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Da Redação
Publicado em 19 de dezembro de 2010 às 13:41
- Atualizado há 2 anos
Aí vai meu coração – as cartas de Tarsila do Amaral e Anna Maria Martins para Luís Martins, obra assinada pela escrita e tradutora Ana Luisa Martins, é agora relançada pelo Global Editora de São Paulo, em segunda edição. A primeira foi em 2003, pela Editora Planeta do Brasil.>
Um registro inédito de parte da vida da pintora modernista Tarsila do Amaral, que reúne suas cartas a Luís Martins, conhecido jornalista e crítico de arte, atuante nos anos 40. Autodidata, de vasta cultura, o crítico participou da Semana de 22, era ligado a causa modernista e a seus integrantes. Após a morte de Luís Martins em 1981, sua filha, Ana Luisa Martins, que tinha visto estas cartas aos oito anos, concluiu que era importante publicar este material, e o fez quase duas décadas depois.>
O livro conta, através de cartas, o relacionamento de Tarsila, Luís Martins e Anna Maria Coelho de Freitas, já viúva, mãe da autora. Houve um triângulo amoroso, desfeito com o casamento de Luís Martins com Anna Maria, que era prima da pintora. A edição tem texto de orelha de Lygia Fagundes Telles, 248 páginas, capa e projeto gráfico de Marcia Signorini. Preço R$ 45. O livro é dividido em blocos, texto da autora/narradora, cartas de Tarsila entre 1950 e 1951, cartas de Anna Maria Martins, que também era escritora, e crônicas de Luís Martins. O trabalho vem enriquecido por fotografias, ilustrações de Tarsila e Luís Martins, fac-símiles de cartas e crônicas.>
No livro, Ana Luisa Martins escreve de maneira direta, livre e respeitosa suas memórias, esclarece detalhes não explicados pelas correspondências e revela novos fatos. O foco mais instigante do livro são as cartas de Tarsila.>
Aí vai meu coração – era assim que Tarsila do Amaral se despedia em cartas a Luís Martins, assinando Truly. Em 1933, Tarsila já era uma artista famosa, quando conheceu Luís Martins. Iniciaram um relacionamento que durou mais de dezoito anos. Ele foi o último companheiro da pintora. Luís Martins tinha vinte e seis anos quando a conheceu, ela quarenta e sete.>
Uma diferença de vinte anos, que se hoje ainda pode parecer estranho, imagine-se no início dos anos 30. Não se casaram, e boa parte da família Amaral, poderosa produtora de café, rompeu relações com Tarsila. Mesmo com quarenta e sete anos, impressionava pela beleza exótica, inteligência, cultura e refinamento. Teve educação europeia.>
Antes de Luís Martins, Tarsila tinha tido três relacionamentos afetivos, dois oficializados. O primeiro casamento foi em 1906, com o farmacêutico André Teixeira Pinto, quando nasceu sua única filha, Dulce. O relacionamento durou pouco. Depois veio Oswald de Andrade, romance começado após Semana de 22, que durou sete anos. A pintora não participou do evento, estava na Europa. Os padrinhos do casamento Tarsila/Oswald foram o presidente da República em exercício, Washington Luís, e a refinada senhora Olívia Guedes Penteado. Com Oswald, viajou pelo mundo, conviveram com importantes artistas e personalidades da época, gastaram muito do dinheiro dos pais. Patrícia Galvão, mais conhecida como Pagu, era frequentadora da casa do famoso casal, e iniciou com Oswald um romance, quando 1929, engravidou. Tarsila deprimiu, mais tarde o ex-marido tentou reatar laços, sem sucesso.>
O terceiro relacionamento de Tarsila durou de 1931 a 1933, com o psicanalista Osório César, que desenvolvia importante trabalho no hospital psiquiátrico do Juqueri. Viajaram para a Turquia, Iugoslávia e antiga União Soviética – é a “fase socialista” como escreve Ana Luisa Martins.>
Tarsila foi presa por um mês no presídio do Paraíso, devido a sua viagem à Rússia e reuniões com grupos de esquerda. Os diversos casamentos, a atitude livre e a prisão de Tarsila, para a época, foi um escândalo. Desaprovada pelos irmãos, a artista era amada incondicionalmente por seu pai, que gastou grande parte de seu patrimônio, com seus estudos na Europa, viagens, financiamento de ateliês e vestidos assinados por Poiret. Tudo é contado de forma intimista.>
Tarsila oscilou entre glórias e desencontros, mas deixou uma obra monumental, para referência da arte brasileira.>