Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Editorial
Publicado em 19 de dezembro de 2025 às 05:00
O que aconteceu no Alto do Cabrito não é apenas mais um capítulo da escalada da violência na Bahia. É uma barbárie em seu estado mais cru. Três trabalhadores - Ricardo Antônio da Silva Souza, Jackson Santos Macedo e Patrick Vinícius dos Santos Horta - saíram de casa para cumprir suas obrigações profissionais e jamais voltaram. Foram sequestrados, amarrados e executados por uma facção criminosa. Não tinham passagem pela polícia, não estavam envolvidos com ilícitos, não representavam ameaça alguma. Eram técnicos de internet, um deles pai de família, executados por fazer aquilo que deveria ser seguro em qualquer sociedade: trabalhar. >
Nada pode normalizar esse horror. É barbárie que profissionais em serviço sejam assassinados por criminosos que se arrogam o direito de decidir quem pode circular, trabalhar ou viver em determinados territórios. É barbárie que áreas inteiras da capital baiana estejam submetidas a um “pedágio” imposto pelo crime organizado. E é barbárie admitir que empresas precisem pagar taxas ilegais para proteger seus funcionários e manter atividades essenciais funcionando.>
É preciso deixar claro: a empresa não pode ser responsabilizada por se recusar a pagar extorsão a facções. O erro não está em quem se nega a financiar o crime. O erro está na ausência do Estado. A responsabilidade é do governo estadual, comandado por Jerônimo Rodrigues, que falhou em garantir o mínimo: segurança para que cidadãos trabalhem sem serem executados.>
Os detalhes do crime tornam tudo ainda mais chocante. Horas antes, os três gravaram um vídeo no qual aparecem descontraídos e brincando antes do expediente. Depois, foram capturados, levados e encontrados mortos, ainda com as fardas de trabalho, mãos e pés amarrados. >
O governador afirmou que o crime será apurado. A declaração, embora necessária, é insuficiente diante da gravidade dos fatos. É preciso mais do que palavras. Como será conduzida essa apuração? Quais medidas concretas estão sendo tomadas para desarticular o esquema de extorsão imposto por facções? Que providências imediatas serão adotadas para garantir a segurança de técnicos, entregadores, motoristas e tantos outros profissionais que circulam diariamente por áreas dominadas pelo crime? O que será feito para impedir que novas barbáries como essa se repitam?>
A sociedade baiana precisa de respostas claras, rápidas e eficazes. Não basta prometer rigor após a tragédia consumada. É inadmissível que trabalhadores sejam mortos como forma de “recado” criminoso, enquanto o Estado corre atrás do prejuízo. Este jornal acompanhará de perto cada passo da investigação. Barbáries, como a do Alto do Cabrito, não podem ser tratadas como estatística, nem cair no esquecimento.>