal (PF) nesta sexta-feira, 1º. O ex-comandante foi ouvido como testemunha no inquérito que apura uma tentativa de golpe de Estado por parte de aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) após as eleições de 2022.>
O general respondeu a todas as perguntas que foram feitas pelos policiais. Freire Gomes comandava o Exército em 2022, quando a cúpula do governo anterior planejava um golpe com a participação das Forças Armadas. A oitiva terminou depois das 22h.>
De acordo com o relatório do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, que ordenou a deflagração da Operação Tempus Veritatis da PF no último dia 8, aliados de Bolsonaro tentaram convencer Freire Gomes a botar as tropas do Exército na rua e aderir ao golpe.>
Em uma conversa do celular do ex-ajudante de ordens tenente-coronel Mauro Cid que foi interceptada pela PF, Freire Gomes conversa com o auxiliar de Bolsonaro sobre uma minuta golpista que teria sido redigida e ajustada pelo ex-presidente.>
A versão inicial do rascunho previa, além de novas eleições, a prisão de autoridades, como os ministros Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e o presidente do Senado Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Segundo a Polícia Federal, por sugestão de Bolsonaro, apenas o decreto de prisão de Moraes foi mantido.>
Freire Gomes foi chamado de 'cagão' por Walter Braga Netto>
Em outra conversa interceptada pela PF, Freire Gomes é chamado de "cagão" pelo general Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e companheiro de chapa de Bolsonaro em 2022, por não ter aceitado participar da intentona antidemocrática. A troca de mensagens mostrou que Braga Netto teria liderado uma campanha velada, mas agressiva, contra oficiais que se mostraram contrários ao plano de golpe.>
As mensagens foram trocadas entre Braga Netto e o capitão reformado do Exército Ailton Gonçalves Moraes Barros. O ex-ministro afirma que a "culpa pelo que está acontecendo e acontecerá é do general Freire Gomes" e que a "omissão e indecisão não cabem a um combatente". Ailton responde que vai "continuar na pressão" contra o ex-comandante e o vice de Bolsonaro responde: "Oferece a cabeça dele. Cagão.">
Na conversa, Braga Netto também atacou o tenente-brigadeiro Carlos Almeida Baptista Júnior, na época era comandante da Aeronáutica, chamando-o de "traidor da pátria". "Inferniza a vida dele e da família", orienta o ministro.>
Freire Gomes impediu desmobilização do acampamento bolsonarista em Brasília antes do 8 de Janeiro>
Uma semana antes dos atos golpistas de 8 de Janeiro, o ex-comandante impediu a desmobilização do acampamento bolsonarista que foi formado na frente do Quartel-General do Exército, em Brasília. Foi do local onde os vândalos marcharam para depredar os prédios públicos da Praça dos Três Poderes.>
A ordem para não desmobilizar o acampamento foi dada por Freire Gomes no dia 29 de dezembro de 2022, dois dias antes da posse de Lula. O general justificou aos seus subordinados que, se houvesse um tumulto, ninguém saberia qual seria a reação de Bolsonaro, que estava prestes a deixar o Palácio do Planalto.>
O então comandante militar do Planalto, general Gustavo Henrique Dutra de Menezes, havia dado uma ordem para desmontar o acampamento e pediu um reforço para a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF). Porém, Dutra não avisou Freire Gomes, pois acreditava que ele iria barrar a iniciativa.>