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Brincando de boneca – quando o infantil passa à frente do adulto

Falar em recusa a amadurecer remete ao personagem Peter Pan, imune à ação do tempo

Publicado em 24 de junho de 2025 às 05:00

Bebê reborn
Bebê reborn Crédito: Reprodução

Muito se tem comentado sobre o que seria a “vida adulta” atual, com dizeres envolvendo pagar boletos e não dispor de energia para prolongar atividades, mesmo aquelas consideradas como lazer. Esse cenário que pinta uma adultez tediosa conversa com uma certa recusa ao amadurecimento, fenômeno tão velado quanto frequente na clínica cotidiana.

Falar em recusa a amadurecer remete ao famoso personagem Peter Pan, o menino que conseguia permanecer imune à ação do tempo. Revisitando essa história clássica, lembramos que as crianças habitantes da Terra do Nunca conseguiam a proeza de não envelhecer (e, consequentemente, escapar ao destino cruel de casar, ter filhos e pagar boletos) exatamente em função da recusa a abdicar de suas características infantis: fantasia, credulidade, ausência de responsabilidade. Explicando através de uma fala do próprio Peter Pan, “real é tudo aquilo que soa verdadeiro”, ou seja, a pessoa que funcionar assim será capaz de “realizar” aquilo em que simplesmente decidir acreditar, se for capaz de dispensar a racionalidade.

Olhando pela via da fantasia, parece muito vantajoso funcionar ao modo Peter Pan. Há que se lembrar, no entanto, que um dos motivos para a ausência de amadurecimento do personagem é justamente não dispor de memórias e experiências; citando sua amiga Wendy, o caso é que “as novas aventuras expulsam as antigas da mente”, permanecendo então o Peter Pan sem a capacidade de reter aprendizados. Em um contexto social que tende a empurrar os indivíduos para um ritmo frenético de busca por novas sensações, esse funcionamento parece extremamente vulnerabilizante, com ciclos que se repetem e se repetem em carrossel (trocando, talvez, apenas o cavalinho).

Sabe-se que a linha entre o maravilhoso e a maluquice é muito tênue, e não seria diferente no campo de uma clínica que se propõe a escutar adultos que se queixam de si mesmos e/ou de quem os cerca. De certa forma, não surpreende que apareçam por aí cada vez mais provocações sobre o universo do “infantil”, do “surreal”, da fantasia. Alguns autores afirmam que a resistência a se tratar se traduz no comportamento de repetir em lugar de recordar... e para recordar é preciso parar e escutar.

Paula Dione é Psiquiatra na Holiste Psiquiatria