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Flavia Azevedo
Publicado em 24 de junho de 2017 às 12:55
- Atualizado há 2 anos
Ando deveras intrigada com essa geração sem pentelhos. Nasci nos anos 70 e não alcancei a moda dos pelos saindo pelos lados dos biquínis e sungas, mas ainda lembro do tempo em que faltar a um encontro com a depiladora não era pecado capital nem desespero. Não era vergonha exibir a prova cabeluda de que já passei da puberdade, de que sou mulher feita. Bastava aparar a maior parte, passar um barbeador na virilha e voilà! Não tínhamos nojinho de pelos púbicos. No começo desse novo "movimento", passei (e não poucas vezes) pela tortura da depilação total. Uma dor desgraçada que não é possível ser obrigatória na vida de ninguém. Parei com essa maluquice ao entender que não precisava me punir previamente pelo prazer que viria depois. Que, pra mim, me preparar para um sexo especial tem mais a ver com banhos perfumados, hidratações carinhosas e golinhos de vinho do que com uma depiladora agredindo as minhas partes íntimas. Para mim, veja bem.>
Eu estava totalmente no meu direito quando preferi bater um papo depois que o rapaz exibiu a minha inicial desenhada com os pelos púbicos que sobraram de uma depilação total. O que era aquilo? Por que? Eu quis saber. Era um F muito bem feitinho logo acima do pinto. O resto era careca. Zero pelos. Ele quis agradar, eu sei. Mas não deu pra sentir tesão diante daquela imagem desoladora, levemente engraçada e totalmente infantil. Seria como fazer sexo com o Mickey Mouse ou, no máximo, com um desses you tubers do Minecraft. Não, obrigada. Não é a minha. Prefiro homens adultos mesmo. Com pentelhos com feromônios, com tudo.>
As pessoas tem o direito de se pendurar em ganchos pela pele, fazer coleção de piercings, tatuar o nome da mãe na testa, dormir em cima de uma cama de pregos, depilar os ovos, a xoxota e tudo mais. Se gostarem, se quiserem assim. Tudo bem. Nada em mim permite sequer pensar em ditar regras sobre o que cada um deve fazer com o próprio corpo. E eu sei que tem gosto pra tudo. Tá tranquilo. No entanto, permaneço intrigada com a associação entre pelos e sujeira. E ainda, confesso, questiono a motivação de quem precisa de genitais completamente depilados, portanto com aparência infantil, para fazer algo que deve acontecer somente entre adultos. Uma viagem? Talvez. Loucura minha pensar que há uma nuance de pedofilia nisso? Normal rejeitar a ideia se você não sabe o quanto o inconsciente pode reinar em alguns aspectos das nossas vidas. Desculpa aí.>
Genitais saudáveis e limpos, naturalmente cheiram bem. E os pelos estão lá para, entre outras funções, espalhar esse cheiro bom. Há relatos de que prostitutas antigas tinham o hábito de inserir o dedo na vagina e depois espalhar o próprio fluido atrás das orelhas e entre os seios. Um perfume, vejam bem. Um atrativo para os homens. E para outras mulheres, se for o caso. Um cheiro único, pessoal e intransferível como cada impressão digital. Elas sabiam das coisas.>
Não há nada de nojento nisso. Não há nada de feio em mulheres e homens que tem pentelhos. Não é ruim parecer um adulto quando se é um adulto. Pelos não são coisas sujas que satanás colocou no nosso caminho para fazer com que a gente tenha que adiar um encontro porque a depiladora não tinha um horário disponível. A gente pode brincar do que quiser (até de desenhar iniciais nas partes íntimas, se não for pra transar comigo), mas ninguém merece continuar acreditando que é normal ter que urbanizar as partes íntimas cada vez que vamos tirar a roupa com alguém. Não. Ninguém é obrigado. Os pentelhos são legais, podem ser cheirosos, bonitos e não precisam ser, todas as vezes, barrados na festinha.>