Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Publicado em 15 de janeiro de 2024 às 05:00
Desde os primeiros assentamentos, os homens usam o trabalho dos animais em diversas civilizações na África, Europa e Ásia. Nas Américas, os povos originários vieram a conhecer os animais de montaria após a chegada dos europeus. Culturas pré-colombianas usavam apenas animais de tração, como lhamas e alpacas nos Andes. >
Lobos, cabras e ovelhas estão entre os primeiros animais de produção domesticados e esse relacionamento tem passado pela exploração, por crueldade humana ou ainda pela convivência pacífica em situações igualmente variadas: alimentação humana, tração, recreação ou atividades esportivas.>
Não nos cabe condenar o uso de animais para o ganho de vida em situações nas quais as pessoas não possuem outro meio de subsistência, porém, devemos lembrar que os animais não humanos também são seres sencientes e que maltratá-los é crime previsto na legislação.>
Por ser questionável o uso de animais em situações recreacionais, isso tem sido cada vez mais percebido por setores da sociedade, inclusive da nossa justiça. Em Salvador, desde 2011, está proibido o uso de jegues na tradicional Lavagem do Bonfim e os fiéis compreenderam que “quem tem fé vai a pé”. Desumano submeter os animais ao barulho intenso, ao empurra-empurra e ao peso das carroças. Decisões semelhantes foram tomadas em Tiradentes (MG), Poço de Caldas (MG) e na Vila de Jericoacoara (CE). Porém, recentemente, um cavalo caiu exausto nas ruas de Teixeira de Freitas, após puxar uma carroça.>
Em Morro de São Paulo, a prefeitura suspendeu a utilização de cavalos para passeios de charretes após a morte de um animal. Cabe à sociedade questionar se vale a pena, se é moral e/ou decente usar um animal em atividades recreativas, até que ele morra de cansaço, pois agressão sabemos que é. >
Nos preocupa as políticas públicas em alguns municípios baianos. Em maio de 2023, tivemos, por exemplo, o equivocado decreto da prefeitura de Cravolândia prevendo captura e sacrifício de animais, que felizmente foi revogado. Em dezembro foi a vez do município de Abaré aparecer em rede nacional maltratando cachorros. Medidas gerais de emprego, renda, de educação e de esclarecimento podem ter efeito positivo até mesmo no trato com os animais.>
Há muito para ser feito. Como médicos-veterinários e zootecnistas podemos contribuir com este diálogo, usando conhecimentos sobre o bem-estar animal, Medicina Veterinária Legal, legislação aplicada a situações semelhantes e sugerindo alternativas, medidas sustentáveis para a nossa espécie e todas as demais que habitam o planeta.>