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Da Redação
Publicado em 14 de agosto de 2015 às 06:28
- Atualizado há 3 anos
Há algo de podre no Império da China, diria Shakespeare. A forte desvalorização sofrida pela moeda chinesa, o yuan, – que terá repercussões sobre o Brasil e a Bahia – reflete a recomposição que vem atravessando o país asiático e o medo das autoridades chinesas de que a meta de crescimento anual de 7% este ano, a menor em 25 anos, não se realize.Queiram ou não os chineses, o capitalismo é cíclico, marcado por fases de auge e depressão, e, embora muitos acreditassem que o potencial de crescimento da China era inesgotável, o ciclo capitalista está se impondo. Aliás, já há analistas afirmando que os números do crescimento econômico da China não são confiáveis e que muitas províncias já estariam em recessão.As autoridades monetárias perceberam a redução no crescimento, mas esperavam um pouso suave, uma queda gradual no incremento do PIB. No entanto, os problemas chineses se avolumaram, a demanda no mercado interno está em queda, a produção industrial em baixa, o mercado imobiliário em crise e as exportações caíram 8,3% em julho e 0,8% nos sete primeiros meses de 2015. Com esse quadro, não há hipótese de pouso suave, o mais provável é queda abrupta no crescimento. >
Para completar, o governo chinês cometeu o mesmo erro do Brasil e elevou os gastos fiscais em infraestrutura e outros para que o consumo do governo estimulasse o crescimento, mas o resultado foi o aumento da dívida pública. Num quadro como esse, por que desvalorizar a moeda? Para incentivar as exportações, deslocando, pelo menos em parte, o eixo do crescimento, do mercado interno para o mercado externo. Há quem veja outros interesses e credite a desvalorização – feita através de um novo mecanismo que permite maior flutuação do câmbio, e maior vinculação ao mercado, em vez de total dependência do Banco Central – ao desejo de tornar o yuan uma moeda de reserva na cesta de moedas do FMI – Fundo Monetário Internacional, composta do dólar, euro, iene e libra esterlina – e essa condição era exigida pelo fundo. O problema é que mudanças no câmbio sempre geram estresse, ainda mais quando feitas na segunda maior economia do mundo. >
Por isso, o movimento chinês pode gerar uma guerra cambial, desencadeando desvalorizações nas moedas dos países, como Coreia do Sul, Tailândia e Vietnã, que vão se precaver frente ao gigante que deixou de manter sua moeda valorizada artificialmente. O Brasil também vai sofrer, até porque grande parte de suas exportações são commodities cujo destino é a China e esse produtos vão ficar mais caros lá e menos competitivos. Com a desvalorização, os chineses ficam mais pobres em dólar. Ora, o preço das commodities já vem caindo no mercado internacional e, se a demanda da China se reduz, a tendência é de maior queda nos preços. E a desvalorização da moeda ainda vai tornar mais barata as bugigangas chinesas, que devem abarrotar o mercado brasileiro. Mas esses são efeitos colaterais, o sintoma grave mesmo é um certo desequilíbrio na segunda maior economia do mundo, que parece exigir mais mercado e menos estado. Em suma, mais cedo ou mais tarde, a China vai se defrontar com o dilema shakespeariano: ser ou não ser completamente capitalista, eis a questão.>
A China e a BahiaA China desvalorizou em quase 5% sua moeda e assim vai estimular suas exportações e desestimular as compras de produtos importados. A medida vai ser um balde de água fria nas exportações baianas, cada vez mais dependentes do mercado chinês. No primeiro semestre de 2015, 27% das exportações baianas tiveram como destino a China. Em 2014, eram apenas 18%. Quase 90% das exportações baianas para o gigante asiático são soja, celulose, algodão, catodos de cobre e níquel. Com o yuan fraco, esses produtos ficam mais caros e menos competitivos e a demanda tende a cair. Caindo a demanda, os preços dessas commodities tendem a cair mais ainda. Em suma: no primeiro semestre do ano, as vendas externas da Bahia, como um todo, sofreram uma queda de 18% em relação ao mesmo período do ano passado. Só não caíram mais porque a China ampliou sua compras em 21%. Sem as compras chinesas, a situação vai se agravar.>
A arena e a lei do silêncioA Bahia não tinha um grande palco para shows internacionais e essa lacuna foi suprida com a construção da Arena Fonte Nova e assim tornou-se possível atrair grandes shows, como o de Elton John no ano passado, que teve um público de 40 mil pessoas. Mas a Lei do Silêncio em Salvador limita em 60 decibéis o nível de som na cidade e, se não inviabiliza pequenos shows, torna impossível a realização de grandes shows e grandes eventos. Por isso foram estabelecidas as chamadas Zonas de Exclusão, no Pelourinho, no Rio Vermelho, no Parque de Exposições e na Arena Fonte Nova, locais em que seria possível um nível sonoro de 110 decibéis. >
Maravilha, então a Bahia pode agora ter a possibilidade de assistir a grandes shows, como o dos Rolling Stones, cuja turnê brasileira está prevista para janeiro? Infelizmente não. É que um promotor do Ministério Público entrou com um processo solicitando a proibição de shows não esportivos no equipamento e solicitou exclusão do equipamento da zona de exclusão. Felizmente, a Justiça liberou a realização de eventos não esportivos na Fonte Nova, mas desde que fosse respeitado o limite de 60 decibéis. >
O equipamento foi readequado para que seja respeitada a legislação e os baianos terão agora o projeto Som na Fonte, com vários artistas se apresentando no local. Mas fica pendente a questão dos grandes shows, pois, enquanto não voltar a ser Zona de Exclusão, a Arena não tem como contratar grandes shows ou eventos, já que os contratos ficariam sob forte insegurança jurídica. E assim não poderá realizar grandes eventos, a não ser que os Rolling Stones, por exemplo, aceitem tocar baixinho. É hora de resolver essa questão para que os baianos voltem a ter um palco para eventos internacionais e esse palco pode ser no centro da cidade, afinal, o Madison Square Garden fica no coração de Nova York, realiza todo tipo show, de Madonna a Ivete Sangalo, passando pelas bandas de heavy metal, e ninguém reclama.>
Presidente ou presidentaRecebo o e-mail de um leitor em que ele, prosaicamente, indaga porque sempre que me refiro a Dilma Rousseff uso a palavra presidente e não presidenta. Respondo, desde logo, que não há no fato qualquer conotação política, e que o faço simplesmente por uma questão gramatical. É que, para mim, a palavra presidente é neutra, não aceita flexão de gênero. Algumas palavras do nosso idioma têm essa característica, e não há nenhum componente sexista no nosso léxico gramatical, de modo que as palavras neutras podem ser femininas ou masculinas. Aliás, o nosso João Ubaldo Ribeiro faz referência a isso no livro A Casa dos Budas Ditosos , referindo-se à palavra onça, que define o felino, seja ele masculino ou feminino. E, felizmente, ninguém diz que um onço estava espreitando no quintal. O mesmo ocorre, por exemplo, com a palavra foca e ninguém fala foco para referir-se ao macho da foca. O mesmo se dá com a palavra homem no seu significado de espécie. Assim, quando se diz que “o homem é um ser social”, a referência serve para homens e mulheres.Ou seja, Homo Sapiens define a espécie, masculina e feminina, assim como Panthera uncius define a onça, macho ou fêmea.>