Alô, supervisor! Sandro Souza vai botar atestado de sucesso

Influencer conquista seguidores falando da rotina na firma com dicas para enrolar a chefia

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  • João Gabriel Galdea

Publicado em 24 de setembro de 2023 às 05:01

Criador do bordão
Criador do bordão "alô, supervisor!", Sandro Souza, 27 anos, faz sucesso contando sua rotina no serviço Crédito: Divulgação

Na era dos coachs que mandam você “trabalhar enquanto os outros dormem” e das táticas corporativas para tirar dos funcionários a máxima produtividade, o humorista e influenciador baiano Sandro Souza, 27 anos, tem um ponto: “Quem ganha salário mínimo só precisa fazer o mínimo.” A frase não é exatamente assim, mas a ideia é essa e caminha junto com as teses de que “é preciso acordar cedo para se atrasar com calma” ou “quem chega cedo no trabalho é um falso colega”.

Formado em Logística pela Unidompedro, o rapaz de sorriso galhofeiro e ideias mirabolantes para conseguir um atestado médico ainda bate ponto em uma firma de Lauro de Freitas, na Região Metropolitana de Salvador, mesmo já estando perto de bater 1 milhão de seguidores nas redes sociais. A condição para não ser demitido, mesmo admitindo os migués para faltar ao trampo de vez em quando, nem tem a ver com essa faceta kamikaze, compartilhada com dezenas de milhares de pessoas em vídeos performáticos e engraçadíssimos: o holerite segue mantido caso ele não envolva a empresa e os colegas na brincadeira.

“Você pode fazer seu vídeo, pode fazer o que você quiser, mas não pode citar o nome da empresa e nem as pessoas que trabalham aqui”, reproduz o gaiato, nascido e criado na região do Forno, no Engenho Velho da Federação, onde mora até hoje com a família.

Faz tudo

Apesar de não botar a galera no bolo, talvez não haja outro trabalhador tão comentado na Bahia como o superior de Sandro na empresa anônima, onde ele cumpre a função de “faz tudo”. Isso porque o bordão “alô, supervisor!” ganhou as ruas com tanta força que o próprio criador acabou virando a criatura.

“Na verdade, eu não tenho mais nome. Ninguém me chama de Sandro. Me chamam de Supervisor”, comenta o rapaz, que na carteira de trabalho assina Alessandro Santos Souza, filho de seu Sisínio Souza e dona Romilda Santos.

Mas quando digo que o criador virou a criatura é porque o sucesso das postagens – Sandro tem vídeos que já bateram 10 milhões de visualizações – fazem as pessoas acreditarem que a correria agora se resume ao ambiente virtual, e que ele já está ganhando uma bolada com isso. “Fala a verdade, Sandro. Tu já virou supervisor e não quer admitir”, comenta um seguidor no Instagram.

Se um dia vai chegar à chefia, ainda não dá pra dizer, mas chegar até aqui não foi nada fácil. “Eu comecei prestando serviço, de várias funções. Eletricista, ajudante de pedreiro, mas meu pai sempre falou: ‘vá estudar, vá estudar’. E aí [depois de formado em 2019], eu comecei a trabalhar, agora na área de logística, numa empresa em Lauro”. É o primeiro emprego de carteira assinada, e lá se vão três anos acumulando FGTS e algumas folgas “fabricadas”.

Nesse ínterim, conta que já chegou a se sentir perseguido por um supervisor, origem da chamada que ficou famosa. “Eu comecei a falar sobre isso. Nesse de falar do supervisor pra lá, supervisor pra cá, ‘eu tô doente, viu’, aí viralizou um vídeo meu dessa forma, a galera acompanhou”, lembra o agora influencer, que demorou um tantinho para decolar.

O sucesso de muitos posts só começou no ano passado, mas Sandro já produzia conteúdos como os de agora lá em 2020. “Passei dois anos nessa caminhada, com cerca de mil seguidores. Aí em 2022 eu viralizei um vídeo em meados de março. E aí, em uma semana, eu consegui em um vídeo dois milhões de visualizações e cheguei a 13 mil seguidores. Terminei 2022 com 101 mil. Ou seja, ganhei 100 mil em um ano. E aí continuei, e nesse ano, num período de nove meses, eu já to com mais de 700 mil”, diz ele sobre a evolução no Instagram, plataforma em que seus vídeos repercutem mais. No Tiktok eram 225 mil seguidores até esta sexta-feira (22).

Te vi no metrô

Apesar dos quase três anos explicando ao proletariado as melhores práticas de corpo mole – como gastar 15 minutos no banheiro a cada hora de expediente para reduzir a carga horária de 8h para 6h –, só agora o Margina, como também é conhecido, começou a sentir o sucesso fora da sua bolha, que é a rua onde mora e o lugar onde trabalha (quando o Doutor Prevenildo não lhe consegue uma liberação).

“Eu não tinha noção disso ainda, porque eu sou muito reservado no meu bairro. Quando você frequenta os mesmos lugares, as pessoas já te conhecem, já estão acostumadas. Eu tive noção [desse sucesso] quando fui pra rádio [Piatã FM], no mês passado... E aí eu fui no shopping, e a galera tirando foto, me abraçando, eu falei ‘meu Deus!’ Aí eu fui no Atakarejo, todo mundo falando, e agora mais ainda, que eu tive no Salvador Fest, domingo, e segunda-feira no jogo do Bahia, que eu quase não assisti o jogo”, cita episódios que já estão virando rotina dentro da sua rotina corrida.

“Busão, metrô, correria. Às vezes eu tô atrasado, a galera quer fazer vídeo, foto... Quando um chama, todo mundo quer, mas mesmo assim eu atendo. Nos meus vídeos as pessoas comentam que me viram no metrô, na rua”. E assim acaba tendo que falar com o supervisor de meio mundo de gente, porque cada um pede um vídeo exclusivo.

Ele mesmo

Ao fazer uma análise do próprio conteúdo, Sandro acha que a grande repercussão tem a ver com a espontaneidade, o bom humor e o fato de ser ele mesmo nos vídeos, ou seja, de contar relatos (quase sempre) verdadeiros (muitas vezes exagera, claro), com os quais muitas pessoas se identificam.

“A galera gosta porque é um conteúdo sadio, natural, espontâneo. Não é um personagem ali. Eu mesmo sou assim, espontâneo ao falar da minha vida. Se você for ver minhas redes sociais, é o mesmo conteúdo desde quando comecei. Nunca mudei. Eu falava: ‘se for pra ser um personagem, eu não quero’. O que eu falo na internet é o que eu vivo”, conta o humorista, que custou a acreditar no próprio potencial.

“Sempre fui assim. Na escola, faculdade, no trabalho, todo lugar sou brincalhão, sorridente, e isso cativa as pessoas. É o meu jeito. E até as pessoas que me rodeiam, que me conhecem, da minha rua, quando outras pessoas perguntam se eu sou assim, elas confirmam: ‘é até pior atrás das câmeras’. E foram essas pessoas que sempre repetiram: ‘Sandro tinha que ir pra internet, porque é muito engraçado’”, recorda sobre o pré-fama.

E o futuro desse sucesso? “Eu já recebi proposta pra trabalhar em um projeto no teatro, quando eu tinha uns 70 mil seguidores. Só que aí por questão de trabalho, correria, eu não tinha tempo, e tive que deixar de lado. Mas meu sonho é atuar também na televisão”, comenta o candidato a astro de novela que o supervisor da Globo tá perdendo.