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A cultura do confronto e a tragédia baiana

Um quarto de todas as mortes cometidas por agentes do Estado no país ocorreu na Bahia; o governo Jerônimo não pode continuar fingindo normalidade diante dessa tragédia

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  • Editorial

Publicado em 24 de outubro de 2025 às 05:00

O número de pessoas que a polícia mata em ação já não choca: ele escandaliza. De janeiro a setembro deste ano, foram 1.252 vítimas da violência policial na Bahia, o que representa uma média de cinco mortes por dia. Os dados são do Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública (Sinesp), vinculado ao Ministério da Justiça.

Em todo o Brasil, foram registradas 4.504 mortes por intervenção policial no mesmo período. Ou seja, um quarto de todas as mortes cometidas por agentes do Estado no país ocorreu na Bahia. O governo petista de Jerônimo Rodrigues não pode continuar fingindo normalidade diante dessa tragédia.

A Secretaria de Segurança Pública (SSP-BA) agora lança um plano que promete reduzir as mortes em ações policiais em 10% por semestre até 2027. Mas é difícil acreditar em novas metas quando, há quase duas décadas no poder, os governos petistas acumulam programas de resultados modestos, como o Pacto pela Vida e o Bahia pela Paz. São políticas lançadas com discursos de modernização e compromisso social, mas que, na prática, têm se mostrado incapazes de conter a violência e transformar a realidade do estado.

O novo plano reconhece, pela primeira vez, que há uma “cultura do confronto” enraizada na corporação. A pergunta é inevitável: por que o governo demorou tanto para admitir o óbvio? A própria SSP reconhece que as investigações sobre mortes por ação policial não avançam. Apenas 23,4% dos inquéritos foram concluídos em 2024, o que significa que a impunidade é a regra.

Enquanto isso, jovens negros e pobres continuam morrendo em operações que, muitas vezes, sequer são comunicadas oficialmente. Das mais de 1.300 câmeras corporais compradas, apenas 7,5% estão em uso efetivo, segundo o Ministério Público da Bahia. É como se o governo comprasse a tecnologia apenas para mostrar serviço - um teatro administrativo.

A comparação internacional é ainda mais perturbadora: a polícia da Bahia mata mais do que todas as forças de segurança dos Estados Unidos. Em 2022, segundo o Mapping Police Violence, 1.201 pessoas morreram em ações policiais no país norte-americano. A Bahia já superou esse número em 2025, sozinha. É inaceitável que um único estado brasileiro registre mais mortes do que uma nação inteira com 340 milhões de habitantes.

O governo fala em modernizar a formação policial, investir em mediação e rever protocolos, mas nada disso se sustenta sem vontade política e transparência. Quando o Estado se omite, o resultado é o que já vemos: um modelo de segurança pública que mata muito e protege pouco. A Bahia precisa de uma política de segurança que valorize a vida - não de mais um plano que maquie estatísticas.