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Publicado em 17 de dezembro de 2025 às 05:00
Nem todas as crianças vivenciam o Natal de forma mágica. Algumas delas precisam se preocupar com malas, horários, em quem vai ficar triste se elas não passarem a ceia em casa. São as crianças de pais separados, que não deveriam carregar tão cedo, o peso de equilibrar o coração de dois adultos que elas amam, ao mesmo tempo que se frustram com a situação. >
Para as famílias recompostas, o Natal pode vir acompanhado de silêncios engolidos, negociações tensas e uma pergunta que ninguém verbaliza, mas todos sentem: como fazer isso doer menos?>
E a resposta, embora não seja simples, começa com a criança não sendo mediadora de nada. Nem mensageira. Nem juíza. Nem responsável por evitar que um adulto se machuque.>
Quando a criança percebe que pode amar duas casas sem medo, algo dentro dela se alivia. “Dois Natais” deixam de ser sinônimo de divisão e passam a se tornar duas oportunidades de pertencimento. O problema nunca é ter duas mesas-postas, é quando cada mesa tenta disputar quem oferece mais alegria, mais presentes ou importância.>
No fundo, o que mais machuca não são as idas e vindas, mas a atmosfera emocional. Não dá para oferecer um presente e uma crítica à família “do lado de lá”. Em tom mais direto: não fale mal da outra família, não teça comentários maldosos. Segure sua maledicência, pois as crianças sentem o que os adultos não dizem. Elas percebem o tom de voz na porta, o suspiro pesado ao entregar ou buscar, as frases maldosas sussurradas no carro. Elas carregam culpas que não nasceram nelas e sim de quem não conseguiu elaborar a própria dor. >
Por isso, planejamento é cuidado. Conversar com antecedência, alinhar horários, combinar expectativas com novos parceiros e novas famílias não é burocracia, é proteção emocional. Quando tudo é decidido às pressas, o corpo infantil se tensiona porque sente que está entrando em um território instável.>
Outro gesto poderoso é escutar. Algumas crianças amam ter dois Natais. Outras se sentem partidas ao meio. Outras ficam felizes, mas cansadas. Validar esses sentimentos, sem critica-los, é permitir que elas sejam humanas e não símbolos daquilo que os pais gostariam que o fim do ano representasse.>
No fim das contas, o que define um Natal leve não é quantos lugares a criança ocupa, mas quantos pesos ela não precisa carregar. A maturidade dos adultos é o verdadeiro presente. A criança só precisa sentir que continua sendo amada, incondicionalmente, em todas as casas que agora fazem parte da vida dela.>
Por serem naturalmente mais imaturas, elas têm uma tendência a se sentirem culpadas pela tristeza dos adultos. Então é com o bem estar delas que devemos nos preocupar primeiro. >
E aqui vai a dica fundamental: se as coisas não saírem como esperado, chore escondido no quartinho. Chore no consultório da sua terapeuta. Segure firme o vômito de todos os sentimentos estressantes e proteja sua criança o máximo possível. Porque essa dor, nenhum filho terá condições emocionais de compreender e elaborar junto com você. >
Bom Natal a todos!>
Terena Cardoso é psicóloga e especialista em Neurociência>