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Carol Neves
Publicado em 13 de novembro de 2025 às 10:01
Ângela Diniz foi uma das mulheres mais conhecidas da alta sociedade brasileira nos anos 1970. Bonita, elegante e dona de uma vida marcada por festas e relacionamentos com figuras influentes, seu nome se tornou símbolo de uma tragédia que escancarou o machismo da época e provocou uma virada na forma como o país discutia a violência contra a mulher.>
A socialite foi assassinada em 30 de dezembro de 1976, aos 32 anos, por seu então companheiro, o empresário Raul Fernando do Amaral Street, conhecido como Doca Street. O crime ocorreu na casa de praia de Ângela, em Búzios, no litoral do Rio de Janeiro.>
A história agora é contada em uma série da HBO, ficcionada, em que Marjorie Estiano vive Ângela Diniz. >
Ângela Diniz
Estrela mineira>
Ângela Maria Fernandes Diniz nasceu em Curvelo (MG), em 10 de novembro de 1944, em uma família tradicional mineira. Filha de João Antônio Diniz e Maria da Conceição Fernandes Diniz, cresceu em meio à elite da sociedade local em Belo Horizonte, em um ambiente de conforto e prestígio.>
Desde jovem, chamava atenção pela beleza, elegância e personalidade forte. Frequentava os círculos sociais mais influentes de Minas e do Rio de Janeiro, e era presença constante em festas, colunas sociais e eventos culturais. >
Ângela se casou ainda muito jovem, aos 18 anos, com o engenheiro Milton Villas Boas, com quem teve três filhos: João, Maria Luísa e Flávia. O relacionamento, porém, terminou após alguns anos, e a separação, na época, foi alvo de comentários e críticas, já que o divórcio ainda não era legalizado no Brasil.>
Após o fim do casamento, Ângela passou a viver de forma mais independente e a circular em ambientes boêmios e artísticos do Rio de Janeiro. Amava música, festas e tinha amigos entre intelectuais, empresários e artistas. Era vista como uma mulher à frente do seu tempo, livre e dona de suas próprias escolhas - o que, em plena década de 1970, gerava tanto admiração quanto preconceito.>
O crime em Búzios>
Em 1976, Ângela iniciou um relacionamento com Raul Fernando do Amaral Street, conhecido como Doca Street, um empresário paulista de família tradicional. O romance começou com glamour e viagens, mas logo se tornou turbulento. Amigos e familiares relatavam brigas e episódios de ciúmes.>
No fim de dezembro daquele ano, o casal estava na casa de praia de Ângela, em Búzios (RJ), quando uma discussão terminou em tragédia. Em 30 de dezembro de 1976, Doca atirou quatro vezes contra Ângela, que morreu no local.>
O crime chocou o Brasil. A beleza e o prestígio social da vítima, aliados à frieza do assassino, transformaram o caso em um escândalo de repercussão nacional.>
O julgamento e a defesa polêmica>
No primeiro julgamento, em 1979, Doca Street foi defendido por advogados que alegaram “legítima defesa da honra”, tese que buscava justificar o crime como reação à suposta “vida liberal” de Ângela. A estratégia explorava o moralismo da época e convenceu parte dos jurados: Doca foi condenado a apenas dois anos de prisão em regime aberto.>
O resultado causou revolta. Grupos feministas se mobilizaram em protestos com o lema “Quem ama não mata”, denunciando o machismo e a complacência do Judiciário com crimes contra mulheres.>
Três anos depois, em 1981, um novo julgamento revisou a pena, e Doca foi condenado a 15 anos de prisão. Cumpriu cerca de sete e foi libertado em 1987.>
Repercussão e mudança de mentalidade>
O caso provocou uma reação sem precedentes. Grupos de mulheres foram às ruas com o lema “Quem ama não mata”, protestando contra a violência de gênero e contra a impunidade. O caso de Ângela Diniz tornou-se um marco na luta pelos direitos das mulheres no Brasil e contribuiu para questionar o machismo presente no sistema de Justiça.>
Décadas depois, o assassinato de Ângela Diniz segue sendo lembrado como um divisor de águas. O caso inspirou documentários, livros e séries, entre eles o podcast “Praia dos Ossos”, lançado em 2020, que revisita a história sob o olhar do feminismo contemporâneo. O podcast também serve de base para a série.>