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Estadão
Publicado em 2 de agosto de 2024 às 07:23
O ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal, determinou mudanças no orçamento secreto e na chamada "emenda Pix", mecanismos por meio dos quais congressistas repassam recursos públicos para prefeituras e Estados sem transparência. Dino assinou dois despachos, um em caráter liminar. No caso do orçamento secreto, impôs a centralização de dados sobre indicação e destinação de emendas parlamentares que usem o dispositivo. Sobre a emenda Pix, a decisão é para que governo e Congresso deem total publicidade às transferências, com fiscalização pelo Tribunal de Contas da União e pela Controladoria-Geral da União. O orçamento secreto e a emenda Pix, revelados por reportagens do Estadão, somaram R$ 67 bilhões até o momento.>
Dino viu "insuficiência dos instrumentos de planejamento" e "inadequação de mecanismos de controle e transparência" das emendas Pix. Segundo o ministro, há risco de "danos irreparáveis" ao poder público e à ordem constitucional caso as transferências sigam ocorrendo sem mecanismos que assegurem a transparência e a rastreabilidade dos dados.>
Emenda Pix é o apelido dado às emendas individuais dos parlamentares ao Orçamento da União, sem indicação de destino. O magistrado deu 90 dias para que a Controladoria-Geral da União faça a auditoria de todos os repasses dessas emendas feitos entre 2020 e 2024 em benefícios de organizações não governamentais. O órgão também terá de realizar uma auditoria da "aplicação, economicidade e efetividade" das transferências especiais em execução neste ano.>
A decisão foi dada nesta quinta, 1º, em uma ação ajuizada pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji). A entidade alega que a transferência direta de recursos públicos, sem necessidade de vinculação a projetos ou atividades específicas - a principal característica das emendas Pix - viola os princípios da publicidade, da moralidade, da eficiência e da legalidade na administração pública, além de cláusulas pétreas da Constituição.>
O despacho saiu logo após Dino finalizar uma audiência de conciliação para "efetivo cumprimento" da decisão do STF que derrubou o orçamento secreto. A ação sobre as emendas Pix foi distribuída ao gabinete do magistrado em razão de ele ser o relator do orçamento secreto na Corte.>
Ao analisar o caso, o ministro entendeu que era o caso de deferir uma liminar - decisão dada em casos urgentes - para "impedir a continuidade de caminhos incompatíveis com a Constituição". Além de estabelecer a transparência das transferências especiais e submetê-las a uma auditoria da CGU, Dino estabeleceu critérios para a efetivação dos repasses.>
Vinculação>
O ministro frisou, por exemplo, que a destinação das transferências especiais deve ter "absoluta vinculação federativa". Isso significa que um parlamentar só poderá indicar as emendas Pix para o Estado pelo qual foi eleito, "salvo projeto de âmbito nacional cuja execução ultrapasse os limites territoriais do Estado do parlamentar".>
Além disso, foi estabelecido que os beneficiados por emendas Pix devem, antes de receberem os repasses, declarar ao governo informações como a finalidade dos gastos, plano de trabalho, estimativa de recursos para a execução, prazo e classificação orçamentária da despesa. Só com esses dados em mãos o governo poderá liberar os recursos, após os destinatários das emendas cumprirem a obrigação. Já as emendas Pix na área da Saúde só poderão ser executadas com um parecer prévio do Sistema Único de Saúde (SUS).>
Dino ainda determinou que os valores das emendas Pix devem ser administrados a partir de uma conta exclusiva, a ser aberta por Estados e municípios, de modo a garantir a transparência e a rastreabilidade do dinheiro e permitir a fiscalização orçamentária.>
Acordo>
A audiência presidida pelo ministro na manhã de ontem sobre o orçamento secreto terminou com um consenso acerca da centralização das informações sobre a indicação e a destinação das emendas parlamentares que usam o orçamento secreto.>
A audiência foi convocada por Dino em razão de notícias de que o mecanismo criado no governo Jair Bolsonaro (PL) foi mantido no governo Lula, contrariado decisão do STF. "A primeira questão é: houve cumprimento desta determinação do pleno do Supremo, no que se refere aos anos de 2020 a 2022? A segunda: os restos a pagar das emendas de relator, de 2023 e 2024, estão atendendo a este comando? O terceiro ponto: houve a identificação de que uma parte, uma parcela, ou todas as verbas antes classificadas como RP-9, podem ter migrado para as emendas de comissão, a RP-8, no corrente exercício de 2024", disse Dino.>
Criado no governo passado, o orçamento secreto consistiu no uso das emendas de relator para que congressistas mandassem recursos para cidades onde têm votos, sem transparência sobre qual parlamentar apadrinhou qual verba.>
Dino frisou que as informações sobre as emendas de relator "precisam ser concentradas em um lugar só, de modo acessível, de forma a atender à Constituição". O diretor do Movimento Democrático de Combate à Corrupção Eleitoral, Melillo Dinis, participou da audiência como observador e afirmou que houve um pacto para que os Poderes construam um painel de informações de modo a evitar o mecanismo do orçamento secreto.>
Foi marcada reunião para que servidores do Executivo, da Câmara e do Senado, junto de representantes do STF, verifiquem as maneiras de apresentar as informações que ainda não estão públicas.>