Sobre o acesso universal ao exame de creatinina: um direito de todos

Estima-se que 50 mil brasileiros com doença renal crônica morrem antes de chegar à diálise. Não conseguem ser tratados. É ou não é uma crise humanitária?

Publicado em 14 de março de 2024 às 05:00

Hoje, 14 de março, é o Dia Mundial do Rim. Atualmente, há no Brasil 157 mil pessoas em tratamento dialítico, que estão distribuídos em 886 unidades de terapia renal substitutiva. Cerca de 80% desses pacientes são do Sistema Único de Saúde. O censo de diálise da Sociedade Brasileira de Nefrologia estima 51 mil novos necessitados de diálise por ano!

Ora, os números não fecham, se entre todos os brasileiros são 157 mil que estão em tratamento e se a cada ano estima-se 51 mil a mais, já deveria haver milhões em tratamento. Onde estão? Mortos. Estima-se que 50 mil brasileiros com doença renal crônica morrem antes de chegar à diálise. Não conseguem ser tratados. É ou não é uma crise humanitária? Há cerca de 770 pacientes por milhão de pessoas em diálise no Brasil.

Como toda média é medíocre, vale sempre aprofundar. Nos estados do Sudeste são 922 pacientes por milhão, nos do Norte, apenas 418. Os que vivem no Norte são mais saudáveis? Não. Morrem mais, muito mais. A grande maioria das mortes precoces por doença renal crônica acontecem nos estados mais pobres, isto é, no Norte e no Nordeste do país. Pacientes que, caso o financiamento adequado da terapia garantisse o acesso realmente universal ao tratamento no Brasil, poderiam estar vivos, tanto em diálise, ou à espera de um transplante. Vidas ceifadas no país que se arvora a ser líder regional global. Certeza que o problema não é a escassez de recursos advindos dos impostos arrecadados dos CPFs e CNPJs produtivos. Certeza que essa crise humanitária, grave, advém da má utilização destes recursos e os desvios de função deste dinheiro regiamente pago por milhões de brasileiros e brasileiras para terem um país melhor, uma vida mais digna.

Neste ano, na celebração do Dia Mundial do Rim, hoje, a Sociedade Brasileira de Nefrologia traz à tona uma questão de suma importância e urgência: a necessidade de garantir o acesso ao exame de creatinina para todos. É através deste exame que pode se prevenir ou ter o diagnóstico precoce da doença renal crônica. Quem sofre deste mal ou tem parentes ou amigos nesta condição sabe o sofrimento que é a doença renal crônica.

É de Salvador, Bahia, o mais jovem Presidente da Sociedade Brasileira de Nefrologia - SBN, eleito aos 34 anos, hoje com 36, José Moura Neto é um desses casos raros de precoce amadurecimento, inteligência fora do comum, obstinação incansável e múltiplas habilidades. Sob a liderança do jovem nefrologista foi criada uma Frente Parlamentar para tratar deste assunto. É ele quem diz, no Congresso Nacional: “A saúde renal é um direito de todos, e é nossa responsabilidade coletiva garantir que este direito seja respeitado. Vamos fazer do Dia Mundial do Rim de 2024 um marco na luta pelo acesso universal ao exame de creatinina e, consequentemente, pelo bem-estar de todos os brasileiros”.

Faz muito bem. É para Brasília que vai quase todo dinheiro arrecadado da sociedade e é de lá que este dinheiro é alocado para os diversos fins em prol da melhoria da vida dos cidadãos brasileiros. Mais exames de creatinina, menos mortes de sofridos brasileiros e brasileiras.

Matheus Oliva, filho do nefrologista Dr. Carlos Marcílio i. m. que dedicou toda sua vida a salvar vidas