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O calote oficial contra a cultura

Desde o governo Rui Costa até a gestão de Jerônimo Rodrigues, o calote contra os artistas tornou-se rotina

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  • Editorial

Publicado em 12 de setembro de 2025 às 05:00

Na Bahia governada pelo PT, ser artista virou sinônimo de viver sob humilhação e incerteza. Músicos que se apresentaram em festas oficiais, contratados com dinheiro público, hoje amargam dívidas, depressão e abandono da carreira. Trabalharam, cumpriram sua parte, mas não receberam. Pior: alguns esperam há quase sete anos o pagamento de cachês referentes a apresentações feitas em 2018 e 2019.

Não se trata de casos isolados, mas de uma prática institucionalizada, herdada da extinta Bahiatursa e mantida pela atual Superintendência de Fomento ao Turismo (Sufotur). Desde o governo Rui Costa - hoje ministro da Casa Civil de Lula - até a gestão de Jerônimo Rodrigues, o calote contra os artistas tornou-se rotina. O Estado contrata, promete pagar, mas não honra.

Enquanto isso, os artistas, em sua maioria locais, são obrigados a se endividar. Tomam empréstimos para bancar transporte, músicos e produção, e acreditam na promessa oficial de pagamento. Como não recebem, mergulham em dívidas. Há quem tenha vendido comida em aplicativos de entrega para sobreviver. Há quem tenha adoecido. E há quem cogite abandonar de vez a carreira artística - sonho sufocado pela irresponsabilidade estatal.

O caso do cantor Genàrd Melo é emblemático: seis shows realizados, mais de R$ 200 mil em cachês não pagos. Ele tomou empréstimo de R$ 50 mil para produzir apresentações e ficou no prejuízo. Situação parecida vive o forrozeiro Valney José, que, ao esperar R$ 8 mil de um show, terminou arcando com custos de R$ 5 mil. Histórias assim se repetem em todo o estado.

O calote, além de ilegal, expõe a contradição de um governo que se apresenta como defensor da cultura. O mesmo Estado que fala em diversidade cultural e apoio aos artistas, na prática concentra contratos em poucas bandas, exclui talentos locais e, quando contrata, não paga. Para agravar, há relatos de pedidos de notas fiscais falsas como forma de driblar a burocracia - um escândalo que precisa ser investigado a fundo.

Como o CORREIO vem noticiando, os governos petistas têm dado as costas à cultura baiana. Prova disso é que, no mês passado, mais de 100 artistas de destaque assinaram um manifesto duro contra a política cultural do governo Jerônimo Rodrigues. O documento afirma que a Secretaria de Cultura (Secult) funciona sem orçamento próprio, sem planejamento e sem diálogo com quem vive da arte.

O Tribunal de Contas do Estado desaprovou as contas da Bahiatursa em 2019, 2022, 2023 e 2024. Ainda assim, nada muda. E a consequência é devastadora: a Bahia, celeiro cultural do Brasil, arrisca-se a perder artistas que poderiam brilhar, mas são esmagados pela negligência e pelo cinismo do poder público.

É hora de parar de empurrar a conta. O governo Jerônimo Rodrigues precisa assumir sua responsabilidade e quitar imediatamente os débitos com os músicos. A Bahia não pode se acostumar com a ideia de que “calote oficial” é normal. Se o Estado contrata, o Estado tem que pagar.