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Da Redação
Publicado em 12 de maio de 2017 às 08:38
- Atualizado há 2 anos
As declarações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao juiz Sérgio Moro, na última quarta-feira (10), atribuindo à falecida ex-primeira dama Marisa Letícia o interesse pelo apartamento triplex no Guarujá dividiram opiniões, ontem. Enquanto apoiadores do ex-presidente destacaram que ele conseguiu provar nada ter a ver com a história, houve críticas de que ele teria transferido a “culpa” no processo para alguém que não pode se defender.O procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, um dos principais nomes da força-tarefa da Operação Lava Jato no Ministério Público Federal (MPF), afirmou ontem que o depoimento de Lula não teve nenhuma consistência e é positivo para a acusação.O procurador, que estava na sala do interrogatório, lamentou o fato de o petista ter imputado à ex-primeira-dama Marisa Letícia, morta em fevereiro, a intenção de adquirir o triplex no Guarujá (SP), objeto da ação penal, como investimento.“Infelizmente, as afirmações em relação a dona Marisa a responsabilizando por tudo é um tanto triste de se ver feitas nesse momento até porque, como o ex-presidente disse, ela não está aí para se defender”, afirmou.O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), criticou o ex-presidente. “Ter jogado a culpa na esposa falecida é algo inaceitável, inaceitável”, disse o tucano. “Em relação ao processo todo, ninguém está acima da lei”, ressaltou. Ex-presidente Lula se emociona em discurso para apoiadores após prestar depoimento na última quarta (Foto: Heuler Andrey/AFP)No depoimento, Lula negou a intenção de comprar o apartamento. “A verdade é a seguinte: não solicitei, não recebi, não paguei e não tenho nenhum triplex”, afirmou Lula a Moro. Ele atribuiu à mulher a intenção de adquirir o imóvel no litoral como investimento. O petista admitiu que visitou o imóvel acompanhado da primeira-dama e do empreiteiro Léo Pinheiro, mas negou que tenha solicitado ou recebido o apartamento. Lula disse que sua mulher não fechou o negócio porque “ela nunca gostou de praia” e ele havia identificado “quinhentos” defeitos no apartamento. “A dona Marisa não me disse no mesmo dia que ela foi lá que ela não ia ficar com a apartamento. Eu tinha mostrado para ela que era inadequado o apartamento, ela foi lá, acho que ela queria ver se podia ficar para vender”, afirmou. Questionado se dona Marisa relatou sobre a reforma do triplex pela OAS, Lula respondeu a Moro: “Não, não relatou, querido. Lamentavelmente, ela não está viva para perguntar”.>
Lula confirma reunião com ex-presidente da Transpetro>
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva confirmou, anteontem, ao juiz federal Sérgio Moro, dos processos da Operação Lava Jato, em Curitiba, que se reuniu com o ex-presidente da Transpetro - subsidiária da Petrobras - Sérgio Machado no mesmo dia em que esteve com o ex-presidente da OAS José Aldemário Pinheiro, o Léo Pinheiro. Machado é o delator que abalou a cúpula do PMDB, ao gravar conversas sobre um “acordão” para “estancar” as investigações.>
“O senhor se encontrou com Léo Pinheiro nessa data?”, perguntou o procurador da República Julio Motta Noronha, que também participou do depoimento.>
“Certamente encontrei, se está na minha agenda, encontrei”, respondeu Lula. “O senhor se recorda qual o assunto tratado?”, continuou o procurador. “Não. Pode ser viagem, pode ser a economia brasileira, que nesse momento estava numa situação muito delicada, pode ser a questão eleitoral”, disse Lula. O ex-presidente nega que tenha falado sobre as investigações. >
“Nessa data consta uma reunião do senhor com Léo Pinheiro às 17 horas e uma reunião antes com Sérgio Machado, da Transpetro?”, questionou Noronha. Lula mostrou surpresa: “Na mesma data?”. “Isso”, respondeu o procurador.>
“O Sérgio Machado foi me convidar para a inauguração de um navio, porque eu tomei uma atitude de colocar nome em um navio de personalidades brasileiras históricas, por exemplo, recuperar o nome do marechal negro Antonio Cândido, de colocar de Sérgio Buarque, de colocar de pessoas muito importantes da política brasileira, que tava esquecido. E ele foi me levar alguns modelos, umas réplicas de navios já feitas pela Petrobras”, disse Lula.>
O registro da agenda foi entregue pelo próprio Léo Pinheiro, que tenta um acordo de delação premiada com a Lava Jato, pela segunda vez, e que atribui à família de Lula a posse do triplex.>
Cozinha do sítio em Atibaia foi tratada com empreiteiro>
Durante o depoimento ao juiz Sérgio Moro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que tratou de um projeto de cozinha em Atibaia (SP) com o empreiteiro Léo Pinheiro, da OAS, e com um arquiteto da empreiteira. O sítio utilizado por Lula no interior de São Paulo não é tema da ação penal na qual ele foi ouvido, mas o assunto foi levantado quando um procurador perguntou sobre um encontro relatado pelo empreiteiro, em depoimento em abril.>
Lula disse que nem se lembrava da visita do empresário a seu apartamento em São Bernardo do Campo (SP) e afirmou que não foi discutida a compra do triplex em Guarujá (SP). “Eu acho que eles tinham ido discutir a cozinha, que também não é assunto para discutir agora, lá de Atibaia”, disse Lula.>
O procurador insistiu no tema do encontro, e o petista reafirmou que discutiu “apenas a questão da cozinha”. Paulo Gordilho, que foi arquiteto da OAS, também é réu na mesma ação penal. Desde a revelação de que frequentava um sítio em Atibaia que teve obras bancadas pela Odebrecht e pela OAS, a defesa de Lula vem afirmando que o sítio não é dele, mas sim de amigos. Os donos formais são sócios de um dos filhos de Lula, Jonas Suassuna e Fernando Bittar.>
Em outro momento do interrogatório, Lula disse que não iria falar a respeito da propriedade rural. “Quando chegar o inquérito do sítio, terei um imenso prazer de estar aqui. Mas agora é hora de resolver o triplex”.>
Em depoimento durante condução coercitiva, em 2016, Lula havia afirmado: “Os companheiros que compraram o sítio fizeram foi tentar garantir que eu tivesse um lugar para descansar, porque você sabe que eu não tenho”.>
A defesa dele reclamou de perguntas no interrogatório de anteontem sobre a propriedade de Atibaia. A investigação sobre o caso ainda não foi encerrada e não virou ação penal.>