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Como fica a saúde mental depois de setembro?

Internação psiquiátrica não é ‘coisa de maluco’: é como a UTI da saúde mental, que trata casos graves

Publicado em 30 de setembro de 2025 às 05:00

Setembro Amarelo reforça os cuidados com o bem-estar emocional e a valorização da vida no ambiente de trabalho
Setembro Amarelo reforça os cuidados com o bem-estar emocional e a valorização da vida no ambiente de trabalho Crédito: Shutterstock

As pessoas falam sobre saúde mental em setembro, mas e o resto do ano? Por que no Outubro Rosa não se fala sobre a saúde mental da mulher e no Novembro Azul só se fala de próstata, como se a saúde do homem fosse reduzida a isso? Precisamos ter um olhar ampliado para a saúde mental de janeiro a janeiro e isso significa refletir sobre o que pautamos. Incluo nesse debate o próprio Setembro Amarelo, que divide opiniões.

A meu ver, as notícias focam muito no suicídio em si e alarmar a sociedade não é o caminho. Estudos mostram o aumento do índice de mortes autoprovocadas desde 2015, quando foi lançada a campanha nacional de prevenção ao suicídio. Isso não significa que o assunto deve ser silenciado, mas que precisamos falar mais sobre saúde mental, reforçar a importância da prevenção e do tratamento.

Falar sobre saúde mental é entender o suicídio como uma consequência trágica de determinadas patologias, uma explicação para o tratamento inadequado dos transtornos mentais, e ir além. Falar sobre saúde mental é superar o preconceito em torno da psiquiatria e não ter vergonha do assunto. É acolher sem julgar. É saber que o pedido de ajuda muitas vezes é silencioso e ter atenção aos sinais de mudança de comportamento é atuar na prevenção.

Falar sobre saúde mental é entender, de uma vez por todas, que a internação psiquiátrica não é “coisa de maluco”: ela é como a UTI da saúde mental, que trata casos graves e agudos para que não evoluam para o desfecho trágico. É compreender a importância da psicoterapia, da atividade física e de toda a equipe multiprofissional no tratamento.

É lembrar que a depressão não significa o fim do caminho: ela tem solução. Se você não respondeu a um antidepressivo, ou foi enquadrado no critério de depressão resistente, o mundo não acabou. Existem opções terapêuticas, a medicina evoluiu muito.

Elas vão desde a associação de antidepressivos e a potencialização com outros medicamentos, até o uso da psiquiatria intervencionista que inclui a infusão de cetamina, a Estimulação Magnética Transcraniana (EMT) e a Eletroconvulsoterapia (ECT). Ao contrário do que os filmes retratam, a ECT não é um meio de tortura: é um método terapêutico eficaz, seguro, feito sob sedação e regulamentado pelo Conselho Federal de Medicina.

Usada no tratamento de transtornos mentais graves, a ECT tem taxa de resposta/remissão de 60 a 80% no transtorno depressivo resistente, comparada a 20/30% dos tratamentos convencionais. Na depressão psicótica a resposta chega a 90%.

Estudos clínicos mostram que a cetamina – por apresentar respostas rápidas, muitas vezes na primeira aplicação –, também é uma alternativa terapêutica, sendo indicada para o tratamento da depressão refratária, com risco iminente de suicídio. A EMT, também por sua ação rápida, é mais uma alternativa para tratar a depressão, transtorno que atinge 300 milhões de pessoas no mundo, sendo 11 milhões no Brasil.

O fato é que ainda existe muito tabu em torno do tratamento dos transtornos mentais. Enxergo o Setembro Amarelo como um convite ao diálogo, uma oportunidade para mostrar as possibilidades. Precisamos ampliar o debate e levar a saúde mental a mais pessoas. Que esse assunto esteja presente o ano todo.

André Gordilho
André Gordilho Crédito: Divulgação

André Gordilho é psiquiatra com título pela ABP, diretor técnico do Grupo Bom Viver (@grupobomviveroficial). Especialização em psicogeriatria e psiquiatria intervencionista.