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Manifesto de empatia com 18 dicas de como se comportar em um restaurante
Colunista Kátia Najara
Publicado em 15 de outubro de 2023 às 05:00
PRELÚDIO EM PRIMEIRA PESSOA
Viver para mim é melhorar. E quando eu digo melhorar não estou nem falando de melhorar de vida - que está sempre no plano, lógico. Falo de melhorar como gente mesmo. Viver e aprender a jogar, controlar os impulsos, medir a força, a palavra, cultivar todos os dias os bons modos e o necessário respeito a tudo e todos, resguardar-me, educar-me. E o mais difícil para ser feliz, que é não esperar nada em troca. Ui!
Sou budista? Não. É difícil? É. Foi sempre assim? Não. Não recebi essa educação e para acabar de completar ainda nasci metade cavala com o Sol em Sagitário no meio do céu. Foi uma chiqueza adquirida ao longo da vida. Tive que viver para aprender. Inflar as veias da garganta, cuspir fogo, incinerar coisas e valer-me de losartana potássica para controlar a pressão arterial nas picas. Tudo isso para poder depois me afastar e enxergar o rastro dos meus incêndios, morrer de vergonha de mim mesma, juntar meus caquinhos, colar com ouro, e seguir viagem para paragens mais tranquilas, suaves, de-li-ca-das (mesmo com a Vênus exilada).
E quando dei por mim não tinha mais volta. Deixei para trás a cidade em chamas que até então habitara e passei a encantar-me com águas que caem do céu, asas caleidoscópicas de borboletas, com as camadas de ruídos que o vento trás, e o que acontece quando ele (o vento) atravessa as árvores e o (meu) corpo. Atentei para a vida e mudei, não assim de repente, a intenção e direção do espírito.
MANIFESTO EU-CLIENTE
Clientes de restaurantes, por mais mal-educados que sejam podem tudo, afinal “o cliente tem sempre razão” – essa fabulação ridícula reproduzida pelos próprios empresários por força das circunstâncias e estratégias de boas relações com estes que trazem na carteira a subsistência de seus estabelecimentos.
Mas não é porque “eu tô pagando” que posso me comportar ali como quem transita num “estado na natureza” (beijo Hobbes), e ao longo de tantos anos frequentando restaurantes, tanto nos bastidores administrativos, quanto pelas cozinhas e salões, fui estabelecendo os meus próprios códigos de comportamento como cliente, que procuro seguir à minha própria risca, e à medida do possível. E é tomada por um espírito de enorme empatia às pessoas donas de restaurantes que venho compartilhar esse meu manifesto.
1- Só vou se tiver dinheiro suficiente para confiar e entregar a experiência nas mãos da pessoa chef de cozinha que escolhi, incluindo as harmonizações; se é para escolher pelo preço, prefiro um restaurante a peso;
2- Não peço para “caprichar”, alterar o prato, dividir em duas porções, e nem mais um pouquinho de nada, a não ser que haja opção de porção extra;
3- Não questiono taxas, sobretudo de rolha (que nem acho uma boa ideia), e se pá ainda dou gorjeta;
4- Não tiro mais foto de prato e morro de vergonha de quando o fazia, mesmo a trabalho; aliás, procuro esquecer o celular hibernando na bolsa, que ele é um falso.
5- Procuro não deixar que o meu perfume, tom de voz e ruído de sapatos interfiram nas experiências alheias ao meu redor;
6- Respeito as regras de reserva e aceito a mesa que me foi destinada – só não consigo sentar de costas para a entrada, perdoa;
7- Deixo o banheiro sem pistas de que estive ali, como quem comete um assassinato;
8- Olho nos olhos e trato com gentileza as pessoas que me atendem, e não vou embora sem agradecer à equipe de cozinha;
9- Tento fazer contato visual com o garçom para chamá-lo, ainda que demore mais;
10- Se eu tiver alguma queixa procuro fazê-la de forma sutil, fora da mesa, ou de preferência no dia seguinte;
11- Não pego contato nem do melhor garçom das galáxias para um evento meu;
12- Não peço para trocar o som da casa só porque não me agradou – mas posso pedir para abaixar o volume se estiver interferindo na conversa;
13- Só levo quentinhas acima de 300g de restaurante farto esquema família feliz;
14- Divido a conta igual mesmo que não tenha tomado vinho;
15- E por falar em vinho, prefiro parar antes de derrubar a taça sobre a toalha branca;
16- Mesmo que seja pet friendly prefiro não levar minha cachorra por um simples fato: ela late;
17- Não comemoro aniversário em restaurante para não correr o risco do coro dos meus parabéns invadir a paz alheia. Levar bolo, nem pensar - seria o equivalente a atropelar a taxa de rolha.
18- Vou e volto de Uber para a felicidade geral da minha nação.
EPÍLOGO
Exagerada para uns, chiquérrima para alguns, chatérrima para outros.
Não é porque eu sou fofinha, perfeita ou mais educada do que ninguém, mas porque acho legaus e chique ser uma pessoa de boas, zero treta, e hoje é assim que eu me sinto feliz e plena como protagonista das minhas próprias experiências.
Dividindo porque... vai que.
Fim.