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Quem é Rom Santana, o baiano que arrasta multidões nas noites de São Paulo

Nascido em Iramaia, na Chapada Diamantina, o cantor é fã de Léo Santana e tem levado os ritmos do piseiro, forró, arrocha e pagodão para as ruas da maior metrópole do país

  • Foto do(a) author(a) André Uzeda
  • André Uzeda

Publicado em 21 de setembro de 2025 às 09:00

Rom Santana fazendo a garra com a mão, como marca do felino
Rom Santana fazendo a garra com a mão, como marca do felino Crédito: Arquivo pessoal

Quando roubaram a CG 160 de Romário Silva Ramos, em outubro de 2023, ele mal poderia imaginar o cavalo de pau que sua vida daria. A moto tinha sido comprada, anos antes, para atender o volume de entregas que cresceram durante a pandemia. Largou, então, a profissão de pizzaiolo e foi se arriscar no caótico trânsito da grande metrópole. Corta a cena.

Churrasqueira equilibrada no meio fio. Cerveja vendida em carrinhos com gelo e um inconfundível cheiro de feromônio masculino e feminino paira no ar. É sexta-feira! Dezenas de centenas de pessoas se deslocam sob um frio de 14 graus até a Rua João de Barros, na Barra Funda. O destino é o Bar do Chagas, o novo point das noites paulistanas.

“Como é que é, felinos e felinas…”, diz Rom Santana, com a voz amplificada. A súplica é atendida imediatamente pelo público, que ergue a mão para cima e contrai os dedos, simulando uma garra em ataque.

O cantor, então, surge em cima de um palco improvisado. Cabelinho na régua, camisa preta que realça os músculos tonificados na academia e um crucifixo sobre o peito. Óculos escuros, mesmo com o breu da noite. Rom Santana não tem banda. O som base que o acompanha sai de uma caixa eletrônica, ao qual pluga o microfone.

Rom Santana nos braços do público paulistano, com repertório de arrocha, piseiro e pagodão
Rom Santana nos braços do público paulistano, com repertório de arrocha, piseiro e pagodão Crédito: Arquivo pessoal

O repertório é variado. Há desde canções autorais até clássicos, com versões de Kid Abelha e Ritchie, alternando o ritmo entre piseiro, brega, forró e arrocha. O ponto alto é o pagodão baiano, resgatando sucessos de LevaNóiz, La Fúria, J. Eskine e Léo Santana.

No pico do êxtase, ignorando as baixas temperaturas que insistem em despencar, Rom Santana tira a camisa. Os gritos aumentam. O show termina logo depois. A Lei do Psiu, regramento urbano municipal de São Paulo, impõe multas pesadas para altos barulhos depois das 22h.

“Eu me movimento tanto no show que, quando chega a hora de subir e tirar a camisa, nem sinto frio. Já virou minha marca registrada. Fui tocar em um casamento que as próprias pessoas praticamente me obrigaram a tirá-la. No início eu nem queria, porque pensei em fazer um show mais intimista”, ri o felino, em entrevista à coluna.

Cantor baiano tira a camisa no ponto alto da festa, quando toca o pagodão
Cantor baiano tira a camisa no ponto alto da festa, quando toca o pagodão Crédito: Arquivo pessoal

Sucesso, pizza e Iramaia

O ano de 2025 tem sido especialmente próspero para Rom Santana. Ele consegue quantificar pelo crescimento exponencial – e orgânico – do número de seguidores em suas redes sociais. “Comecei o ano com 2 mil pessoas. Depois dos shows, subi para 10 mil. Isso sem pagar nada. Só no boca a boca dos fãs”, orgulha-se.

O roubo da moto foi o empurrão final para se aventurar na carreira artística. Antes, já ensaiava este passo postando vídeos no facebook e, eventualmente, fazendo pequenas participações em bares no bairro do Bixiga, tradicional reduto do samba em São Paulo.

