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Publicado em 7 de agosto de 2024 às 05:00
Sempre gostei muito da ideia de tecer. >
Tecer, no dicionário significa o ato de entrelaçar metodicamente os fios que podem originar um belo tecido. O fato é que o tecer pode determinar o desenho do tecido e, para isso, será necessário escolher bem as cores dos fios e a sequência de tons a serem utilizados.>
O gosto pelo tecer se dá porque a união de fios é poderosa metáfora para diversos momentos de nossa vida. Pensando nisso, passei a refletir sobre quão bonito é o entrelaçar de fios ao falarmos de diversas mãos que se juntam para tecer projetos e sonhos. Assim é o movimento de autores independentes que vem se firmando na cena literária baiana. >
Em eventos literários em que o espaço é negado a eles, muitas vezes por se privilegiar uma programação que é reduzida diante da diversidade de produção literária/cultural, os autores independentes tecem seus próprios espaços, abrindo novos caminhos. Isso tem ocorrido através de movimentos paralelos aos eventos literários tradicionais que privilegiam uma ótica de mercado, negando a participação de autores independentes e pequenas editoras.>
Em uma das minhas visitas à Feira Literária Internacional de Paraty (FLIP), pude perceber a arte e a cultura pulsando em cada esquina, em cada casarão. Paraty é uma bela cidade turística do Rio de Janeiro que durante os dias da FLIP reúne pessoas do Brasil inteiro. Cada canto é ocupado por palavras, poemas, livros, versos que voam ao vento. Nas praças há uma diversidade de contadores de história e poetas de rua. Em cada esquina, um sarau, recital, música cantada e tocada por artistas independentes. Bem, a FLIP, de certo, tem muito a nos ensinar.>
Nas conversas sobre a importância de criarmos um movimento genuinamente baiano e independente foi que me uni à Tati Gonçalves, produtora cultural que comprou a ideia do Ocupa Pelô Literário, movimento que tem o objetivo de ocupar festas literárias com produção independente. Juntos, vamos ocupar o Pelourinho durante o dia 10 de agosto, das 9h às 18h, com uma programação paralela à Flipelô. O movimento ocupará o Casarão 17, com uma feira de livros de autores independentes (no total, somos 42 autores reunidos), alguns lançando mais de um título, outros expondo livros já lançados, outros contando histórias... Todos tecendo coletivamente inusitados sonhos. A programação contará ainda com um pocket show da banda cover de Raul Seixas.>
Voltando ao início do texto, retomo agora a ideia do tear e do tecer coletivamente: entrelaço os fios de sonhos junto a todos os outros fios que diversos autores tecem dia a dia. Os fios da resistência através da literatura e da cultura. Olho o tear e vejo um belo produto. É um tecido nobre, de fios de inigualável textura, com rara beleza, belo colorido, que veio pra vestir cada espaço que ocuparmos com literatura, arte e cultura. >
Palmira Heine é professora, escritora, agitadora cultural.>