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Flavia Azevedo
Publicado em 29 de julho de 2025 às 11:34
Estranhei a escalação de Paolla Oliveira para o papel de Heleninha Roitman na nova versão de Vale Tudo. Na novela, Ivan se casa por interesse financeiro com a herdeira de Odete. Agora, no remake, a escolha da atriz fragilizaria essa premissa, em minha opinião. Afinal, como alguém casaria apenas “por interesse” com uma mulher tão linda, simpática e gostosa? Se Renata Sorrah - a atriz que interpretou Helena nos anos 1980 - estava mais para “exótica”, Paolla é unanimidade. Qualquer um tombaria envolvido pela mais sincera fascinação, transformando a herança milionária em consequência e o alcoolismo - que seria o maior problema da personagem - em questão perfeitamente administrável. Pois errei, fui moleca e superficial. Fato é que Paolla está feia, repulsiva e insuportável. >
Heleninha dando escândalo porque Ivan foi embora
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Não me lembro dos detalhes da personagem décadas atrás, mas o problema não é “só” o alcoolismo nessa nova versão. A Heleninha de Paolla Oliveira é a encarnação da baixa autoestima e da dependência afetiva. Ela é espectro de gente, quase um nada. No máximo, um espírito obsessor. Você pode dizer que “é tudo parte da mesma doença”, “ela é vítima”, “a culpa é de Odete” ou usar qualquer outro argumento que tire Helena do lugar de sujeito da própria vida - como agora gostam de fazer diante de pessoas que sofrem com distúrbios psíquicos, em qualquer nível e intensidade. Eu sei, é um caminho confortável. Mas pense comigo: se a pessoa não tem responsabilidade sobre si mesma, se é inimputável, muda o rumo da prosa. Porém, se pode responder pelos próprios atos, tem que fazer isso em todos os âmbitos da vida. Não há meio termo, e essa é a lei, não apenas minha opinião.>
O que eu sei é que, agora, sinto pena de Ivan. E veja que é raro (raríssimo!), no tema “relacionamento”, eu ter pena do macho humano padrão. “Mas Ivan é um bosta”, você pode estar pensando. Sim, ele é. Só que, independente, irmão: não há quem aguente aquilo. “Ela me sufoca aqui na minha casa”, disse minha amiga Thici. “Não há quem suporte uma Heleninha Roitman”, concluiu meu namorado, com toda a razão. E eu fiquei impressionada com o fato de que Paolla Oliveira ficou feia - pra não dizer horrorosa - e isso é uma lição. Não há bunda, cabelo, samba no pé, sorriso, maquiagem nem tônus muscular que sustente a beleza de uma pessoa que gruda, rasteja e implora por atenção. Não há nem sexo sensacional, repertório cultural, conhecimento geral e, por fim, dinheiro que faça alguém suportar um peso desse tamanho.>
O comportamento molda o corpo. Vale a pena observar o trabalho competente de Paolla Oliveira que - agora entendo - é perfeita para demonstrar o fenômeno. Conforme a personagem “esquenta” na obsessão por Ivan, a expressão facial, os gestos, a postura corporal, tudo vai mudando e me fazendo lembrar pessoas que já conheci. O corpo é “saco vazio”, amassado. É tudo fora, é tudo o outro. A trend “perde o brilho” está toda ali. É deprimente, feio, sufocante. Causa repulsa alguém que joga todas as âncoras em terceiros e nenhuma dentro de si. Se você observar direitinho, vai ver que a carne se transforma. A gente muda de opinião sobre a aparência da pessoa conforme vai conhecendo, até enjoar do cheiro, dos passos, da voz. Tenho verdadeiro pavor de gente assim.>
O espírito “Heleninha” incorpora em homens e mulheres, preste bem atenção. Na vida real, você tá ali só querendo um dengo, um romance ou um sexo sem maiores implicações e, de repente, se vê em um enredo de culpas e manipulações. É que, ao se acomodarem no papel de vítimas, essas criaturas distribuem, para todos que estão por perto, papéis de vilões. Para isso, basta que não tenham controle do outro e não recebam total e absoluta devoção. “Deprimi porque meu marido não me ama”, “bebo porque minha mãe me bateu quando eu era criança”, “tenho problemas de autoestima porque sofri bullying na adolescência” e outras frases do tipo podem até refletir verdades, mas, na mão dessas pessoas, são instrumentos de manipulação.>
Em diferentes níveis, todos nós temos traumas e problemas. O humano cem por cento saudável - física ou emocionalmente - só existe na ficção. De todo modo, seja qual for a dor, convocar todo mundo para nossa pessoal “reparação” será sempre um chamado não atendido. Portanto, não é solução. “Heleninhas”, de qualquer gênero, não precisam de romances, mas de reabilitação. Principalmente, precisam de uma reconstrução da ética e do respeito ao próximo, esses conceitos que costumam atropelar, já que, no fim das contas, só pensam nas próprias demandas.>
Todos nós já encontramos uma "heleninha". A não ser que você seja a própria, também certamente já teve - ou terá - o desprazer. Nas minhas vezes, funcionou fechar a porta, ficar indisponível, dizer não, sumir. Gente mimada, egocêntrica, que usa doenças pra manipular pessoas, que se exploda bem longe de mim. Recomendo a técnica. Se precisar, experimente por aí.>