A esperança é um peso no coração

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  • Kátia Borges

Publicado em 13 de outubro de 2018 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Revisitando o folclore de um trava-línguas, em 1940, Manuel Bandeira escreveu o Rondó do Capitão, que, em agosto de 1973, o grupo Secos & Molhados incluiu no seu primeiro álbum, lançado pela gravadora Continental. Nele, o poeta pede em versos que o livrem da esperança, pois “peso mais pesado não existe, não”. Mas é bem ali, no coração, que ela reside, que ela resiste, ironicamente é leve, aérea e verde.

O Rondó, como se sabe, é uma peça musical e também poética. Entre uma e outra, a composição se equilibra. Seja em formas fixas, com versos de oito ou dez sílabas em duas rimas. Seja na melodia, último movimento da sinfonia ou da sonata. Trava-línguas é um jeito nordestino de ensinar as crianças a pronunciarem com clareza as palavras. As frases são ordenadas de modo a treinar a sintonia entre o que se pensa e o que se fala.

Publicado no livro Lira dos Cinquent’anos, o poema de Manuel Bandeira voou levado pelo Tempo, qual o inseto noturno e verde que se esconde entre as folhas e, assim, consegue proteger-se. Pois. Lá adiante, três décadas adiante, eis que a esperança pousa na música de João Ricardo, eis que renasce na voz de Ney Matogrosso. Aparentemente frágil, ela tem essa força. Dura apenas um verão seu ciclo de existência.

No entanto, sempre que chega o Outono, antes que desapareçam para sempre, elas põem seus ovos. Assim nascem as ninfas, que representam a primeira infância das esperanças. Na Primavera, são as ninfas que emergem, sustentando estridentemente a vida musical na floresta, um pequeno coral verde que se ergue no silenciamento noturno das cigarras. A noite inteira as esperanças cantam.

Poucos sabem das asas fortes que as sustentam, em voos que podem alcançar quilômetros. Sua morte, dizem, é mau presságio. Sua visita empresta sorte a quem a traz no peito.