Rom nasceu na cidade de Iramaia, na parte oeste da Chapada Diamantina. Foi criado no povoado de São José, mais precisamente na Fazenda Água Branca, onde seu pai era caseiro. Filho caçula em uma família com mais dois irmãos, se mudou para São Paulo em 2010, à convite do primogênito.

“Meu irmão já era pizzaiolo em um restaurante no Bixiga. A coisa não tava muito boa lá em Iramaia, por conta da forte seca. Então, decidi viajar para ser ajudante dele. Lembro até da data que cheguei: 28 de dezembro de 2010. Tinha 16 anos”, conta.

Para custear a passagem, o pai de Rom sacrificou uma das duas vaquinhas do seu parco rebanho. Anos depois, seu irmão voltou para a Bahia, mas ele decidiu continuar.

“Acabei fazendo de tudo aqui. Trabalhei como garçom, motoboy, fiz muitos bicos. Tinham épocas bem difíceis e cantar era minha única válvula de escape. Mas não imaginava que ainda poderia ter uma carreira e fazer sucesso”, pontua.

A mudança começou na simbólica Rua 13 de Maio, quando assumiu os microfones e começou a lotar os estabelecimentos do Bixiga. Passou a ser chamado de ‘O Rei da 13’ e, desde então, vive exclusivamente da sua arte. O próximo passo agora é lançar seu primeiro EP – com oito músicas inéditas e autorais.

“Era engraçado porque, antes de estourar, eu chegava na cara dura e pedia para tocar no bar. O dono perguntava onde estava minha banda e eu dizia que era só eu e a base de som que estava no meu celular. Tentei um tecladista, mas nunca consegui. Alguns davam risada, mas outros me deixavam tocar e gostavam do resultado”, relembra.

Tetra, ida a Salvador e Léo Santana

Quando perguntado quem é sua maior inspiração na música, Rom não titubeia: Léo Santana. O gigante do pagode serviu de estímulo para moldar toda sua estética artística.

“Me chamo Romário, mas meu apelido de infância sempre foi Rom. Quis usar pra parecer com Léo, que também são três letras. Aí, na hora de pensar no sobrenome, peguei o Santana dele. Meus primos lá na Chapada tem o sobrenome Santana. Eu não tenho, mas fiz essa licença poética”, diverte-se.

O nome Romário é uma referência direta ao craque brasileiro de futebol – hoje, Senador da República pelo PL. Rom nasceu em 26 de julho de 1994, nove dias após o Brasil conquistar o tetracampeonato mundial de futebol, nos Estados Unidos.

Apesar disso, dá de ombros para o esporte, mas se apega à data de nascimento. “Como eu sou do signo de Leão, falava sempre nos shows que o felino chegou… O público gostou e comecei a chamar eles de ‘felinos e felinas’. Depois, bolei a coisa de fazer a garra com a mão. Agora, isso virou febre”.

Rom sonha com o dia que vai conhecer Léo Santana pessoalmente. Em dezembro deste ano, viaja pela primeira vez para Salvador, onde toca num casamento. “Quero aproveitar e ir em alguns shows de pagode para pegar mais referências de repertório e também de dança. Sobre Léo Santana, nem sei qual seria minha reação ao vê-lo de perto. Ele é um cara muito diferenciado”, conclui.

A maior aspiração na carreira, no entanto, é outra. O sonho é fazer um show em Iramaia, tocando para os parentes, amigos e conterrâneos. Os ecos do sucesso em São Paulo já começaram a chegar na pequena cidade, com menos de 10 mil habitantes. O empresário tenta fechar uma data para que esta apresentação aconteça.

“Vai ser o momento mais especial da minha vida. Saí da minha cidade ainda muito novo e queria muito me apresentar lá. Além disso, quero dar uma melhor condição de vida aos meus pais, que hoje estão aposentados”, projeta Rom.

Mesmo com o sucesso na grande metrópole, o felino parece movido pela máxima do escritor russo Léon Tolstói. “Se quer ser universal, começa por pintar a tua aldeia”.

Esta coluna é uma homenagem aos felinos Mark Figueredo, Ednor Neto, Carol Carvalho e Júlia Ionele (em memória).