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“Todo banheiro público masculino tem assédio sexual”, disse meu amigo

Enquanto discutem como classificar pessoas (sexo biológico ou identidade de gênero?) para decidirem que banheiro devem usar, provam o quanto são especialistas em fugir de temas centrais, desconsiderar soluções eficazes e deixar crianças e adolescentes ao deus dará

  • Foto do(a) author(a) Flavia Azevedo
  • Flavia Azevedo

Publicado em 19 de maio de 2025 às 19:37

Banheiros masculinos
"Banheirão" Crédito: Shutterstock

Por @flaviaazevedoalmeida

Nunca vi cena de sexo explícito em qualquer banheiro público feminino. Jamais, em momento algum, fui assediada por qualquer mulher dentro de banheiro seja de shopping, aeroporto, rodoviária, faculdade, restaurante ou boteco e isso prova que é humanamente possível conviver, nesses ambientes, com civilidade. Por outro lado, muito cedo conheci o significado da expressão "fazer o banheirão", que se refere ao popularíssimo “esporte” masculino de transar em banheiros de shoppings, mercados, estações de metrô, aeroportos, rodoviárias e outros pontos de transporte coletivo. É proibido, sabemos. Só que acontece muito, claro. Além de homens assumidamente gays, o “banheirão” também atrai “pais de família” e/ou homens casados com mulheres, que usam a "praticidade" desses espaços para viver o homo erotismo em sigilo. Mas o que eu tenho a ver com isso, afinal?

Até me tornar mãe, pensava que nada. E continuei sem pensar no assunto durante toda a primeira infância do meu filho. Eu achava até curioso que existissem os “banheirões” preferidos de alguns conhecidos que podiam ir ao shopping e, depois do cinema, dar uma transada. Não entendia como problema, até que meu filho ficou grande demais pra entrar comigo em banheiros femininos. Porém, ainda era uma criança. Aí, um novo medo foi inaugurado e muito xixi dele foi feito em garrafas plásticas, "pra evitar". Em seguida, ele era um pré-adolescente. Agora, é um adolescente e, volta e meia, a depender do ambiente, me coloco na porta do banheiro público masculino, observando o fluxo, falando alto, deixando claro pra todo mundo que ali tem uma mãe pronta pra fazer um grande escândalo, no caso de qualquer comportamento inapropriado com o garoto que entrou pra fazer xixi e quer sair em paz.

(Sim, é constrangedor, mas muita mãe faz igual.)

(Expor menores a cenas de sexo também é crime, saiba.)

Pode ser que o assunto não esteja no seu radar, mas esse é um medo comum de mulheres, especificamente das que criam e/ou circulam sozinhas com garotos sob seus cuidados. Nunca saiu da minha cabeça a agonia daquela mãe, na rodoviária de Salvador. Ela e o filho de 12/13 anos faziam uma longa viagem. Na parada, ela tentava entrar no banheiro feminino com o menino. “A gente precisa tomar banho”, ela dizia. A porteira só permitia a entrada dela, o filho deveria usar o masculino. Terror e pânico, óbvio. Tanto que ambos preferiram seguir viagem sujos mesmo. Eu também preferiria. Basicamente, porque o assédio de homens a meninos existe, é frequente, causa grandes estragos e se a gente não fala mais sobre isso é porque a masculinidade ainda é construída sobre muitos silêncios, vergonhas e perversos pactos coletivos. Eles - os adultos - sabem que rapazinhos dificilmente denunciam esses casos.

As histórias são muitas, assim como os clássicos personagens. O “manja rola”, por exemplo, é entidade famosíssima onipresente e, em outros tempos, já dei muita risada com histórias de amigos envolvendo esses que são os primeiros a entrar e os últimos a saírem dos banheiros.  Ficam por lá, encostados. Também aprendi os códigos que homens usam para se mostrarem disponíveis ou indisponíveis a abordagens. Entre adultos, eles que se entendam. Porém, as “instruções” também precisam ser repetidas aqui e em muitas outras famílias: “use a cabine, não encare ninguém, qualquer coisa saia do banheiro imediatamente”. Veja a loucura que é precisar instruir desse modo meninos que frequentam esses ambientes impróprios, porém necessários. Porque são garotos – e não garotas – a gente deve "deixar pra lá"? A altíssima insalubridade é tacitamente tolerada? Esse assédio faz parte da formação do “homem tradicional”? Esse ambiente hostil é pra gente achar normal?

Não acho e, conforme sabemos, eles não vão se educar. Aí, fico pensando que, enquanto tantas cabeças discutem como classificar pessoas (sexo biológico ou identidade de gênero?) para decidirem que banheiro devem usar, provam o quanto são especialistas em fugir de temas centrais, desconsiderar soluções eficazes e deixar crianças e adolescentes ao deus dará. Também já me perdi no caminho. Hoje, tenho certeza de que banheiros públicos precisam ser unissex e  INDIVIDUAIS, com porta e tranca. A área das pias bem exposta, em espaço de circulação comum. É derrubar as paredes, principalmente. Perfeito para acabar com a discussão de gênero envolvendo onde atender necessidades fisiológicas e, principalmente, para proteger meninos de comprovadíssimas violências sexuais.

“Todo banheiro público masculino tem assédio”, disse meu amigo. Sim, essa é a mais pura verdade, confirmada por outros tantos homens, desde que me entendo por gente. A arquitetura até favorece, ou pelo menos eu  nunca consegui entender o conceito de “mictório”, mobiliário que sugere a exposição de paus. Nada contra qualquer tipo de sexo consensual. Inclusive acho ótima a existência de saunas exclusivamente masculinas e quetais. São lugares apropriados para farras coletivas sexuais. Normal. Mas nos banheiros masculinos entram crianças e adolescentes desacompanhados e assédio não pode ser considerado um "rito de passagem" natural. De toda a discussão sobre banheiros, esse é o ponto mais importante. Eu acho.

(“Ah, mas tem o banheiro de família”, você pode retrucar. Em quantos lugares eles existem, amizade? Não, não venha com esse papo.)