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Divo Araújo
Publicado em 7 de julho de 2019 às 07:00
- Atualizado há 2 anos
Passada a ressaca pelas comemorações da vitória do governo com a aprovação do texto-base da reforma da Previdência, na Comissão Especial da Câmara Federal, está posto o seguinte dilema: vale a pena arriscar a economia esperada com a reforma para atender os interesses de um segmento da sociedade, no caso os policiais federais, rodoviários federais e legislativos (com atuação no Congresso)?>
Pelas suas últimas declarações e movimentos, o presidente Jair Bolsonaro (PSL), acredita que sim. “Tem equívoco, tem mal- entendido, às vezes se exagera. E com a sensibilidade que existe no Parlamento, isso vai ser corrigido. Não acabou a reforma da Previdência ainda”, disse ele, uma dia após a aprovação do texto-base, sem citar especificamente o caso dos policiais, mas dando o seu recado aos parlamentares.>
Já o presidente da Câmara Federal, Rodrigo Maia (DEM), tem convicção que não. “Os deputados precisam compreender que o presidente não é mais presidente de sindicato da segurança pública na Câmara dos Deputados. Se a gente tira uma parte, mesmo que não seja grande, dá sinalização para os outros que não é, de fato, o discurso que se fez desde o início por parte do governo, que era uma reforma igual para todos”.>
Maia teme que uma eventual mudança nessa questão gere um “efeito dominó”, já que outras categorias também poderiam pleitear mudanças. Os policiais federais defendem que a idade mínima para a aposentadoria seja de 53 anos para homens e de 52 para mulheres, com um pedágio de 100% sobre o tempo que ainda faltasse para quem estivesse perto de se aposentar, o que daria acesso a integralidade (último salário da carreira) e paridade (reajuste igual aos policiais da ativa). Deputados comemoraram aprovação da reforma na comissão especial da Câmara (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil) Capitão Augusto, deputado do PSL encarregado pelo presidente para ser o articulador na Câmara em prol da categoria, disse que fará reuniões com o secretário especial da Previdência e Trabalho, Rogério Marinho, e com Maia, na próxima semana, para debater um acordo. Para Maia, no entanto, uma solução para o impasse não será simples. “Não dá para dizer que com 55 anos (idade aprovada na comissão especial) se está velho para aposentar”.>
A posição do governo é fruto de um acordo do presidente com a categoria, segundo o presidente da Associação Nacional dos Delegados da Polícia Federal (ADPF), Edvandir Paiva. Em entrevista dada ontem, Paiva contou que, no último dia 20 de maio, o presidente se reuniu com 20 entidades da União dos Policiais do Brasil e deu uma ordem clara para os ministros e líderes do governo no Congresso e na Câmara presentes no momento no gabinete dele. “É para atender os policiais”, teria dito Bolsonaro, segundo o dirigente, o que o levou a arriscar: “Sinto que ele [Bolsonaro] gostaria de resolver o problema, mas ele não consegue impor a vontade dele ao Ministério da Economia, e nós ficamos na mão”.>
Ao defender a concessão aos policiais federais, Edvandir Paiva argumentou que ela representará um custo de R$ 2 bilhões em 10 anos, 'que não é nem 0,2% frente ao total de R$ 1 trilhão'. Mas, ainda que possa ser considerado um número razoável, não se trata apenas de aritmética. Como defender a convergência entre o sistema de benefícios dos servidores públicos, um dos mais generosos do mundo, e o regime dos trabalhadores comuns, se o governo não só ceder mas trabalhar para suavizar as regras de uma categoria específica? Isso pode favorecer as pressões corporativas, fragilizando a ideia de um reforma ampla, que exija o sacrifício de todos.>
Queda de braço no Fundo Amazônia>
O Fundo Amazônia é alvo de uma queda de braço entre o Planalto e os dois maiores investidores, Alemanha e Noruega. Esta semana, o ministro do Clima e Meio Ambiente da Noruega, Ola Elvestuen, disse que não vai aceitar a proposta do Planalto de alterar a estrutura de gestão do Fundo. Não se trata de um sócio qualquer: a Noruega já investiu R$ 3,4 bilhões em ações de proteção da Amazônia, o que responde por 94% das doações totais feitas ao programa até agora. “Não vemos necessidade de mudar a estrutura de direção do fundo da Amazônia”.>
