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Publicado em 8 de outubro de 2025 às 05:00
Em um cenário urbano cada vez mais desafiador, marcado por eventos extremos como ilhas de calor, enchentes e perda de biodiversidade, o paisagismo deixou de ser apenas uma ferramenta estética. Hoje, é considerado um componente essencial da infraestrutura urbana, com papel direto na adaptação das cidades às mudanças climáticas e na promoção do bem-estar social. >
O conceito de paisagismo funcional sugere que áreas verdes urbanas — praças, jardins, canteiros e parques — cumpram múltiplas funções. Essas áreas devem ser projetadas para regular a temperatura, drenar a água da chuva, melhorar a qualidade do ar, promover a biodiversidade urbana e fortalecer os laços sociais. Quando planejado com propósito, o verde deixa de ser adorno e se torna estratégia.>
Espécies nativas e adaptadas ao clima local devem ser priorizadas, pois exigem menos manutenção, consomem menos água e apoiam a fauna urbana, como aves e polinizadores. Além disso, o paisagismo funcional contribui para a criação de espaços mais seguros e saudáveis, impactando diretamente a saúde física e mental da população.>
Um ponto frequentemente subestimado é o impacto das áreas verdes no desenvolvimento infantil. Crianças com acesso a parques, jardins e ambientes naturais apresentam melhores indicadores de saúde, criatividade, coordenação motora e habilidades socioemocionais. Esses espaços favorecem o brincar livre, o convívio social e o contato com a natureza — fundamentais para uma infância equilibrada e feliz.>
Outro aspecto essencial é o papel social dessas áreas verdes. Ambientes acessíveis e bem distribuídos promovem convivência, reduzem o estresse urbano e incentivam a ocupação qualificada do espaço público. O paisagismo, nesse contexto, também funciona como ferramenta de inclusão e justiça climática.>
Pensar o paisagismo como parte de uma infraestrutura verde integrada é fundamental para cidades que buscam mais resiliência, equilíbrio ambiental e qualidade de vida. As soluções baseadas na natureza são acessíveis, eficientes e geram múltiplos benefícios – ambientais, sociais e econômicos.>
O mundo inteiro discute hoje como adaptar as cidades às realidades do século XXI. Salvador, cidade histórica e ao mesmo tempo pulsante de futuro, já entendeu que o caminho passa pela resiliência urbana – e isso começa pelo modo como tratamos o verde urbano. O paisagismo funcional não é luxo, é estratégia.>
Investir em paisagismo funcional é, acima de tudo, investir em cidades mais humanas, saudáveis e preparadas para os desafios do presente e do futuro.>
Ivan Euler Paiva é mestre em Engenharia Ambiental Urbana e Secretário de Sustentabilidade, Resiliência, Bem-Estar e Proteção Animal de Salvador.>