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A comida do fim do mundo

Armazenar kit de comida de emergência de longa duração tem se expandido em vários países

Publicado em 6 de julho de 2025 às 05:00

É tanta fé em Deus, e alienação por conseguinte, que ninguém quer falar sobre os efeitos das guerras mundanas, em curso e porvir, em nossas vidas sulamericanas.

É credo em cruz, deus é mais, pé de pato mangalô trêis veiz, disconjuro, fala não que atrai, a palavra tem força, lá ela! - como se já não estivéssemos sofrendo impactos das guerras em curso no prato à mesa.

Como se a fome estivesse muito mais distante do que a marquise mais próxima; como se a terra estivesse sã, e a natureza berço esplêndido.

Oxalá, essas palavras amiúde lembradas aqui, não passem de um convite a um olhar mais franco da realidade, mas e se?

ATÉ QUE NEM TANTO

HIPOTÉTICO ASSIM

E se, somente se, o ar ficar irrespirável, o calor insuportável, a pouca água poluída, e a comida extremamente escassa por aqui também? É tão difícil de imaginar? Haverá um domo de cristal a nos proteger desta escalada diária bem diante dos nossos olhos?

Entre as guerras "dos outros" e os berros da crise climática, eu não sei você, mas eu penso e muito na comida do fim do mundo.

MAS AFINAL QUE

MENU É ESSE?

Bunker food ou Emergency Food Supply, por exemplo, que são kits de MRE (Meal Read to Eat), muitas vezes vendidos em baldes, como este da foto. Tudo em inglês porque o plano é que a indústria americana nos alimente até o derradeiro suspiro.

Aliás, armazenar esse tipo de kit de comida de emergência de longa duração - um hábito entre os americanos que a encontram facilmente nos setores de camping dos mercados - tem se expandido para outros países como França, Suécia, Finlândia, Reino Unido e Alemanha entre outros países europeus.

Os baldes de rações de emergência (o nome é esse mesmo, não é licença poética) tanto podem ser individuais contendo três refeições diárias para períodos que variam em quantidade de semanas, como podem conter 120 porções de refeições desidratadas aleatórias de até 13 "deliciosas" opções - como estrogonofes, lasanhas e risotos - com validade de até 30 anos (!), que você hidrata com água natural mesmo se não tiver fogo e nem energia. Se sobreviver à guerra terá também que sobreviver ao cancêr.

DA REDAÇÃO AO

SOBREVIVENCIALISMO

"Não comprometa o sabor durante as emergências. Todo prato é criado à partir de ingredientes reais garantindo uma experiência gourmet mesmo em terríveis circunstâncias" - diz a fabricante americana de baldes de ração ReadyWise no descritivo do produto nas maiores plataformas de e commerce, pela bagatela de mil e trezentos conto'.

A redação de extremo mal gosto e tão sob medida do pessoal do marketing do fim, faz a voz de Michael Pollan dizendo "não acredite em comida que não apodreça" ecoar cada vez mais distante; ao passo que a de Ignácio de Loyola Brandão profetizando a compra de cheiros de chuva, terra molhada, flores e comida de verdade em frascos, cada vez mais próxima da realidade.

Mas na contramão do capitalismo do último suspiro há movimentos sobrevivencialistas mais humanizados. São os Preppers (inclusive no Brasil, veja nos destaques ao lado), redes de pessoas de todo canto do mundo comprometidas com a preparação para cenários de desastres naturais, escassez de alimentos e recursos financeiros, e defesa contra agentes ameaçadores da dignidade humana.

Há vasta literatura sob as hastags #sobrevivencialismo e #prepper, inclusive da brasileira Claudia Lobo em seu COMIDAS DE EMERGÊNCIA - onde ensina técnicas simples (muitas vezes ancestrais) e econômicas de conservação caseira de alimentos para longos períodos sem refrigeração – e que também cito aqui nos destaques da coluna.

Sem mais para o momento, e você, já pensou no menu do amanhã?

Katia Najara é cozinheira livre, consultora e gestora executiva em projetos gastronômicos @katia_najara