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Publicado em 15 de fevereiro de 2024 às 05:00
Estamos no século XXI e ainda precisamos avançar muito no processo educacional brasileiro. Hoje, estou coordenadora do Projeto de Alfabetização e Letramento do Instituto Yduqs, no Centro Universitário Estácio da Bahia. O programa atende jovens e adultos com o objetivo de inclusão social de pessoas que, por diversos motivos, não tiveram a oportunidade de desenvolver as habilidades de leitura e escrita na faixa etária determinada por lei. >
Falo de inclusão porque não só proporcionamos a aprendizagem de leitura e escrita, decifrando signos necessários para desenvolver essas habilidades, mas porque é necessário aprender a letrar. O letramento, em uma concepção socioeducacional, consiste numa linguagem de produto social e cultural, no qual esses jovens e adultos possam aprender a ler o mundo em que vivem, interpretar as situações vividas no cotidiano, com visão crítica de reconhecimento de direitos e cidadania.>
O processo de alfabetização e letramento retira a venda dos olhos de pessoas excluídas da sociedade, tornando-os participativos dos processos sociais nos quais estão inseridos e nas exigências dos seus direitos, na reivindicação de políticas públicas que contribuam para o desenvolvimento educacional e pessoal dos indivíduos.>
Sabemos que muitos permanecem indiferentes a essa “escuridão”, a essa alienação na busca dos direitos como cidadãos. Na visão macro das intenções políticas e da elite brasileira, o fato de não saber ler e compreender o mundo em que vivem impacta no não reconhecimento de direitos, fazendo das pessoas não letradas indivíduos facilmente manipuláveis para servir aos objetivos de controle social.>
As estatísticas publicadas, muitas vezes, mencionam redução do analfabetismo, porém não podemos esquecer que essas pesquisas não se referem aos analfabetos funcionais, ou seja, aqueles que decifram os símbolos, leem e escrevem, mas não interpretam, não dão sentido à leitura e escrita, o que torna esse processo acrítico. Como diz Paulo Freire: “Não basta saber ler que "Eva viu a uva". É preciso compreender qual a posição que Eva ocupa no seu contexto social, quem trabalha para produzir a uva e quem lucra com esse trabalho.”>
Assim, o processo de alfabetização se torna emancipatório e libertador. É necessário que todos - governo, instituições privadas, ONGs - abracem essa causa para libertar pessoas do processo de alienação e percebam a importância de empoderar os jovens e adultos no sentido de transformar vidas. >
Precisamos investir em professores criativos, que utilizem metodologias ativas, buscando trabalhar com palavras e textos contextualizados, partindo das experiências dos alunos, do mundo real onde estão inseridos. Assim, o processo de alfabetização se alia ao processo de letramento, dando sentido ao que se aprende.>
Marialva Gargur é pedagoga, assistente social, psicopedagoga e coordenadora do Programa de Alfabetização e Letramento para Jovens e Adultos do Instituto Yduqs. >