Antes mesmo do posicionamento da Noruega, o governo da Alemanha reteve, na quarta-feira, uma nova doação de 35 milhões de euros, o equivalente a mais de R$ 151 milhões para o Fundo Amazônia. A doação ficará retida enquanto o governo não anunciar, “claramente”, o que pretende fazer com o principal programa de combate ao desmatamento do país.>
Na semana passada, o comitê gestor do Fundo Amazônia foi extinto, por um ato do presidente Jair Bolsonaro. Hoje, não há estrutura de comando definida para gerenciar o programa, que está paralisado. Em reunião com os representantes dos dois países, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, se comprometeu a entregar, em 15 de julho, uma minuta de decreto com os detalhes do que pretende alterar na gestão do fundo.>
O grande receio dos governos dos países investidores é que os recursos do fundo sejam usados para bancar indenizações fundiárias na Amazônia, que hoje é proibida pelo programa.>
Para Ricardo Salles, a Alemanha e a Noruega não têm com que se preocupar. Segundo ele, o Brasil já atingiu o desmatamento zero -pelo menos do ponto de vista relativo – na Amazônia. “Busca-se o zero absoluto ou o zero relativo? O zero relativo nós já atingimos”, disse Salles . O desmatamento anual ao qual o ministro se refere, contudo, é equivalente a uma área superior à do Distrito Federal. Para Maurício Voivodic, diretor-executivo do WWF-Brasil, a matemática do ministro não faz sentido. “Fingir que o problema não existe é o primeiro sinal de que não se quer combater o problema”.>
ON-LINE/ O BUG DA SEMANA>
Face e zap com problemas>
Milhões de pessoas no Brasil acordaram com uma dor de cabeça imensa na quarta-feira. Foi nesse dia que os aplicativos Facebook, WhatsApp e Instagram tiveram problemas de funcionamento. Com dificuldades para enviar ou receber arquivos de vídeo, foto e áudios, muitos ‘bugaram’ junto com os apps. Usuários do WhatsApp não conseguiram carregar arquivos e enviar imagens (Foto: Nelson Antoine/Estadão Conteúdo) SINAIS DOS TEMPOS>
1 - Extraterreno>
Na formação dos novos diplomatas, a guinada dada pelo Itamaraty do ministro Ernesto Araújo saiu de órbita. “Um terremoto atingiu o Posto, ao mesmo tempo que um tsunami, a explosão de uma bomba atômica por um grupo terrorista e a invasão de alienígenas oriundos de Beta Centauri. Qual deverá ser a prioridade do responsável pela gestão patrimonial?”, indagou, numa das questões do curso de formação de oficial de Chancelaria.>
2 – Aeroportos>
O presidente Donald Trump foi criticado ao afirmar, em discurso no dia da independência dos EUA, que o Exército americano havia conseguido “tomar o controle dos aeroportos” contra os britânicos, em 1775. Curiosamente, no mesmo discurso, citou a façanha dos irmãos Wright, pioneiros da aviação que fizeram o primeiro voo motorizado em 1903. Ao justificar os erros históricos, Trump colocou a culpa no teleprompter.>
3 - Wikipédia>
O Ministério da Educação pediu ao Wikipédia que o verbete sobre o ministro da pasta, Abraham Weintraub, fosse excluído. Na mensagem, o MEC argumenta que, com a restrição de edição, a “pessoa física/jurídica fica incapacitada de declarar ampla defesa e o contraditório”. O verbete sobre Weintraub foi criado em 8 de abril, pouco mais de três horas após Bolsonaro anunciar pelo Twitter que ele seria ministro.'O coração tem razões que a própria razão desconhece. Faz promessas e juras, depois esquece', João Gilberto, pai da Bossa Nova, o cantor e compositor morreu, ontem, aos 88 anos, no Rio de Janeiro. Baiano de Juazeiro, veio para Salvador, jovem, buscar o sonho de viver de música. A frase acima é da canção Aos Pés da Santa Cruz e é uma das muitas que ficarão imortalizadas na música brasileira (Foto: Arquivo CORREIO) TRADIÇÃO>
Heróis do 2 de julho voltam às ruas>
Cumprindo o ritual de quase 200 anos, os caboclos, símbolos da Guerra da Independência na Bahia, foram levados da Lapinha ao Campo Grande em mais um cortejo do 2 de Julho. Depois de três dias ‘escutando’ lamentações, como reza a tradição, foram levados de volta em ritmo de festa. (Foto: Betto Jr/CORREIO) >