Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Carol Neves
Publicado em 10 de outubro de 2025 às 10:03
Presa preventivamente no início de setembro, Ana Paula Veloso Fernandes, de 36 anos, é apontada pela Polícia Civil como responsável por quatro homicídios cometidos entre janeiro e abril deste ano em São Paulo, Guarulhos e no Rio de Janeiro. Todas as mortes tiveram como método o envenenamento, com manipulação de vítimas e tentativa de incriminar terceiros.
>
O último crime conhecido ocorreu no Rio de Janeiro, em 26 de abril, com Neil Corrêa da Silva. Segundo a investigação, Ana Paula teria sido contratada por Michele Paiva da Silva, filha da vítima. Mensagens entre as duas revelaram que chamavam as execuções de “TCCs”. Ana Paula relatou em áudio: “Dei comida batida no feijão, ele comeu só duas colheres e deitou. Achei que ia dar um troço aqui, aí botei fogo no carro pra despistar”. O delegado Halisson Ideião Leite afirmou que Michele agia como “parceira intelectual” enquanto Ana executava os envenenamentos, mostrando que tratavam homicídios “como negócio”.>
Ana Paula Veloso confessou à polícia ter matado antes 10 cachorros com chumbinho
Antes disso, em junho, o tunisiano Hayder Mhazres, de 36 anos, morreu após tomar um milk-shake preparado por Ana Paula, em São Paulo. O encontro tinha sido marcado por um aplicativo de relacionamentos. O irmão da vítima contou que Hayder se queixava de comportamento obsessivo da mulher, que afirmava estar grávida dele sem que houvesse relação. Ana ainda tentou se passar por companheira e herdeira, mas a farsa foi descoberta pelo Consulado da Tunísia. O delegado comentou que o episódio “evidencia o padrão de manipulação e cálculo” de Ana, que buscava se beneficiar financeiramente das mortes.>
Outro crime ocorreu em Guarulhos, entre 10 e 11 de abril, quando Maria Aparecida Rodrigues, de 49 anos, morreu envenenada com terbufós, conhecido como “chumbinho”. Inicialmente registrada como morte natural, a exumação e os laudos toxicológicos confirmaram o crime. Ana Paula teria servido bolo com café à vítima após se aproximar dela nos dias anteriores. >
Ela tentou incriminar o policial militar Diego Sakaguchi Ferreira, com quem manteve um breve relacionamento em março. Segundo depoimento de Diego, o relacionamento durou cerca de três semanas e terminou devido a “mudanças de humor e comportamentos controladores” de Ana. Depois da morte de Maria, Ana enviou mensagens do celular da vítima, simulando intimidade entre Diego e Maria, para desviar suspeitas. “Ela fabricou um triângulo amoroso inexistente para sustentar a versão de crime passional”, explicou o delegado ao portal Metrópoles.>
O primeiro caso investigado foi a morte de Marcelo Hari Fonseca, de 50 anos, ocorrida em 31 de janeiro em Guarulhos. Marcelo era proprietário da casa onde Ana morava de favor. O corpo foi encontrado dias depois em decomposição. Em interrogatório, Ana Paula confessou que matou Marcelo após uma discussão: “Foi quando ele subiu a escada… falei: ‘Vou matar ele’”. Ela admitiu ter “limpado o local e queimado o sofá porque estava fedendo”, reconhecendo a tentativa de apagar vestígios. Testemunhas relataram que, após o crime, ela mudou o cadeado da residência e impediu o acesso de parentes do homem.>
A Polícia Civil identificou a participação de Ana Paula nos quatro homicídios após cruzar laudos toxicológicos, rastreamentos telefônicos e mensagens de celular. Todas as vítimas tiveram contato com ela pouco antes da morte, e o mesmo veneno (chumbinho) foi usado em cada caso. A investigação continua para apurar a origem dos venenos, possíveis cúmplices e se novos crimes estavam planejados. >
A reportagem não conseguiu contato com a defesa da acusada. >
Envenenamento de cachorros>
Ana Paula Veloso também confessou ter matado dez cachorros com chumbinho para testar os efeitos do veneno. “Ela sabia exatamente quanto tempo, a dosagem, o que ia acontecer com as pessoas que consumiam aquilo que era oferecido por ela”, afirmou o delegado Halisson Ideiao, responsável pelo caso, ao portal G1. Durante as investigações, agentes também encontraram terbufós na residência da suspeita, um agrotóxico considerado mais leve que o chumbinho, usado por Ana Paula devido ao seu conhecimento na área da saúde. >
A polícia de São Paulo também apura a participação da irmã gêmea da universitária, Roberta, no auxílio moral e material à execução da morte de Neil Corrêa da Silva, de 65 anos. Ana Paula viajou de Guarulhos ao Rio de Janeiro para acompanhar a exumação do corpo do idoso, planejada e financiada pela filha da vítima, Michele Paiva da Silva, que permanece presa. >