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Editorial
Publicado em 17 de outubro de 2025 às 05:00
Cem dias. Esse é o tamanho do abismo entre o que a lei determina e o que os estudantes da rede estadual da Bahia efetivamente recebem em sala de aula. Um estudo da Rede Escola Pública e Universidade (Repu), coordenado pelo professor Fernando Cássio, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), revelou que os alunos do ensino médio baiano têm o equivalente a 100 dias letivos a menos do que o mínimo exigido por lei. >
A distorção ocorre porque as escolas oferecem cinco aulas de 50 minutos, em vez dos 60 minutos previstos. Somando os minutos que faltam por dia, o resultado é estarrecedor: ao fim do curso, o jovem conclui o ensino médio com apenas dois anos e meio de tempo efetivo de aula - meio ano a menos de formação.>
O problema não é apenas de matemática curricular. É de responsabilidade pública. A Bahia não cumpre a carga mínima desde 2022, embora a reforma do ensino médio tenha estabelecido prazos claros para adequação. A consequência é um prejuízo real na formação dos estudantes. Enquanto o governo insiste em discursos de modernização e inaugurações pontuais de escolas integrais, o ensino regular segue operando em déficit - e com prejuízo direto para a juventude baiana.>
Os números nacionais confirmam o tamanho da tragédia educacional. O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) 2023, divulgado no ano passado, pelo Ministério da Educação (MEC) e pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), mostra que a Bahia tem o pior desempenho em língua portuguesa e matemática no ensino médio de todo o país. Em outras palavras: a rede estadual que menos cumpre a lei também é a que menos ensina.>
E não para por aí. Os novos dados do Todos pela Educação, divulgados no mês passado, escancaram uma realidade que o governo da Bahia insiste em escamotear. O estado ocupa o segundo lugar nacional em abandono escolar: 5,8% dos estudantes do ensino médio deixaram os estudos em 2024, contra uma média nacional de 3,2%. Apenas 56,8% dos jovens de 19 anos concluíram o ensino médio, último lugar no Nordeste. Em qualquer país sério, esses números exigiriam uma reação imediata. Aqui, seguem sendo tratados com indiferença.>
Esses dados, por si só, já seriam suficientes para acender todos os alertas. Mas tornam-se ainda mais grave quando lembramos que, no mesmo ano em que esses indicadores vieram à tona, o governo petista de Jerônimo Rodrigues editou a portaria da aprovação automática. >
Sob o pretexto de combater a evasão, a portaria soa - e é - uma tentativa de maquiar resultados. Afinal, como já questionamos, de que adianta aprovar em massa se apenas 2,5% dos alunos baianos concluem o ensino médio com aprendizado adequado em matemática e 22,2% em língua portuguesa, segundo o Todos pela Educação? A aprovação sem aprendizado não é política pública - é autoengano.>