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Carol Neves
Publicado em 4 de dezembro de 2025 às 09:00
A morte de Ronald José Salvador Montenegro, de 55 anos, após ser atingido por uma barra de supino em uma academia de Olinda, reacendeu discussões sobre os cuidados necessários em exercícios com peso livre, como agachamento e supino - movimentos que não contam com travas de segurança e, por isso, exigem atenção redobrada. O acidente ocorreu na segunda-feira (1º) e foi registrado por câmeras do local.>
As gravações mostram Ronald executando o exercício com a chamada “pegada suicida”, uma técnica adotada por alguns frequentadores de academia, porém fortemente desencorajada por profissionais por elevar o risco de a barra escapar das mãos. Nessa variação, o praticante não fecha os polegares em torno da barra, deixando o peso sustentado apenas pela palma e pelos demais dedos - o que torna o movimento mais instável. O laudo oficial que vai confirmar a causa da morte ainda está em fase de conclusão.>
Após ser atingido pela barra, ele ainda tenta se levantar, mas cai logo em seguida. Funcionários o levaram à UPA de Rio Doce, porém ele não resistiu. A Polícia Civil tratou o caso como morte acidental. A RW Academia, onde ocorreu o episódio, declarou que o ocorrido foi “uma fatalidade que deixou a todos nós muito abalados” e afirmou ter prestado socorro imediato, além de manter profissionais qualificados em todos os turnos. O Cref/PE confirmou que o estabelecimento estava regularizado.>
Exercícios de maior risco e cuidados necessários>
O presidente do Conselho Regional de Educação Física (Cref) da 12ª Região/Pernambuco, Lúcio Beltrão, reforçou que a ausência de travas em exercícios como supino e agachamento torna essas práticas mais suscetíveis a acidentes. Por isso, segundo ele, “até pelo volume de carga que geralmente você coloca, eu diria que talvez sejam os dois exercícios que precisam de mais atenção”.>
Falando ao portal G1, Beltrão explicou que os riscos mais comuns envolvem joelhos e coluna, mas podem ocorrer outras complicações caso a execução não seja acompanhada por um profissional habilitado. Para ele, o ideal é que o aluno mantenha consultas médicas em dia e faça exames regulares: “O exercício físico é muito benéfico, mas é preciso acompanhamento”.>
Ronald José morreu em acidente com supino na academia
Mesmo com a exigência de que ao menos um profissional de educação física esteja presente sempre que a academia estiver aberta, não há regra que estabeleça um limite de alunos por professor. A discussão chegou ao Judiciário, mas prevaleceu o entendimento de que a quantidade de profissionais depende do modelo de negócio. “Se eu boto mais professor, aumento meu ticket médio... O aluno que não quer pagar mais caro, vai para academia mais barata, mas que tem menos professor”, explicou.>
Entre as obrigações dos estabelecimentos, estão manter um profissional registrado no Cref, identificar funcionários, garantir contratos regulares para estagiários e disponibilizar fichas de treino.>
Treinos copiados da internet e riscos ignorados>
Beltrão também alertou para um hábito cada vez mais comum: seguir treinos de influenciadores ou fisiculturistas sem orientação. Ele afirma que a prática pode levar a erros técnicos que passam despercebidos nos vídeos. “Não vá copiar o seu colega de treino, o cara que faz na internet... não percebeu todos os detalhes de pé, de mão, de inclinação, de joelho”, disse. O especialista reforça ainda a necessidade de respeitar limites individuais e pedir suporte sempre que houver insegurança: “Se não tem confiança, chama o professor”.>
Treinar acompanhado de um personal, quando possível, é outra recomendação.>
Quem era Ronald Montenegro>
Além de frequentador de academia, Ronald era figura conhecida no carnaval de Olinda. Pai de dois filhos, de 26 e 18 anos, ele presidia o Centro Cultural Palácio dos Bonecos Gigantes de Olinda, instituição responsável pelas tradicionais figuras que desfilam pelas ladeiras da cidade. O grupo o descreveu como “um defensor apaixonado pela Cultura Popular” e afirmou que sua contribuição foi “indispensável para a história e a construção” do centro.>
“Hoje perdemos não apenas um líder, mas um amigo, um criador... Sua dedicação, visão e amor pelo carnaval marcaram gerações”, diz trecho da nota de pesar publicada pelo Palácio dos Bonecos.>
Ronald também integrava a equipe do Homem da Meia-Noite, um dos blocos mais emblemáticos da cidade. A agremiação afirmou que ele era “um amigo” e um dos responsáveis por manter viva a tradição. “Sua paixão pelo frevo... seguirá viva em cada passo, em cada rua e em cada amanhecer de Carnaval”, escreveu o grupo.>