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Rodrigo Daniel Silva
Publicado em 2 de dezembro de 2025 às 05:30
Amigos, nos últimos dias, voltou a circular com força nos corredores do poder a possibilidade de o senador Angelo Coronel lançar uma candidatura avulsa ao Senado em 2026. O movimento ganharia corpo caso ele seja definitivamente excluído da chapa majoritária do PT. Uma chapa que, segundo interlocutores do próprio partido, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva gostaria que fosse formada pela “trinca petista” - Jerônimo Rodrigues, Rui Costa e Jaques Wagner. >
A pesquisa mais recente da Real Time Big Data, divulgada na semana passada, mostra que uma candidatura solo de Coronel teria impacto imediato sobre o desempenho de Wagner. No cenário em que Rui Costa e Wagner disputam pelo PT as duas vagas do Senado, Coronel, Wagner e o ex-ministro João Roma aparecem embolados na briga pela segunda cadeira: 14% para Coronel, 14% para Wagner e 13% para Roma - todos dentro da margem de erro de três pontos percentuais. Rui lidera e garantiria a primeira vaga; já a segunda, com Coronel no páreo, deixaria de ter favorito e passaria a ser decidida no detalhe - praticamente uma loteria.>
Coronel tem dito, publicamente, que nem Otto Alencar nem Gilberto Kassab - mandachuvas do PSD na Bahia e no Brasil, respectivamente - pretendem abrir mão de sua candidatura à reeleição. E, de fato, por que fariam isso? Um partido não entrega uma vaga de Senado sem contrapartida. Nesta segunda-feira, Otto confirmou a indicação de seu filho, Otto Alencar Filho, para a vaga aberta no Tribunal de Contas do Estado (TCE). Mas o aceno não resolve o impasse: Coronel segue de fora e, mais que isso, sente-se alijado do processo. Tem repetido que “não tem lado porque é redondo” e já admite até a possibilidade de se alinhar ao ex-prefeito de Salvador ACM Neto - uma ruptura de consequências imprevisíveis.>
A possível estratégia de Coronel seria ousada e arriscada. A terceira via não prosperou na Bahia em 2022, quando João Roma tentou se colocar como alternativa. A disputa acabou novamente polarizada entre os campos de Jerônimo Rodrigues e ACM Neto. Nada indica que a eleição para o Senado em 2026 será diferente: a tendência é que um dos dois blocos - PT e do ex-prefeito de Salvador - eleja seus representantes e reduza drasticamente o espaço para candidaturas independentes.>
O passado reforça o alerta. Na eleição de 2006, o ex-prefeito de Salvador Antônio Imbassahy lançou uma candidatura avulsa ao Senado, mas acabou espremido entre João Durval e Rodolpho Tourinho Neto. Naquele ano, o PSDB não apresentou candidato ao governo e manteve-se neutro na disputa estadual. Imbassahy terminou em terceiro lugar, com 17% dos votos válidos - pouco mais de 1 milhão -, bem atrás de Durval, que alcançou quase 47%, e de Tourinho. Como apenas uma vaga estava em disputa, o pedetista João Durval saiu vencedor.>
No caso de Angelo Coronel, a candidatura avulsa pode ter menos a ver com vencer e mais a ver com impedir que o PT conquiste as duas vagas. Uma espécie de retaliação silenciosa, ainda que de alto impacto, contra a exclusão da chapa majoritária.>