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Darino Sena
Publicado em 7 de junho de 2016 às 04:58
- Atualizado há 3 anos
Quando voltou ao Vitória, há um ano, Vagner Mancini me disse que o maior desafio tinha sido recuperar a confiança do elenco. O clima de desconfiança não pairava somente nos vestiários. Também estava nas arquibancadas: além de duvidar do time, parte da torcida não acreditava em Mancini.O técnico tinha deixado o clube na passagem anterior, a segunda, com a pecha de inventor. Colaram nele o injusto estigma de professor Pardal. O mais sintomático dos argumentos era a mal sucedia improvisação do lateral Apodi como atacante. Os detratores também taxavam Mancini de inconsequente, por montar times ofensivos demais.Mancini não respondeu às críticas que ecoavam pela imprensa. Nem as deve ter ouvido. Quando nos conhecemos, me confessou que não acompanhava as análises da mídia. Para não se irritar com a falta de critérios. A resposta aos críticos, ainda que indireta, veio dentro das quatro linhas. Mancini encorpou o bom trabalho do auxiliar Wesley Carvalho, que tinha assumido interinamente no lugar de Claudinei Oliveira. E não é que Mancini inventou? Escalou o então ponta Rhayner como armador. O elenco não tinha gente com dinâmica para jogar pelo meio atacando e defendendo. No pulmão de Rhayner, Mancini enxergou a solução. Não teve medo de ver ressurgir a antiga pecha de professor Pardal. Apostou no próprio instinto. Acertou em cheio. Rhayner formou, ao lado de Escudero, Gatito e Fernando Miguel, o quarteto de jogadores protagonistas do acesso rubro-negro em 2015.Apesar de não admitir publicamente, foi esse mesmo instinto que fez Mancini bancar a escalação de Caíque, então terceiro goleiro, em substituição ao lesionado Fernando Miguel no primeiro Ba-Vi de 2016. O garoto, 18 anos, jamais tinha atuado como profissional. "Acreditei porque via o rendimento dele nos treinos". Caíque retribuiu fechando o gol e sendo o melhor do clássico. Mancini não resistiu um ano à frente do Vitória apenas por sua personalidade e instinto. Tem mostrado conhecimento, sobretudo dos adversários. Graças a isso é que passou fácil pelo Bahia nos dois Ba-Vis da Segundona do ano passado - 4x1 e 3x1. E pelo mesmo motivo, bateu o Bahia no primeiro duelo deste ano, mesmo com um time, naquele momento, tecnicamente inferior - 2x0 na Fonte. Neste retorno, venceu quatro dos cinco clássicos que disputou. No único que perdeu, saiu campeão.A freguesia do maior rival nem é a principal conquista desta terceira Era Mancini. É o resgate do respeito ao Vitória dentro do Barradão. Nos últimos anos, o torcedor acabou sendo forçado a se acostumar a frustrações e humilhações dentro da própria casa. Com Mancini, isso mudou. Este ano, por exemplo, Corinthians e Inter chegaram ao estádio como líderes do Brasileirão. Voltaram para São Paulo e Porto Alegre derrotados e sem seus postos. O Vitória voltou a se impor no Barradas porque Mancini é um grande conhecedor do DNA do clube. Percebeu que o rubro-negro tinha se afastado de sua essência - a de sufocar os adversários em casa, com velocidade e intensidade, independentemente do tamanho deles. Mancini trouxe de volta essa identidade perdida. Será o bastante para permanecer mais um ano? Claro que não. O que Mancini fez, na lógica imediatista do nosso futebol, já é passado. Para ficar, tem que se manter na elite. Capacidade para isso o técnico não precisa mais provar. O que ele necessita é da ajuda dos cartolas. Com um elenco um pouco melhor, pelo nível do campeonato, Mancini poderia brigar mais acima da zona de rebaixamento.>