Espaços de afeto

Não raro, a arquitetura popular revela concepções próprias de um lugar que transita pelo plano sensível

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  • Cesar Romero

Publicado em 14 de agosto de 2023 às 05:00

Um viés em artes plásticas no Brasil vem da fixação da arquitetura popular em diversas técnicas, especialmente a pintura. A arquitetura popular não tangencia o pueril, mas vivifica alegre visão do mundo, demarcando os espaços que protegem e abrigam o corpo. Concebida pelo homem do povo que a realiza, concentrando espaços do afeto, de modo marcante, a casa inverte a ordem das formas e do gosto das camadas eruditas, ainda que possa reproduzi-las por meio da apropriação. Por ser território livre à imaginação, fundando os lugares da família, a casa envolve-se numa aura onírica que a torna pessoal dentro das diferenças possíveis numa dada ambiência.

Não raro, a arquitetura popular revela concepções próprias de um lugar que transita pelo plano sensível, podendo assim materializar espaços imaginários. Nessa arquitetura destaca-se sua divisão interna, bem como se destacam os ornatos das fachadas e muitas vezes as cores intensas, em sendo o colorido o elemento predominante no gosto popular. Entre os artistas brasileiros que cuidam da arquitetura popular como tema encontramos: Aldo Bonadei, Ernesto de Fiori, Emanuel Nassar, Alfredo Volpi, José Antônio da Silva, Carlos Prado, Amaury Menezes, Julio Martins da Silva, Emygdio de Souza e Madeleine Colaço, por exemplo.

Os temas brasileiros são variados e dão possibilidades de fixar o Brasil em forma, linha e cor. Não são melhores que outros temas internacionais, mas estão mais próximos de todos nós e ainda dão maior visibilidade a nossas tradições, formatando a ideia de Pátria. O que o Brasil necessita é do escoamento de suas produções artísticas. Estados Unidos, Inglaterra e França (geralmente, países europeus) promovem de forma constante suas Escolas e seus artistas. Assim formam a noção de pertencimento. O Brasil ainda não conseguiu emplacar nomes nas artes visuais, que fizessem sucesso de crítica e mercado no exterior. Existem artistas com trajeto internacional como Vic Muniz, Antonio Dias, Ligya Clarc, Lygia Pape, Helio Oiticica, Leonilson, Adriana Varejão, entre outros.

Mas não se comparam em fala e prestígio aos cubanos Vilfredo Lan, Amélia Peláez, aos venezueulanos Jesus Soto, Cruz Diaz, ao uruguaio Joaquim Torres Garcia, aos mexicanos Rufino Tamaio, David Siqueiras, Diego Rivera e, José Orozco. É certo que, pode-se dizer, quase todos estudaram e moraram na Europa, mas todos de grande talento. Nosso país é uma fonte inesgotável de assuntos para criadores, mas não acontecemos. Parece não haver interesse dos governos em divulgar nossas arte, ficamos quase sempre entre nossas fronteiras, especialmente o eixo Rio-São Paulo.