Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Editorial
Publicado em 10 de outubro de 2025 às 05:00
O governo da Bahia anunciou que investiria mais de R$ 23 milhões na compra de câmeras corporais para as forças de segurança, mas o resultado até aqui é frustrante. Apesar de 1.263 equipamentos entregues, apenas 95 estão em uso, segundo o Ministério Público estadual. O dado, por si só, é um retrato vergonhoso da ineficiência do poder público e da falta de compromisso com a transparência em uma das áreas mais sensíveis do estado: a segurança pública. >
As câmeras corporais foram apresentadas como símbolo de uma nova era na segurança pública do estado, uma promessa de campanha do governador Jerônimo Rodrigues (PT) que demorou anos para sair do papel. O projeto começou ainda na gestão de Rui Costa, em 2020, e levou quatro anos para que as primeiras bodycams finalmente chegassem às fardas dos policiais, em maio de 2024. Agora que o equipamento existe, está encalhado - sem uso efetivo, sem controle e, sobretudo, sem transparência.>
A Secretaria de Segurança Pública alega que determinou apuração rigorosa e que o uso é obrigatório, sob pena de processo disciplinar. Mas essa promessa soa vazia diante da realidade constatada nas ruas: as câmeras não estão ligadas, não registram as operações e não produzem as provas que poderiam garantir justiça e confiança entre a população e a polícia.>
Mais grave ainda é o silêncio do governo quando ocorrem mortes em operações policiais. Mesmo com equipamentos disponíveis, áudios e vídeos que poderiam esclarecer a versão dos agentes nunca são divulgados. Os casos recentes de Ana Luíza Silva, Gilson Jardas, Luan Henrique e Caíque dos Santos seguem marcados pela dúvida - e pela dor de famílias que não têm acesso à verdade.>
Em um estado onde a polícia mais mata no Brasil, segundo o Anuário de Segurança Pública, com 1.556 mortes em 2024, a falta de transparência é mais que uma falha administrativa: é uma omissão que custa vidas. As câmeras corporais deveriam ser um instrumento de proteção mútua - tanto para o cidadão quanto para o policial -, mas se tornaram símbolo da paralisia e da desorganização.>
O Ministério Público foi claro: é preciso garantir o uso obrigatório das câmeras por todos os agentes das unidades táticas, aquelas mais envolvidas em confrontos e no uso progressivo da força. Mas, até agora, o que se vê é resistência e descaso.>
O governador Jerônimo Rodrigues prometeu modernizar a segurança pública. O discurso, no entanto, não se sustenta diante dos números e das omissões. Sem transparência, não há controle. Sem controle, não há confiança. E sem confiança, não há segurança.>