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Educação inclusiva: direito de todos

Ou a escola se reconhece como território comum, ou continuará sendo o privilégio de poucos travestido de universal

Publicado em 9 de outubro de 2025 às 05:00

As escolas devem promover atividades que estimulem o conhecimento de temas sobre o meio ambiente (Imagem: Xavier Lorenzo | Shutterstock)
Durante décadas, a escola foi moldada por classificações que separaram normais e diferentes,(Imagem: Xavier Lorenzo | Shutterstock) Crédito: Imagem: Xavier Lorenzo | Shutterstock

A escola brasileira vive uma encruzilhada. Não é apenas pedagógica: é histórica, civilizatória. Ou reconhece a todos como sujeitos de direito, ou continua administrando exclusões como se fossem naturais. A inclusão deixou de ser promessa para alguns: tornou-se o paradigma capaz de reorganizar o conjunto da educação - do modo de ensinar ao de avaliar, do currículo às relações de poder.

Durante décadas, a escola foi moldada por classificações que separaram normais e diferentes, regulares e especiais. Esse determinismo cristalizou desigualdades e legitimou fracassos. A lógica inclusiva rompe com essa ordem. Não é concessão, mas princípio: cada estudante é sujeito singular, cuja diferença não pode ser reduzida a categorias ou diagnósticos.

Esse movimento exige coragem. Porque incluir significa rever currículos, mexer em rotinas, deslocar certezas. A cultura do teste padronizado continua sendo o grande instrumento de exclusão: mede, compara, ranqueia. Não diz quem aprende, mas quem sobra. É nesse ponto que a escola particular se mostra caricata: tola, superficial, ranqueadora e tecnicista — prisioneira de planilhas de desempenho que prepara futuros gerentes, mas segue incapaz de formar cidadãos críticos.

Uma avaliação inclusiva, ao contrário, acompanha processos, partilha critérios, fortalece a autonomia. É prática de democracia. Coloca o professor no centro, mas não como transmissor burocrático: como intelectual que cria condições de pesquisa, de sentido, de encontro. Hospitalidade não é metáfora. É acolher o estudante com sua história, suas necessidades, sua linguagem, para que permaneça, aprenda e participe.

A educação especial, nesse horizonte, não é subsistema paralelo. É apoio que atravessa o comum, derruba barreiras, garante acessibilidade. Apoio que isola gera exclusão disfarçada; apoio que conecta dá materialidade à inclusão. Nada disso é simples. Há fadiga docente, há pressão por metas, há tentação de atalhos. Mas a alternativa já conhecemos: uma escola que seleciona cedo, promete mérito para poucos e condena muitos ao fracasso.

Incluir não é apenas um gesto pedagógico: é um ato político. É afirmar que a escola pública pertence a todos e não pode ser capturada por lógicas de mercado ou por narrativas de exclusão disfarçadas de mérito. O desafio que se coloca não é o de adaptar alguns estudantes a um modelo pronto, mas o de reinventar a escola inteira para que cada sujeito tenha lugar e voz. Esse é o horizonte civilizatório que nos interpela: ou a escola se reconhece como território comum, ou continuará sendo o privilégio de poucos travestido de universal. A escolha está posta — e é inadiável.

Guilherme de Almeida, autista, pesquisador no campo da Educação Inclusiva na Unicamp e Presidente da Autistas Brasil (Com participação de IA*)