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Dom Sergio da Rocha
Publicado em 30 de junho de 2025 às 05:00
O Censo Demográfico 2022, realizado pelo IBGE, apresenta dados publicados recentemente sobre a realidade religiosa no Brasil que requerem a devida atenção e análise. O tema ocupou largo espaço na mídia nacional, suscitando reações diversas, admiração, surpresa e muitas perguntas, evidenciando que a religião continua muito importante no atual contexto sociocultural brasileiro, não podendo ser relegada ao passado. >
Entretanto, é necessário interpretar bem os dados constatados, atentos a lacunas e equívocos na divulgação de um tema complexo. Evidentemente, há uma tendência crescente do pluralismo religioso no Brasil, que vem se verificando há décadas, mas há aspectos que necessitam de maior atenção e exatidão. Não se pode ficar com uma visão empírica, sem interpretar os resultados ou deixar-se interpelar por eles. Há uma tendência em compreender o atual quadro religioso como fruto somente da atuação das instituições religiosas. Embora o papel das Igrejas e de outras confissões religiosas seja inegável, as mudanças no cenário religioso necessitam ser compreendidas no contexto histórico, social e cultural brasileiro. A atual realidade social é complexa e plural, com transformações rápidas e profundas. >
A questão do percentual de diminuição dos católicos necessita ser devidamente compreendida, pois de modo geral, não se reflete num esvaziamento das igrejas, mas muito provavelmente na diminuição daqueles que se declaravam católicos, mas não tinham pertença efetiva à Igreja Católica. De modo geral, o desafio tem sido construir igrejas e atender a tantos que buscam assistência religiosa. É um fenômeno que requer análise aprofundada. >
A designação “evangélicos” inclui uma vasta gama de denominações, cujos percentuais necessitam ser melhor apresentados, por respeito à identidade de cada uma e para permitir uma melhor compreensão da realidade. É equivocada a compreensão dos “evangélicos” como um bloco monolítico, por mais afinidade que possa haver entre as denominações, esquecendo-se da pluralidade existente. Os dados deste Censo confirmam a tendência de diminuição percentual de católicos, mas a novidade é a diminuição do ritmo de crescimento dos denominados “evangélicos”. Além disso, a tendência predominante é a divulgação dos percentuais de católicos e evangélicos, que sem dúvida são muito importantes, mas que não permitem ignorar outros indicadores, como a pertença a outras religiões. >
Outro dado a ser melhor compreendido e contextualizado é o alto percentual dos que se declaram “sem religião”, grupo que inclui uma variada gama de expressões: ateus, agnósticos e pessoas que não pertencem a nenhuma denominação religiosa, cristã ou não, mas que podem ter práticas religiosas. O Censo necessita ser aprimorado e completado; evidencia a permanência da relevância da religião numa sociedade em mudança. >
Dom Sergio da Rocha, cardeal arcebispo de Salvador>