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O segredo de Ro Ro

Sempre fui “Time Ro Ro” e tive um amor ridículo por ela. Adoraria ter tido a oportunidade que teve o baiano Paulinho Lima de produzir seu primeiro show e ter vivido de perto muitas das histórias dela

Publicado em 9 de setembro de 2025 às 05:00

Acho que foi no encarte do LP Exagerado (1985), de Cazuza, que ouvi falar pela primeira vez dessa mulher. Ali no canto, em letra menor, ao lado da foto de seu pau marcado num jeans surrado, Cazuza escreveu algo como “Este álbum é dedicado a Lupicínio Rodrigues, Luís Melodia e Angela Ro Ro, a quem eu humildemente tento imitar”. Tão logo pude, adquiri vinis e me inteirei da novidade. Foi um impacto danado.

Angela já estava no terceiro disco, suas canções meio jazz, meio blues, sempre cheias de força, poesia e raiva embalando muitos de meus sentimentos adolescentes. Daí foi vida de fã, tentando não perder show, aprendendo a cantar tudo que ela gravava, me divertindo com seus comentários ácidos sobre pessoas públicas, artistas enrustidas, barracos daquele período em que ela ainda bebia e cheirava. Ao seu lado, por muitos anos, apenas o pianista Ricardo Mac Cord.

Sandro Lobo chegou a fazer um show só com sucessos de Ro Ro
Sandro Lobo chegou a fazer um show só com sucessos de Ro Ro Crédito: acervo pessoal

Por conta do quiproquó em que se viu envolvida com aquela outra cantora que não precisamos citar (uma agressão que ela a vida inteira enfaticamente negou), até no dia de sua morte os jornais destacam as mesmas historinhas que queimavam sua imagem, em detrimento de sua grandeza de rara compositora na MPB e cantora com trajetória singular. Uma pobreza.

Sempre fui “Time Ro Ro” e tive um amor ridículo por ela. Adoraria ter tido a oportunidade que teve o baiano Paulinho Lima de produzir seu primeiro show e ter vivido de perto muitas das histórias dela (ou das versões que surgiram dessas histórias). Teria dado um bofete na cara de Cidinha Campos naquela desrespeitosa entrevista que fez com ela.

Morri de pena quando assisti àquele especial da Globo do início da década de 80, apresentado pela xará Angela Maria, quando Ro Ro teve que driblar a inocência da veterana sobre sua lesbianidade. A Sapoti havia entendido que ela se referia a um “rapaz”, quando Ro Ro falou sobre as dificuldades do amor e do amar, pouco antes de apresentarem juntas Me Acalmo Danando. Ao piano, vestida de smoking, Ro Ro riu e desanuviou o clima.

Recentemente invejei e quase me chateei com uma amiga, que sempre soube de meu interesse por Angela, estava produzindo um documentário sobre ela nos últimos dois ou três anos e nunca me disse uma palavra sobre isso, até que eu soubesse por acaso e indagasse. Espero sinceramente que fique à altura de Ro Ro. A breve mágoa foi só parte desse amor ridículo. A amizade segue.

Em 2023, realizei na Casa da Mãe e na Casa Preta, o show Came & Case, em que cantei uma seleta de seu repertório, acompanhado por Daniel Argolo (guitarra, baixo) e Maurício Lourenço, pianista que arranjou tudo para meu tom e fez uma bela direção musical do roteiro, que teve colaboração entusiasmada do amigo Jean Wyllys.

O que dizer no dia em que Angela Ro Ro se vai, depois de um final difícil de vida, sem grandes apoios dos seus pares? Não sei. Sua saída quase silenciosa de cena contrasta demais com a grandeza de sua obra e o valor que lhe poderia ser atribuído pelo público, se ele tivesse tido a oportunidade de ir além dos tais “escândalos”.