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Editorial
Publicado em 15 de agosto de 2025 às 05:30
A cultura baiana, orgulho e cartão de visitas do estado, atravessa hoje um dos períodos mais sombrios de sua história recente. O que deveria ser um espaço de produção artística e de fortalecimento da identidade cultural transformou-se em um cenário marcado pelo abandono, improviso e desmonte. Não é à toa que mais de 100 artistas representativos se uniram para assinar um manifesto contundente contra a política cultural do governo petista Jerônimo Rodrigues. >
O texto denuncia a Secretaria de Cultura (Secult) por operar sem orçamento próprio, sem planejamento e sem diálogo com quem realmente vive da arte. O atual secretário, Bruno Monteiro, é chamado de “alienígena”. É acusado de não ter trajetória no setor e de comandar a pasta de maneira centralizadora e pouco transparente. Para os signatários, a gestão cultural do Estado se limita a ações pontuais e imediatistas, subordinadas a interesses partidários, sem visão de longo prazo.>
O exemplo mais gritante do descaso é o fechamento prolongado do Teatro Castro Alves (TCA), o maior e mais importante equipamento cultural de Salvador. Dois anos já se passaram desde o incêndio que atingiu o espaço, e o governo admite que só pretende reabri-lo no primeiro semestre de 2026 - sem sequer informar o mês. Isso significa mais de três anos com as portas fechadas, deixando produtores, artistas e público à míngua.>
As consequências são devastadoras. Produtores viram seu faturamento despencar 70% pela impossibilidade de realizar espetáculos no TCA. Artistas e empresas precisam adaptar montagens para espaços menores e inadequados, com aumento de custos e perda de qualidade artística. Grandes espetáculos deixam de passar por Salvador, e o público perde oportunidades únicas de vivenciar a arte presencialmente.>
Mas o problema vai além do TCA. O Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, entidade cultural mais antiga do estado, ficou meses sem recursos adequados, o que comprometeu a preservação de um acervo fundamental para a memória baiana. O Balé Folclórico da Bahia, reconhecido internacionalmente, também perdeu apoio da gestão estadual.>
Esses casos não são isolados - são sintomas de um abandono sistemático. A participação da cultura no orçamento estadual, que até 2006 girava entre 1,2% e 1,5%, hoje é de míseros 0,5%, segundo especialistas. O governo estadual parece ter esquecido que cultura não é luxo nem evento - é direito, é motor econômico e é identidade.>
A pergunta que não quer calar: o Palácio de Ondina vai ouvir ou continuará virando as costas para aquilo que, mais que qualquer bandeira partidária, define quem somos?>