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Editorial
Publicado em 31 de outubro de 2025 às 05:00
As imagens de casas em chamas após ataques com drones no Rio de Janeiro, nesta semana, revelam a escalada bélica e tecnológica do crime organizado no Brasil. A megaoperação contra o Comando Vermelho (CV) expôs não apenas a brutalidade dos confrontos, que já somaram mais de uma centena de mortos, mas, sobretudo, a fragilidade das instituições em impedir que armamentos de guerra circulem livremente pelo território nacional. >
A apreensão de quase uma centena de fuzis - 93 segundo balanço oficial, mais de 100 segundo o governador Cláudio Castro - é o retrato mais fiel do fracasso da política de controle de fronteiras do governo federal. Não há justificativa plausível para que tamanha quantidade de armamento pesado entre no país sem qualquer interceptação. Trata-se de uma falha estrutural e antiga, mas que, sob o atual governo, ganha contornos de negligência. A conivência com esse descontrole custa vidas, alimenta facções e fortalece o poder paralelo que desafia o Estado nas grandes cidades e agora, perigosamente, em regiões antes menos afetadas.>
Na Bahia, os números também são assustadores. De 2023 até agora, 202 fuzis foram apreendidos - um aumento de 50% apenas no último ano. O dado evidencia que as armas que abastecem o tráfico no Sudeste também chegam ao Nordeste. Se o governo federal quer “estender a mão” aos estados, o mínimo que se espera é que feche as fronteiras e invista em inteligência e rastreamento, para impedir que o arsenal de guerra das facções continue crescendo.>
A postura do governador petista Jerônimo Rodrigues, que afirmou ter oferecido o envio de policiais ao Rio de Janeiro, soa mais como jogada de marketing do que compromisso com a segurança pública. A Bahia, afinal, vive sua própria tragédia: são 2.835 homicídios apenas até setembro deste ano - uma média de dez por dia, número superior ao do Rio de Janeiro. Antes de oferecer ajuda, seria prudente que o governador olhasse para dentro de casa e enfrentasse o avanço das facções que já controlam territórios inteiros em cidades baianas.>
A megaoperação também escancara a dificuldade de cooperação entre o governo federal e os estados. Segurança pública é, sim, atribuição dos governos locais, mas não há combate efetivo ao crime sem uma política nacional integrada. O que se vê, no entanto, é o oposto: um governo federal mais preocupado em rivalizar politicamente com adversários do que em coordenar ações conjuntas. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito para governar para todos os brasileiros. Inclusive, os que não votaram nele. Diante do poderio das facções e do sangue derramado nas comunidades, é inaceitável que disputas políticas se sobreponham ao dever de garantir segurança e soberania ao país.>
Enquanto o tráfico seguir armado até os dentes e as fronteiras continuarem abertas, o Brasil permanecerá em guerra consigo mesmo.>
 
 
 
