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Da torre de marfim à vida real: o desafio da universidade pública em transformar o Brasil

No Nordeste, a Paraíba se consolida como centro gerador de empregos de alto valor agregado e muda o perfil socioeconômico das suas principais cidades

Publicado em 3 de dezembro de 2025 às 05:00

Um dos sinais de amadurecimento ao longo da nossa vida vem da compreensão de que o mundo como ele é difere do mundo como gostaríamos que fosse. Essa sabedoria não é conquistada sem alguns desencantos, mas certamente permite que estejamos melhor adaptados e preparados para enfrentar a realidade, reorientando a nossa forma de se relacionar com as demais pessoas e redefinindo as nossas prioridades e ações, segundo as nossas possibilidades e contextos.

Uma universidade pública tem, entre os seus diversos papeis, o de formar pessoas críticas. Na prática isso se reflete, para além da transmissão do conhecimento técnico, na capacitação dos estudantes para atuar de forma consciente e engajada na sociedade, questionando os seus pressupostos e propondo reflexões e ações que respaldem e impulsionem a sua transformação. O exercício dessa visão crítica, no entanto, só será efetivo, a partir da compreensão e do diálogo com a sociedade como ela é e não com a sociedade como gostaríamos que fosse.

Para ilustrar o papel de transformação social a partir da universidade não é necessário recorrer aos casos de sucesso internacionais como o da relação entre a Universidade de Stanford e o Vale do Silício, ou ao MIT ou Harvard. No sudeste do Brasil, a Unicamp se transformou em um polo tecnológico, tornando-se motor da inflexão competitiva de Campinas e do seu entorno, sendo essencial para que a outrora região agrícola se tornasse uma referência na produção de tecnologias em áreas como biotecnologia, telecomunicações e petróleo. No nosso Nordeste, o impacto de algumas universidades públicas no seu entorno também é notório. O ecossistema de inovação paraibano, por exemplo, vem se destacando a partir das suas universidades federais e estaduais, levando o estado nordestino a consolidar-se como centro gerador de empregos de alto valor agregado e mudando o perfil socioeconômico das suas principais cidades.

Os marcos legais que respaldam e direcionam a ação universitária vêm sendo drasticamente modificados nas últimas décadas. Se, por um lado, a Lei de Cotas foi a base para uma revolução na composição discente, tornando a Universidade Pública Brasileira mais representativa dos diferentes extratos sociais do país, o Marco Legal da Ciência, Tecnologia e Inovação traz implícita e explicitamente um clamor por um outro tipo de interação da universidade com a sociedade e com o setor produtivo, reconhecendo o seu potencial papel transformador para o território no qual está inserida.

As atuais dificuldades de algumas universidades do país em reter alunos, refletidas nas disparidades na relação entre vagas ofertadas e egressos, e o distanciamento privilegiado dos desafios apresentados pela sociedade, metaforizado na Torre de Marfim, mostram a demanda urgente pela contemporaneização universitária. Se tudo no entorno de uma instituição muda, exceto ela própria, torna-se desnecessário apontar quem foi que mais mudou. O foco excessivo nas próprias necessidades e o olhar restrito para as necessidades alheias, tão associado ao que veio a se chamar de Síndrome de Peter Pan, manifesta-se na dificuldade de assumir responsabilidades e aceitar que a passagem do tempo demanda mudanças. O mundo todo, e inclusive o Brasil, com os exemplos do petróleo e da aviação, nos mostra que sem a universidade pública, gratuita e de qualidade como aliada, a saída da Terra do Nunca ou da condição de promissora no eterno futuro e a superação dos problemas de desenvolvimento de uma nação tornam-se bem mais desafiadoras.

Horacio Nelson Hastenreiter Filho é professor associado e Coordenador de Inovação da Ufba

Tags:

Economia Educação