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Flavia Azevedo
Publicado em 13 de março de 2025 às 18:23
A campanha anti-peles tem o marco zero em 2018, quando a London Fashion Week foi a primeira semana de moda no mundo a banir peças de roupas confeccionadas com peles de animais. De repente, lá na Inglaterra, surgiu um conceito que envolveu todas as marcas: “é cafona e cruel se vestir com bichos mortos”. No auge do veganismo (que ganha força global nos anos 2000), essa foi uma onda tão forte que não só o material - mas também a estética do “casaco de pele” - caiu na desgraça mais absoluta. De "chique", passou a ser vergonhoso usar. Corta para 2025. Em artigo publicado no The Guardian, a editora de moda Ellie Violet Bramley anuncia a ressureição dos casacos de pele nas passarelas e vitrines das marcas mais famosas do planeta. >
Sim, a predominância (ainda) é de material sintético imitando couros e pelos, na tendência já pode ser observada em “dicas” para o próximo inverno, também no Brasil. Até aí tudo bem? Talvez. Mas, junto com a volta dessa estética, chegou um inusitado interesse da geração Z (pessoas entre 15 e 28 anos) por casacos de pele. Só que verdadeiros. Números de acessos e buscas no Tik Tok e no Google, por exemplo, mostram que os “filhos” da geração vegana pensam de forma bem diferente do que seus pais esperavam, precisamente no que diz respeito a bom gosto e sustentabilidade.>
No TikTok, as visualizações de vídeos sobre casacos de pele verdadeira aumentaram em 243%, em 2024. Já as pesquisas no Google por “casacos de pele vintage” aumentaram 688% desde janeiro de 2023. Considerando o público principal das ferramentas, há o consenso de que é a geração Z que está impulsionando a tendência. Mas por que? De acordo com Ellie, “há muito o que desempacotar”. Um dos fatores é que “agora, muitos consumidores — talvez particularmente os mais jovens — são educados o suficiente para saber que as coisas falsas são, em geral, feitas de plástico. Então, as peles vintage recuperaram a moral, dissipando um pouco o estigma”.>
Além do sofrimento animal, os críticos ao uso de peles argumentam que todo o processo de tratamento do material é insustentável. Por exemplo, para que a pele não apodreça, é preciso prepará-la com produtos químicos prejudiciais ao meio ambiente. Além disso, os processos de tingimento têm grande consumo de água. Barrar essa cadeia produtiva e criar alternativas à ela, foi a luta vencida pela geração que nasceu entre 1980 e 2000. Pessoas fortemente ligadas às questões de sustentabilidade, que apostaram nas opções sintéticas. Naquele tempo, não imaginávamos que estaríamos “despindo um santo para vestir outro”. >
Só que a vida, como sempre, "mudou as perguntas". A geração Z sabe que, nos últimos anos, a “imortalidade” do sintético virou um grande problema. Também que, mesmo poupando os bichinhos, a indústria da moda continua sendo uma das mais poluentes do mundo e que agora não sabemos como resolver mais uma questão: os desertos de lixo produzido pelo descarte de roupas (sintéticas) produzidas pela fast fashion que dominou os guarda-roupas das pessoas comuns. Quem acha que moda é só frivolidade, quem não percebe a escolha de peças e estilos como um diálogo entre humanos, pode não estar entendendo, ainda, o naipe das respostas dessa nova geração. >