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Professora que beijou aluno de 14 anos não cometeu crime de assédio sexual, diz delegado

Todos os envolvidos foram ouvidos pela Polícia Civil, que constatou que a educadora não se aproveitou do cargo para ter vantagem sexual

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  • Da Redação

Publicado em 12 de dezembro de 2023 às 21:36

Professora foi demitida após beijar estudante de 14 anos e contar à aluna
Professora foi demitida após beijar estudante de 14 anos e contar à aluna Crédito: Reprodução/Redes Sociais

A professora de artes que foi demitida após beijar um aluno de 14 anos de uma escola em Praia Grande, no litoral de São Paulo, não cometeu o crime de assédio sexual na visão da Polícia Civil. A informação é do delegado titular do 3º Distrito Policial da cidade e responsável pelo caso, Rodrigo Martins Iotti.

O caso foi denunciado à diretoria da Escola Municipal Vereador Felipe Avelino Moraes pela mãe de uma aluna. A responsável pela adolescente pegou o celular da filha por ter notado uma mudança no comportamento dela.

Quando abriu a conversa com a professora no WhatsApp, ela leu a mensagem enviada pela educadora que contava que havia beijado um estudante do 9º ano do Ensino Fundamental, o desejo de “transar com ele” e o convite à filha dela para fumar cigarro eletrônico. As informações são do g1.

Print de conversa em que professora admite ter beijado aluno de 14 anos
Print de conversa em que professora admite ter beijado aluno de 14 anos Crédito: Reprodução

O delegado afirmou que os envolvidos [professora, alunos e responsáveis] foram ouvidos pela autoridade policial. “Não há qualquer indício de que ela tenha forçado o suposto relacionamento, utilizando-se do cargo para obtenção de eventual favorecimento sexual”, explicou Iotti.

A professora só responderia criminalmente por assédio sexual se o estudante relatasse à Polícia Civil ter sido coagido, ameaçado ou violentado. Os policiais investigaram, portanto, se ela aproveitando do cargo teria obtido a vantagem sexual em troca de algo -- o que não foi constatado, de acordo com Iotti.

Caso ele fosse um ano mais novo, a educadora responderia por estupro de vulnerável. “O legislador brasileiro optou pelo entendimento de que a pessoa com 14 anos já tem um discernimento para decidir a respeito de questões sexuais", explicou o delegado.

Iotti informou que solicitou informações de alguns órgãos para finalizar e encaminhar o caso ao Ministério Público (MP). Apesar de não ter sido constatado crime pela Polícia Civil, o MP fará uma análise e, a partir do resultado, pode denunciar a professora pelo ato.

Como o processo está em segredo de Justiça, Iotti explicou que informações sobre os depoimentos e quais órgãos foram acionados não podem ser divulgados.

As agressões

As investigações foram divididas em duas partes: a professora ter beijado o aluno e as agressões contra o estudante que os adolescentes acharam, erroneamente, que havia denunciado a educadora para diretoria. O garoto é o melhor amigo da aluna que trocava mensagens com a docente.

Em relação às agressões contra o adolescente, um inquérito policial de ameaça e lesão corporal foi instaurado. Segundo o delegado, os envolvidos estão sendo acionados para serem ouvidos. Posteriormente, o caso será encaminhado para o MP da Infância e da Juventude.

Entenda o caso

A professora contou a uma aluna que encontrou o estudante e um amigo na rua. Depois, eles foram ao mercado, e o estudante a levou para casa. "Eles me trouxeram para casa. Aí, aconteceu", disse ela nas mensagens.

A docente foi denunciada à diretoria da escola pela mãe da aluna para quem enviou as mensagens. Após o caso ganhar repercussão, tanto a estudante quanto o melhor amigo dela passaram a receber ameaças de colegas na unidade de ensino, que se tornaram agressões.

Três alunos bateram no adolescente, sendo um deles o que teria beijado a professora. O jovem que foi agredido chegou a ser hospitalizado. A mãe dele contou que a diretora da escola permitiu que a professora tivesse acesso ao nome da autora da denúncia, o que desencadeou as ameaças e a agressão.

Em uma determinada ocasião, a mãe do aluno agredido e a mãe que fez a denúncia acionaram a Guarda Civil Municipal (GCM) e registraram um boletim de ocorrência de ameaça, no 3º Distrito Policial da cidade. Mesmo assim, o garoto foi agredido.

O adolescente foi jogado no chão e agredido com chutes e socos. Ele foi levado ao Instituto Médico Legal (IML) com ferimentos na boca e, três dias depois, começou a sentir dores abdominais. O jovem foi levado pela mãe ao hospital e ficou cinco dias internado.

Em nota, a Prefeitura de Praia Grande, por meio da Secretaria de Educação (Seduc), informou que a professora foi demitida por má conduta e afirmou que a direção da escola reportou o caso ao conselho tutelar.

A Administração Municipal ainda disse lamentar as agressões sofridas pelo aluno e não compactuar com essas atitudes. O município afirmou que adotará ações de conscientização com os estudantes para que novos casos do tipo não aconteçam.