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Da Redação
Publicado em 11 de fevereiro de 2016 às 05:00
- Atualizado há um ano
Carnaval de Olinda. Entre becos e ladeiras, um símbolo de baianidade já é o suficiente para o cidadão virar celebridade mais instantânea que participante de BBB. O turbante dos Filhos de Gandhy na cabeça indica aos olindenses: tem baiano na folia pernambucana. E isso é tudo.
A aproximação é inevitável, assim como a “constatação” disfarçada de pergunta: “Baiano, você veio de Salvador pra cá no Carnaval, tá gostando mais de qual?”. O sujeito mal consegue responder antes que o interlocutor mostre uma das principais características do povo pernambucano: acreditar que tudo lá é o maior e/ou melhor do Brasil, da América Latina, do mundo... Serve, por exemplo, para salientar que o aeroporto dos Guararapes tem a maior pista de pouso e decolagem do Nordeste.
Essa megalomania desenfreada ou autoestima inabalável é, ao mesmo tempo, a virtude mais interessante e o defeito mais marcante de um povo encantador também pela simpatia, simplicidade e hospitalidade. A resposta do baiano não importa. Se disser que prefere o Carnaval de Salvador, falou porque não quer dar o braço a torcer. Se gostou mais de Olinda, é a prova inconteste do que todo pernambucano já sabe, mas é sempre bom ouvir. Se ficar em cima do muro, o nativo derrama o argumento de que a folia de lá é bem melhor porque é gratuita. Pois é. Por um desconhecimento natural a quem nunca fez a curva do Sulacap nem atravessou o Barra-Ondina, muito turista tem a visão de que o Carnaval de Salvador só acontece nos blocos e camarotes. E é inútil, com latão Skol a três por R$ 10, tentar explicar o contrário a um competidor nato - porque se o nordestino é antes de tudo um forte, o pernambucano é antes de tudo um competidor.
Só que é Carnaval, e esse papo de melhor festa não dura mais que dois minutos. Obviamente, também não chega a conclusão alguma, nem pretendia chegar, até porque, se existe melhor Carnaval, é só na opinião de cada um. O pernambucano enche o copo do baiano, da mulher do baiano, mais um filho de Gandhy surge, e lá vem outro bloco atrás. É o bloco do Santa Cruz trazendo uma enorme cobra coral fictícia carregada na cabeça pelos filiados. Eis que um outro pernambucano ao lado aponta o escudo do Náutico no short e, a essa altura, o papo já é futebol.
Torcedor do Santinha avisa que domingo tem jogo contra o Bahia no Arruda, pela primeira rodada da Copa do Nordeste, e lembra que eles agora são Série A – muito por terem vencido o Bahia na Fonte Nova, na reta final da Série B 2015. O do Náutico fica calado. Então líder do Campeonato Pernambucano, ele não tem muito o que falar numa terra de três times grandes em que os dois rivais estão na primeira divisão e ele na segunda.
O futebol é tão incrível que inverte a relação. O pernambucano, em geral, acompanha o futebol nordestino mais do que o baiano. Nesse ponto, somos nós os dotados da certeza de superioridade típica de Pernambuco que nos faz acreditar que Bahia e Vitória têm a obrigação de ganhar a Copa do Nordeste todo ano. Lá o olhar é diferente, e é consenso que se deve ter muito mais respeito pelo Bahia do que por Corinthians, São Paulo ou Flamengo (neste caso, a rixa com o Sport influencia). Há um sentimento de pertencimento ao Nordeste maior do que aqui, onde talvez resista a herança de ter integrado, até 1969, a extinta região Leste com Sergipe, Rio, Minas e Espírito Santo.
Sábado começa o Nordestão, nossa querida Lampions League, e o Vitória está fora por ter ido mal no estadual do ano passado, assim como o Náutico. Temos Vitória da Conquista, Juazeirense e Bahia, forte candidato ao título. Mas convém se sentir um pouco mais nordestino e respeitar Sport e Santa Cruz.
*Herbem Gramacho é editor de Esporte e escreve às quintas-feiras.