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Da Redação
Publicado em 21 de fevereiro de 2016 às 15:36
- Atualizado há 2 anos
Com a crise que sufoca o país, mais de 100 mil lojas fechadas, desemprego , desesperança, como pode a arte resistir, pois é também um produto de consumo?>
O artista cria e busca vender suas produções para viver com dignidade. Muitas galerias fecharam suas portas no Brasil e muitas ainda fecharão. Assim será.>
Se já é difícil o comércio nos bons tempos, como fica o artista quase sem galerias e recessão galopante? Arte é uma das últimas coisas que se compra nos bons tempos para decorar uma casa e a primeira coisa que se deixa de comprar quando há recessão. Um produto sensível em todos os aspectos. Geralmente, a arte não enriquece seus criadores. Se o artista é rico certamente não veio deste meio; pode ser de herança, fontes alternativas de renda, Mega-Sena ou milagres. No Brasil é ainda mais difícil. O que fazer com o mercado em baixa? Deixar de produzir e esperar dias melhores, ou estocar as produções? Bem melhor estocar, porque garante o futuro, uma espécie de previdência privada. Mas quem nasce com a arte como destino, como sentido de vida, não para; não há tempo bom, nem ruim, é pura ação. É certo que o desaquecimento do mercado, desanima , decepciona, mas não é motivo para desacelerar a criatividade, nem o fazer.>
No fim da vida, o pintor Antonio Maia (foto) tinha um quarto repleto de quadros, quase 200. Ele justificava que “um dia, pode mudar, é meu INSS, e se eu ficar doente já tenho do que viver ". Parar é duplo suicídio: interromper uma atividade visceral e ainda empobrecer o acervo pessoal do artista de sua munição para enfrentar a vida, seu “sal”, que mais tarde poderá ser trocado por dinheiro, que é a base de sustentação na vida. O dinheiro é quem sustenta o casal, o social, o familiar, o profissional e o próprio eu. Todos temos que comer, vestir, morar, se alimentar, ter lazer, educar filhos para quem os tem, ajudar familiares. se necessário. Enfim, muitos vetores.>
Quando um país empobrece, sua arte pode até melhorar, mas não circula. Se não circula, a história também empobrece. Os cortes para museus, instituição ligados à arte, incentivos deprime, apavora. Desesperar não resolve, nem o conformismo. Há de se ter um imenso cabedal de possibilidades para sobreviver a crise.>
A paciência tem limites e as responsabilidades que respondam por elas quem cometeu desacertos. A coisa mais séria que um ser humano pode ter é acreditar em sua humanidade, passível de erros e acertos, desculpar-se e mudar de direção. É um bom início.>
Não se sacrifica um povo por teimosia, vaidade, sistema de crenças, jogos de poder e ideologias, seja lá qual for. O resultado final das ações tomadas por cada indivíduo é que dita seu grau de responsabilidade no que acarreta ao outro. Se estratégias não estão dando certo, não adianta insistir nos erros, só piora e deixa para os tempos um legado de triste memória. Nunca se esquece um grande estrago. A memória faz parte da história, pessoal e coletiva. Rejeitar o óbvio, com tantos marcadores confiáveis, é menosprezar a capacidade reflexiva de um povo e apostar em sua acomodação. A sua capacidade de indignar-se e buscar o bem-estar. O artista traz no bojo de seu instinto organizar o caos, movido pela necessidade interna de expressar sentimentos e fatos decorrentes de sua época. O destino de um artista será sempre a ocorrência, e as pontes de acesso entre pessoalidade e o pluralismo contemporâneo. Sua vida e sua arte estarão sempre conectadas com os estranhamentos do cotidiano. Todo artista é refém do seu fazer, marca autoral, grafia e pensar. O resultado destas coisas é o que dá à obra o reconhecimento, e distingue a “perfumaria” e a essência.>
O ideário de qualquer criador depende da agudeza de sua atitude mental, da capacidade de estar no mundo e realizar, não preocupado com seu mundo narcísico, mas especialmente com o outro, com seus semelhantes, que juntos formam a força da arte e sua capacidade transformadora.>