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Esther Morais
Publicado em 1 de dezembro de 2025 às 08:59
A vida de Gerson de Melo Machado, de 19 anos, conhecido como “Vaqueirinho”, morto após invadir a jaula de uma leoa no Parque Arruda Câmara, em João Pessoa (PB), no domingo (30), foi marcada por abandono, pobreza extrema e transtornos mentais não tratados. Segundo a conselheira tutelar Verônica Oliveira, que acompanhou o jovem por oito anos, ele “sofreu todo tipo de violação de direito” ao longo da vida.>
Segundo Verônica, Gerson cresceu sem apoio familiar e teve a infância atravessada pela vulnerabilidade. Filho de uma mãe com esquizofrenia e criado em um ambiente com avós também comprometidos em saúde mental, ele viveu anos em condições severas. >
Vídeo mostra momento em que homem entra em jaula de leoa, é atacado e morre, em zoológico de João Pessoa
Ela lembra que conheceu o menino aos 10 anos, após ele ser encontrado sozinho em uma BR pela Polícia Rodoviária Federal (PRF). Desde então, passou a integrar a rede de proteção. Mesmo destituído do poder familiar, Gerson insistia em procurar a mãe. “Ele amava a mãe e sonhava que ela conseguisse cuidar dele”, contou. Ainda assim, a mulher - também fragilizada pela própria condição - não conseguia assumir os cuidados.>
Dos irmãos, ele foi o único que não conseguiu uma família adotiva. Segundo Verônica, isso ocorreu devido ao possível transtorno mental. “A sociedade quer adotar crianças perfeitas, coisa impossível dentro do acolhimento institucional, onde só chegam diante de negligência extrema”, afirmou.>
O jovem também nutria o sonho persistente de viajar para a África para “domar leões”. A conselheira relata que ele falava sobre isso desde a infância - desejo que chegou a motivar uma tentativa de invadir a área de um avião para chegar ao continente africano.>
Mesmo acompanhado pelo Conselho Tutelar, o diagnóstico oficial sobre seus transtornos só ocorreu quando Gerson entrou no sistema socioeducativo. “Por oito anos, tudo que o conselho podia fazer foi feito. Mas ele foi diagnosticado tarde demais”, disse Verônica, que lembra ter discordado de avaliações que classificavam o caso apenas como “comportamental”.>
A prefeitura informou que Gerson escalou uma parede de mais de seis metros, passou pelas grades de proteção, usou uma árvore como apoio e entrou no recinto da leoa. A Polícia Militar e o Instituto de Polícia Científica da Paraíba (IPC) foram acionados. O zoológico foi fechado após o ataque, e as visitas estão suspensas.>
Para a conselheira, a tragédia encerra uma vida marcada por desamparo. “A história dele é a de um menino que só queria conhecer a África para domar leões. Mas ele não tinha juízo suficiente para compreender o perigo”, lamentou.>